Novo Vingadores, material para fazer vibrar os fãs
Há exatamente um ano estreava-se entre nós Vingadores: Guerra do Infinito. No final deste anterior capítulo da saga, o supervilão Thanos (de corpo digitalizado, mas com o rosto de Josh Brolin), na posse de um punho de seis pedras cósmicas, dizima metade da população do universo, incluindo alguns super-heróis e, pelo meio, a sua amada filha adotiva, Gamora. Para tal ato, tinha uma justificação muito segura e estranhamente bem-intencionada: tratava-se, segundo diz, de um mero gesto de equilíbrio ambiental necessário à galáxia. Um argumento que, quer queiramos quer não, vai bem com o último plano do filme, em que o vemos sentado ao estilo de um Buda a contemplar o seu vale da paz.
Todos nessa megaprodução, desde o Homem de Ferro até ao recém-chegado Black Panther, eram chamados a confrontar o maciço arqui-inimigo que, em todo o caso, alimentava alguma ambiguidade, uma vez que não era um ser completamente desprovido de bons sentimentos. E o curioso, dentro da lógica mais do que repisada dos filmes de super-heróis (não apenas Marvel), é que, por uma vez não havia happy end. Doutor Estranho, Homem-Aranha, Hulk, Black Panther, os Guardiões da Galáxia (excepto o guaxinim Rocket)... todos eles desaparecem perante os nossos olhos. Mas, claro, não seria saudável para ninguém - marketing e espectadores - que as coisas acabassem assim. E essa é a razão de ser do novo Vingadores: Endgame.
Tal como faziam crer as primeiras reações divulgadas nas últimas horas, este é, sem dúvida, um gigantesco serviço aos fãs do universo cinematográfico Marvel. Do princípio ao fim, o filme da dupla Anthony e Joe Russo ocupa-se do tecido emocional que ao longo de onze anos foi sendo trabalhado, de capítulo em capítulo, por entre a barafunda de efeitos especiais. E a verdade é que, com mais ou menos harmonia ao longo das suas três horas de duração, o resultado não é de deitar fora.
Capitão Marvel, nova no grupo e cheia de genica, é a personagem que vem dar o arranque a esta derradeira fase. Ou antes, um falso arranque. Depois de um prólogo que parece suspender a ação dos super-heróis sobreviventes, passando à frente cinco anos, as coisas começam pouco a pouco a mexer com o aparecimento em cena do estimável Homem-Formiga ("experiente" em física quântica), que traz para a mesa a ideia de se criar uma máquina do tempo para resgatar os desaparecidos pela mão do malvado Thanos. E ultrapassado um ou outro obstáculo - sobretudo da parte do relutante Homem de Ferro, ainda muito amargurado - o plano avança... Nesta etapa, em que se voltam a reunir os membros que restam dos Vingadores, numa composição sui generis (Viúva Negra, Hulk, Capitão América, Thor, o guaxinim Rocket, Homem de Ferro, Homem-Formiga...), descobrem-se alguns bons tópicos de humor que vão correr todo o filme, aqui e ali. Entre eles, Thor é o grande achado do argumento: desta feita, ao contrário do seu aspeto de deus musculado, vamos encontrá-lo barrigudo, barbudo e desleixado. Como a certa altura se sugere, uma autêntica versão do Dude de O Grande Lebowski...
Prontos para a "festa" do costume, é, contudo, desta massa humana que se tenta fazer Vingadores: Endgame. Entenda-se: no seu melhor, este é um filme que aposta tudo no valor sentimental das personagens, quer seja pela via mais dramática ou pela simpatia cómica. Procura-se aqui conquistar a escala das emoções, mais do que distrair o olho com a mecânica do jogo de guerra (que também está presente, evidentemente). E por tal capacidade de, pelo menos numa grande fatia da sua longa duração, ser tão-somente um olhar sobre relações humanas, há que reconhecer que a carga épica deste culminar do universo cinematográfico Marvel tem a sua dignidade (até com direito a um momento de women power). Deixam-se de lado truques elaborados, opera-se com sentido de honra, sem esquecer o charme da ironia. Escusado será dizer que é material para fazer vibrar os fãs, e ainda com um belo cameo do criador Stan Lee.