Os seis domáveis patifes de Guy Ritchie
Agora percebe-se por que não estreia em cinema esta ambiciosa aventura de guerra de Guy Ritchie. Ou seja, visto o filme, percebe-se que o disparate pegado desta variação de Doze Indomáveis Patifes, de Robert Aldrich, e toda a estética dos filmes de guerra desse período, iria ser rejeitado pela sua inépcia, mas também porque, hélas, já não há público para este tipo de cinema de entretenimento que quer contar histórias com fundo histórico e com uma vibração antiquada. A culpa, a bem dizer, é de um sistema que costuma tomar por tansos os espectadores.
Mas é então no streaming que está disponível esta dispendiosa brincadeira que imagina Churchill a aliar-se a Ian Fleming para recrutarem uma equipa de militares com currículo criminal para seguirem em missão até África e boicotar o esforço marítimo alemão na Segunda Guerra. Uma equipa que é liderada pelo comando Gus March-Phillips, o militar que terá inspirado Fleming na criação de James Bond, um vaidoso homem de ação de bigodaça farta e gatilho fácil.
Guy Ritchie filma essa missão com masculinidade tóxica que, hoje em dia, não é nada bem-vista no ambiente woke, mas é o menos grave dos problemas de um filme que tenta ter uma ligeireza de nostalgia do género. É como se fosse um primo muito (mesmo muito) afastado de Sacanas Sem Lei, de Tarantino. Este gangue de militares ainda nos faz sorrir quando, em violência cartoonesca, despacha nazis sádicos e tontos, seja em terra, seja no mar. Mas é um sorriso que se dissipa perante a banalidade dos tiroteios, o exagero das explosões e a lisura da intriga do golpe.
Pelo meio, há um Henry Cavill que parece que está numa audição para ser o próximo Bond (isto se a bitola fosse emular a arte de Roger Moore…) e uma banda-sonora que, às vezes, funciona pela sua destreza jazzística. É pouco, poucochinho, longe daquilo que Ritchie já nos habitou nos seus melhores dias, de Snatch - Porcos e Diamantes a Revólver, e The Gentlemen - Senhores do Crime.
E o que mais irrita é todo um festival de tonteira a descrever os bastidores das estratégias militares de Churchill (e aí o pobre Rory Kinnear parece sufocado pela maquilhagem de látex, o pobre coitado), completamente a vandalizar a pegada de tributo às matinés de Série B deste subgénero de filme de guerra.
Realmente, pena não ser um filme “indomável”. O upgrade para esta contemporaneidade não ajuda nada… Nem isso, nem os habituais acabamentos da fórmula do seu produtor, o infame Jerry Bruckheimer.