Uma peça de porcelana da Dinastia Qing (1644-1911d.C) exibe o dragão imperial, com chifres e cinco garras, distinto do dragão do povo, com menos garras e sem chifres.
Uma peça de porcelana da Dinastia Qing (1644-1911d.C) exibe o dragão imperial, com chifres e cinco garras, distinto do dragão do povo, com menos garras e sem chifres.FOTO: Macao Daily News

O dragão chinês: um totem, uma crença e um símbolo cultural

Os chineses consideram-se descendentes do dragão chinês. O dragão não é apenas um totem da Antiguidade venerado pelos antigos chineses e uma crença popular que se mantém até agora, mas um importante símbolo cultural chinês.
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O dragão chinês é uma criatura lendária, cuja imagem nas obras cinematográficas e televisivas geralmente se traduz num corpo serpentino, coberto de escamas, com chifres, e garras nas quatro patas. Não só é capaz de voar pelos céus, como também pode controlar as nuvens e a chuva.

Existem várias teorias sobre a origem desta criatura lendária. Uma delas é a astrológica, segundo a qual os antigos chineses teriam criado o dragão ao ligar um grupo de estrelas observadas em linha.

Os artefactos com a imagem de dragão, preservados em coleções de museus chineses, entre os quais os dois no cimo, feitos em jade verde no período Neolítico, enquanto em baixo se vê um de cobre com centro de ferro dourado (à dta.) e uma peça de porcelana da Dinastia Qing (à esq.), ilustram a evolução deste símbolo ao longo do tempo. FOTO: Macao Daily News

Outra teoria tem a ver com o relâmpago, do qual o dragão teria derivado, e a chuva que cai a seguir justifica a sua capacidade de controlo da mesma.

Há ainda a teoria da origem animal, que defende que o dragão seria derivado de animais como o crocodilo, a serpente, etc.

Além disso, existe uma versão interessante envolvendo o totem, dizendo que na China Antiga, havia muitas tribos com diferentes animais como seus totens, entre as quais uma que adotara a serpente. Esta conquistou outras tribos e passou a incluir no seu totem os elementos dos das tribos conquistadas, como a cabeça do cavalo, os chifres do cervo e as garras da águia, dando assim origem ao totem do dragão.

A imagem do dragão chinês foi variando nos diferentes períodos ao longo da História. Logo no  Neolítico, já os antepassados chineses veneravam o totem do dragão. Com artefactos como o Biyu long (o dragão em forma de letra C em Jade Verde) com cerca de 5000 anos, descoberto no sítio da cultura Hongshan, na Mongólia Interior, norte da China, fica a saber-se que a imagem do dragão nos tempos antigos era composta por um conjunto de três a quatro figuras de animais, como a cobra, o crocodilo, o cavalo e o porco, etc.

A imagem mostra a túnica de dragão do imperador Qianlong da Dinastia Qing, bordada com nove dragões de cinco garras, usada em ocasiões como aniversários e festivais para mostrar a sua nobreza e majestade. FOTO: Macao Daily News

Durante o período Shang e Zhou (1600 a.C. - 256 a.C.), a imagem do dragão chinês podia ser vista em objetos de bronze e jade, que eram, sobretudo, oferendas rituais ou objetos funerários. Nesta época, as pessoas acreditavam que o dragão tinha a função de ligar o céu, a terra, as pessoas e os deuses, e o seu padrão era feito de linhas abstratas, refletindo principalmente a reverência pelo seu poder misterioso.

No período Qin-Han (221 a.C. - 220 d.C.), a sua imagem era mais concreta e elaborada, e os detalhes do dragão eram mais claros, permitindo uma expressão da sua postura mais vigorosa e majestosa.

Na Dinastia Han (202 a.C. - 220 d.C.), o dragão passou a ser um símbolo do poder imperial, havendo cada vez mais elementos desta criatura lendária a aparecerem na arquitetura dos palácios imperiais.

Já durante as dinastias Sui e Tang (581 - 907 d.C.), devido ao estreito intercâmbio cultural entre o Oriente e o Ocidente, foram introduzidos os pavões, os leões e as chitas na China, que ofereceram mais elementos à imaginação dos chineses além do dragão.

Até às dinastias Yuan, Ming e Qing (1271-1911 d.C.), o padrão de dragão chinês era um privilégio imperial, sobretudo o de cinco garras e dois chifres, enquanto o povo comum, só podia utilizar os padrões quase iguais aos do dragão, mas com apenas três ou quatro garras e sem chifres, para diferenciar-se do utilizado pela corte imperial).

Tanto o budismo, como o taoismo chineses consideram o Rei Dragão como uma divindade, ostentando a cabeça deste ser lendário e corpo humano, que governa os rios e mares, sendo responsável pelo controlo dos ventos e das chuvas, e por assegurar colheitas abundantes.

O dragão é também um importante símbolo cultural chinês. Na Antiguidade, estava ligado ao poder imperial, e o imperador era chamado “Zhen long tian zi” (o filho do verdadeiro dragão), as suas vestes eram designadas por “Long pao” (túnica do dragão), e os utensílios para a alimentação, o vestuário, a habitação e o transporte eram marcados com motivos e decorações de dragão.

Além disso, o dragão chinês simboliza ainda santidade, boa fortuna, autoridade, preciosidade e festividade, o que pode ser evidenciado nas expressões idiomáticas que contêm a palavra “long” (dragão) na língua chinesa. Razão por que os pais usam expressões como “Wang zi cheng long” (esperar que o filho se torne um dragão) para expressar grandes expectativas quanto aos filhos, e “Long ma jing shen” (cheia de vitalidade como o dragão e o cavalo)” utilizada para descrever o espírito positivo de uma pessoa, enquanto “Yu yue long men” (um peixe que salta sobre o portão do dragão, ou fazer um avanço significativo na carreira)”, para descrever uma subida de carreira ou de estatuto de uma pessoa.

2024 é o Ano do Dragão no zodíaco chinês. Em fevereiro deste ano, as pessoas usaram toucados de dragão para celebrar o Ano Novo num parque em Recife, no Brasil. FOTO: Macao Daily News

Ao contrário do dragão da lenda Ocidental, que é frequentemente retratado como um monstro que cospe fogo, rapta princesas e guarda tesouros, o dragão chinês é um símbolo de boa sorte e do poder, o que se pode constatar na Dança do Dragão durante os festivais tradicionais e na corrida de barcos de dragão durante o Festival de Duan Wu  (Festival do Barco-Dragão).

O caráter dragão em chinês lê-se ou pronuncia-se como “long” em inglês, e com a popularização da língua chinesa no mundo, cada vez mais pessoas utilizam o termo “Loong” quando se fala do dragão chinês.

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