O dragão chinês: um totem, uma crença e um símbolo cultural
O dragão chinês é uma criatura lendária, cuja imagem nas obras cinematográficas e televisivas geralmente se traduz num corpo serpentino, coberto de escamas, com chifres, e garras nas quatro patas. Não só é capaz de voar pelos céus, como também pode controlar as nuvens e a chuva.
Existem várias teorias sobre a origem desta criatura lendária. Uma delas é a astrológica, segundo a qual os antigos chineses teriam criado o dragão ao ligar um grupo de estrelas observadas em linha.
Outra teoria tem a ver com o relâmpago, do qual o dragão teria derivado, e a chuva que cai a seguir justifica a sua capacidade de controlo da mesma.
Há ainda a teoria da origem animal, que defende que o dragão seria derivado de animais como o crocodilo, a serpente, etc.
Além disso, existe uma versão interessante envolvendo o totem, dizendo que na China Antiga, havia muitas tribos com diferentes animais como seus totens, entre as quais uma que adotara a serpente. Esta conquistou outras tribos e passou a incluir no seu totem os elementos dos das tribos conquistadas, como a cabeça do cavalo, os chifres do cervo e as garras da águia, dando assim origem ao totem do dragão.
A imagem do dragão chinês foi variando nos diferentes períodos ao longo da História. Logo no Neolítico, já os antepassados chineses veneravam o totem do dragão. Com artefactos como o Biyu long (o dragão em forma de letra C em Jade Verde) com cerca de 5000 anos, descoberto no sítio da cultura Hongshan, na Mongólia Interior, norte da China, fica a saber-se que a imagem do dragão nos tempos antigos era composta por um conjunto de três a quatro figuras de animais, como a cobra, o crocodilo, o cavalo e o porco, etc.
Durante o período Shang e Zhou (1600 a.C. - 256 a.C.), a imagem do dragão chinês podia ser vista em objetos de bronze e jade, que eram, sobretudo, oferendas rituais ou objetos funerários. Nesta época, as pessoas acreditavam que o dragão tinha a função de ligar o céu, a terra, as pessoas e os deuses, e o seu padrão era feito de linhas abstratas, refletindo principalmente a reverência pelo seu poder misterioso.
No período Qin-Han (221 a.C. - 220 d.C.), a sua imagem era mais concreta e elaborada, e os detalhes do dragão eram mais claros, permitindo uma expressão da sua postura mais vigorosa e majestosa.
Na Dinastia Han (202 a.C. - 220 d.C.), o dragão passou a ser um símbolo do poder imperial, havendo cada vez mais elementos desta criatura lendária a aparecerem na arquitetura dos palácios imperiais.
Já durante as dinastias Sui e Tang (581 - 907 d.C.), devido ao estreito intercâmbio cultural entre o Oriente e o Ocidente, foram introduzidos os pavões, os leões e as chitas na China, que ofereceram mais elementos à imaginação dos chineses além do dragão.
Até às dinastias Yuan, Ming e Qing (1271-1911 d.C.), o padrão de dragão chinês era um privilégio imperial, sobretudo o de cinco garras e dois chifres, enquanto o povo comum, só podia utilizar os padrões quase iguais aos do dragão, mas com apenas três ou quatro garras e sem chifres, para diferenciar-se do utilizado pela corte imperial).
Tanto o budismo, como o taoismo chineses consideram o Rei Dragão como uma divindade, ostentando a cabeça deste ser lendário e corpo humano, que governa os rios e mares, sendo responsável pelo controlo dos ventos e das chuvas, e por assegurar colheitas abundantes.
O dragão é também um importante símbolo cultural chinês. Na Antiguidade, estava ligado ao poder imperial, e o imperador era chamado “Zhen long tian zi” (o filho do verdadeiro dragão), as suas vestes eram designadas por “Long pao” (túnica do dragão), e os utensílios para a alimentação, o vestuário, a habitação e o transporte eram marcados com motivos e decorações de dragão.
Além disso, o dragão chinês simboliza ainda santidade, boa fortuna, autoridade, preciosidade e festividade, o que pode ser evidenciado nas expressões idiomáticas que contêm a palavra “long” (dragão) na língua chinesa. Razão por que os pais usam expressões como “Wang zi cheng long” (esperar que o filho se torne um dragão) para expressar grandes expectativas quanto aos filhos, e “Long ma jing shen” (cheia de vitalidade como o dragão e o cavalo)” utilizada para descrever o espírito positivo de uma pessoa, enquanto “Yu yue long men” (um peixe que salta sobre o portão do dragão, ou fazer um avanço significativo na carreira)”, para descrever uma subida de carreira ou de estatuto de uma pessoa.
Ao contrário do dragão da lenda Ocidental, que é frequentemente retratado como um monstro que cospe fogo, rapta princesas e guarda tesouros, o dragão chinês é um símbolo de boa sorte e do poder, o que se pode constatar na Dança do Dragão durante os festivais tradicionais e na corrida de barcos de dragão durante o Festival de Duan Wu (Festival do Barco-Dragão).
O caráter dragão em chinês lê-se ou pronuncia-se como “long” em inglês, e com a popularização da língua chinesa no mundo, cada vez mais pessoas utilizam o termo “Loong” quando se fala do dragão chinês.
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INICIATIVA DO MACAO DAILY NEWS