O caso Anthony Hopkins

Os Óscares que causaram mais impacto foram os dos atores principais. Anthony Hopkins e Frances McDormand não eram propriamente favoritos declarados. Mas a ausência do ator galês não deixou de ser um balde de água fria.
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Foi ontem o assunto mais comentado na ressaca dos Óscares: Anthony Hopkins e a sua ausência dos Óscares. De alguma forma, a decisão da organização em colocar para último o prémio de melhor ator originou um embaraço, ou seja, quando se esperava que a sala se emocionasse com o discurso da viúva de Chadwick Boseman e houvesse um momento emocional de homenagem, o anticlímax quando Joaquin Phoenix disse "e o Óscar vai para Anthony Hopkins".

Percebe-se que, num gesto para garantir audiências mais fortes, esta ideia de privilegiar os atores e colocá-los antes da categoria de melhor filme tivesse alguma lógica, mas pior resultado era impossível... Ontem, já de manhã, nas redes sociais de Hopkins, chegava o seu discurso sincero e aí percebia-se que o ator não estava nada à espera do segundo Óscar. Aos 83 anos, Hopkins acabou por não viajar até Londres onde estavam Gary Oldman (nomeado por Mank) e Olivia Colman (nomeada por O Pai) num auditório do London Film Institute. Não viajou porque não acreditava na vitória e pelas preocupações da covid. Mesmo assim, depois da nomeação no ano passado por Dois Papas e onde também se sentiu a sua ausência, as más-línguas especulam que a Academia começa a não impressionar os atores de maior peso. Obviamente, trata-se de uma teoria da conspiração, mesmo se atendermos a que Hopkins esteve virtualmente na cerimónia dos BAFTA, onde venceu. Mas será mesmo surpreendente a sua vitória? Por um lado sim, sobretudo quando Chadwick Boseman estava a vencer os principais prémios da temporada e por ter uma interpretação sublime em Ma Rainey - A Mãe dos Blues. A certa altura, quase até como tributo pelo seu desaparecimento brutal, era um Óscar póstumo que fazia sentido, mesmo quando do outro lado estava Hopkins, memorável como pai a lutar contra a demência em O Pai, adaptação da peça teatral homónima de Florian Zeller. Um competidor que foi ganhando peso nas últimas semanas, não só com o BAFTA mas pelo crescente rumor de que a tendência de voto estava a inverter - a Variety chegou mesmo a adiantar que à ultima hora Hopkins era o favorito.

Uma "surpresa" que não era então tão...inesperada, tal como a outra "surpresa" da noite: o terceiro Óscar para Frances McDormand em Nomadland - Sobreviver na América. Frances estava numa categoria em que Viola Davis tinha um ligeiro favoritismo e em que Andra Day poderia ser um esperado joker. Mesmo Carey Mulligan em Uma Miúda com Potencial tinha um certo potencial, sobretudo pelo lado de "mensagem" deste filme tão feminista. Trata-se então de uma vitória que é tudo menos escandalosa numa categoria verdadeiramente renhida. E Frances é agora a atriz viva com maior currículo nos Óscares (Meryl Streep também tem três Óscares, embora um deles seja como secundária) e é bom lembrar que saiu daquela estação de comboios ainda com uma estatueta extra, o Óscar de melhor produtora, dada a quem está nos créditos do melhor filme.

Neste rol de surpresas importa também falar de uma ausência: a de Os 7 de Chicago, de Aaron Sorkin, porventura o filme que poderia ter batido a sério a supremacia de Nomadland.

dnot@dn.pt

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