A juventude rebelde ocupa o Teatro Nacional D. Maria II
A procura de um país novo, onde tudo está por fazer, enquadra O grande tratado de encenação, em cena a partir de hoje no Teatro Nacional D. Maria II, em Lisboa, evocando a génese do Teatro Experimental do Porto (TEP). Esta é a primeira peça da "Trilogia da Juventude" que a companhia do Porto apresenta em Lisboa, durante este mês, e que também inclui A tecedeira que lia Zola e Maioria absoluta. As três peças vão ser representadas em sequência, na sala Estúdio até ao próximo dia 27.
O grande tratado de encenação, em cena até dia 14, abre o ciclo. Recua aos anos 1950, no Porto. Três jovens projetam a invenção de um país que ainda não existe. Lá fora pressente-se que o mundo se transforma. Cá dentro, discute-se sobre qual a melhor maneira de construir o futuro país ou um novo espetáculo. Com texto de Rui Pina Coelho e Gonçalo Amorim, que também encena, este espetáculo, estreado em abril do ano passado, no Porto, toma por inspiração o Pequeno tratado de encenação, publicado por António Pedro, em 1962, obra que teve um forte impacto no teatro português e na sua modernização, antes do 25 de Abril de 1974.
Nesta peça, três jovens portugueses pensam na melhor maneira de construir um futuro, no país sob ditadura, e na montagem de um novo espetáculo, enquanto no estrangeiro as mudanças continuem a processar-se. Catarina Gomes, Paulo Mota e Sara Barros Leitão protagonizam a primeira peça da trilogia, que tem cenografia e figurinos de Catarina Barros e música de Pedro João.
A tecedeira que lia Zola é a peça que se sucede, e que estará em cena de 18 a 21 de outubro. Fala de Portugal dos anos 1970, dos movimentos revolucionários e dos jovens burgueses que tentavam viver os melhores anos após a Revolução de Abril: juventude, amor, libido e realidade confundem-se e misturam-se com disciplina, regras, capitalismo, clandestinidade e utopia. É uma cocriação de Gonçalo Amorim e Catarina Barros. Interpretada por Bruno Martins, Catarina Gomes, Paulo Mota e Sara Barros Leitão, tem cenografia e figurinos de Catarina Barros, com música de João Pedro. Trata-se de uma produção do TEP com o Teatro Municipal do Porto.
O ciclo encerra com Maioria absoluta, a representar de 24 a 27 de outubro, que descreve a rebeldia dos anos 90 portugueses: a construção das certezas mais absolutas, a escrita de inflamados poemas de amor a musas semanais, a luta contra as propinas, as manifestações dia sim, dia não. Uma época em que "muitos jovens atingiram a maioridade", ao mesmo tempo que lutavam e se desligavam de problemas mais comuns da vida.
No dia 27, haverá sessão tripla com as três peças da trilogia. Nesse dia, as récitas começam às 16:30, decorrendo com duas horas de intervalo a contar do início de cada espetáculo.