Nunca vi isto como um esforço, porque eu sempre gostei do que faço”. Quem o diz é o bailarino Francisco Gomes que, aos 22 anos, trabalha na Companhia Nacional de Bailado (CNB) e interpreta o papel de Pedro da Maia no bailado Os Maias, uma coreografia de Fernando Duarte, o diretor artístico da CNB, baseada no romance de Eça de Queirós, que estará no Teatro Camões, em Lisboa, de 16 a 26 de outubro. .‘Os Maias’: abordagem contemporânea ao bailado narrativo para cativar público . Para Francisco Gomes, o ballet começou cedo. Andava num colégio, quando os pais o decidiram colocar numa atividade extracurricular. “A atividade que havia na altura era o ballet. O meu irmão até nem queria muito, mas a minha mãe disse ‘tenho de te pôr a fazer alguma coisa, por isso vais para o ballet’. E, nesse colégio, dava aulas a professora Annarella Sánchez, que foi quem depois nos levou para a escola dela, porque viu talento em nós. E, a partir daí, eu, desde os meus seis anos até aos dezoito, estudei naquela escola”, relembra o bailarino em conversa com o DN. .Inicialmente, o ballet era apenas um hobby para Francisco Gomes. Participou em competições e ganhou vários prémios. Foi finalista do Prix de Lausanne (2021), vencedor do Grand Prix YAGP (2021), e finalista do Got Talent Portugal (2018). “O ballet exige muita dedicação, muito trabalho, muito esforço, muitas horas. Tive que abdicar de muita coisa, tanto eu como criança, como os meus pais. Nós trabalhamos também por esse reconhecimento, e os prémios fazem parte desse reconhecimento”, explica o bailarino, acrescentando que o primeiro concurso que ganhou foi um concurso de dança em Leiria. “Foram três dias de treino muito puxados. E eu lembro-me que nesse concurso ganhei muita coisa. Foi algo surreal e foi aquela sensação de ‘isto é algo que pode dar muitos frutos’. E comecei a reparar que se me começasse a focar a 100% no ballet, seria realmente algo que podia correr muito bem na minha vida”.Durante a sua infância teve abdicar de algumas coisas para se dedicar ao seu sonho. “Não tinha dias livres. Era o dia inteiro a treinar, o ballet exige muitas horas”. .Foi depois de ter participado no Prix de Lausanne, em 2021, que surgiu o seu primeiro trabalho. Foi para a Austrália para a academia Queensland Ballet, em Brisbane, onde dançou em bailados como Manon e A Bela Adormecida. “Tive outras propostas de trabalho naquela altura, mas fiz a decisão de ir para lá, porque eu queria ter uma experiência nova na minha vida. É uma companhia muito boa e eu passei lá um ano incrível”, relembra o bailarino. Passado um ano, mudou-se para a África do Sul. Este foi um convite da dançarina e professora Debbie Turner para a Cape Town City Ballet, onde dançou papéis principais em bailados como Cinderella, Príncipe Encantado, Bobo, e Les Patineurs. Um problema com o visto foi o que o trouxe novamente a Portugal. “Quando estava em Portugal, a Companhia Nacional de Bailado estava com as audições abertas. Fui numa de ‘vamos conhecer a companhia’”, diz o bailarino, referindo que acabou por ser contratado como solista para CNB. “Vou poder fazer o que adoro no meu país, que adoro. Eu nunca imaginei a minha vida profissional aqui em Portugal. Porque, infelizmente, nós não recebemos a valorização que merecemos. A cultura não tem a valorização que merece”.Neste momento, Francisco Gomes interpreta o papel de Pedro da Maia, que é o pai do Carlos, no bailado Os Maias. Mas desde que entrou na companhia, em 2023, dançou em La Sylphide, no papel principal de James e Gurn, e participou nas produções de Workwithinwork, Upstream, Uprising e Minus 16.O próximo passo que o bailarino pretende atingir é tornar-se bailarino principal da CNB. “Estou muito agradecido por hoje estar aqui na Companhia Nacional. É um sítio que me faz muito feliz. Estou a sentir-me muito valorizado. O próximo passo é tornar-me bailarino principal. É algo com que todos nós bailarinos sonhamos. Tenho muito essa ambição, quero chegar a bailarino principal. Quero dançar muito, e por isso digo que sou agradecido, porque sinto que aqui tenho essa oportunidade. Sonho e luto para ser bailarino principal.”