O público pediu e o MAAT - Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia vai fazer-lhe a vontade - no próximo ano, a Coleção de Arte da Fundação EDP será exposta. Serão cerca de 100 obras - de uma coleção de 2600 de mais de 340 artistas - que serão exibidas em dois momentos, no MAAT Central, na antiga central termoelétrica. O primeiro será a partir do dia 11 de fevereiro, e o segundo de 29 de abril. Em conjunto, estas exposições representarão uma das maiores apresentações públicas desta coleção iniciada em 2000, e para a qual a Fundação EDP canaliza um valor anual de referência de 100 mil euros, mas que pode variar. Esta coleção é apenas de artistas nacionais, sublinha João Pinharanda, diretor do MAAT, instituição cultural que esta quinta-feira, dia 20, apresentou a sua programação para 2026, o ano e que faz dez anos desde que abriu, em Belém, junto ao rio Tejo. Em fevereiro serão mostradas obras de artistas como Gabriel Abrantes, Luisa Cunha, Ana Jotta, Joana Vasconcelos, José Pedro Croft, João Pedro Vale e Nuno Alexandre Ferreira e João Paulo Feliciano. .Em abril, as obras expostas incluem os nomes de Jorge Molder, Rui Sanches, Paulo Nozolino, Fernanda Fragateiro, Inês Botelho, Francisco Tropa, Ana Hatherly e Helena Almeida. .Na conferência de imprensa, João Pinharanda, acompanhado do diretor-adjunto Sérgio Mah e a presidente da Fundação EDP, Vera Pinto Pereira, explicou que esta mostra "é a reposta aos desejos do público", apurados num inquérito que foi realizado pelo museu e em que uma das queixas dos visitantes é que não viam a coleção da instituição. A última vez que foi exposta no MAAT foi em 2021, "num esquema diferente", sublinha Pinharanda.A curadoria destas exposições é de João Pinharanda, Sérgio Mah e Margarida Chantre, esta última responsável pela conservação da coleção. Não há um "eixo temático" nestas mostras, "são de artistas diferentes, de diferentes disciplinas, de gerações diferentes", explica Sérgio Mah. "Não queríamos fazer uma história, pusemos todos a falar uns com os outros, às vezes de forma inesperada", acrescenta João Pinharanda. Também há um diálogo com a arquitetura, a primeira exposição será num ambiente mais industrial, e a segunda num espaço mais museológico. Muitas das obras da coleção foram adquiridas na sequência de exposições realizadas no MAAT. As últimas obras que entraram foram de Catarina Dias - que expôs no MAAT entre setembro de 2024 e fevereiro deste ano - e Luísa Jacinto, que exibiu no museu entre março e setembro do ano passado. A coleção não integra obras de artistas internacionais e não é intenção do museu passar a fazê-lo, até por questões orçamentais. A obra mais antiga da coleção da Fundação EDP é de 1959, de Nadir Afonso. "Também temos coisas de artistas que não expuseram cá, mas que são historicamente importantes", diz ainda o diretor do MAAT. . A primeira grande exposição da programação para 2026 será de Christian Marclay, conhecido pela sua obra The Clock, um "blockbuster" da arte contemporânea (recebeu o Leão de Ouro na 54ª Bienal de Veneza), lembra o curador desta mostra, Sérgio Mah. O artista norte-americano, que cresceu na Suíça e vive e trabalha em Londres, "lida com a experiência urbana, a experiência da cidade. Ele desde sempre se interessou pela etnografia do lugar", explica o curador, acrescentando que "o som e a música são muito importantes no seu trabalho". Haverá também performances com música experimental ao longo dos cinco meses em que a exposição estará patente, do próprio artista e de músicos portugueses. Com cerca de 15 obras, entre instalações vídeo, séries fotográficas, colagens e publicações, duas delas apresentadas ao público pela primeira vez, será uma mostra com obras desde os anos 1970, com "grande enfoque nos últimos 20 anos". A exposição pode ser vista de 25 de março a 31 de setembro de 2026 nas galerias 1 e 2 do MAAT e na sala estúdio do MAAT Gallery.Durante os mesmos meses a brasileira Anna Maria Maiolino, laureada com o Leão de Ouro pelo conjunto de sua obra na Bienal de Veneza 2024, ocupará a sala oval do espaço expositivo do edifício mais recente do MAAT, com a exposição Terra Poética. De origem italiana, a artista mudou-se para o Brasil depois de ter vivido e estudado na Venezuela. Com curadoria de João Pinharanda e Sérgio Mah, serão mostrados 120 desenhos da série Tempestade de Ideias, e seis peças inéditas em argila crua, que serão as maiores da artista, segundo João Pinharanda. Durante a exposição a terra será modelada e será feita uma performance envolvendo pessoas comuns, "comunidades com as quais trabalhamos", acrescenta. "Não vou revelar a frase que ela vai dizer no início, mas será uma frase muito forte" acrescenta o diretor do MAAT. .O artista Pedro Cabrita Reis ocupará a galeria oval a partir de 16 de setembro de 2016 até 22 de fevereiro de 2027 com a exposição Pedro Cabrita Reis - "com o coração livre de cuidados". O título é uma citação de Les Travaux et les Jours (Os Trabalhos e os Dias), poema épico de Hesíodo. Na sequência da exposição de Anna Maria Maiolino, "uma manualidade substituirá outra manualidade", sublinha João Pinharanda, pois trata-se de uma mostra "fundamentalmente de pintura, mas a lógica será instalativa", sublinha o curador. Em dúvida, acrescenta, está a inclusão ou não de três esculturas. .Para ver nas galerias 1,2 e na sala estúdio do MAAT Gallery, entre 2 de outubro de 2026 e 8 de março de 2027, a exposição Energias da IA, com curadoria de Antonio Somaini. Uma exposição que vai mostrar pela primeira vez trabalhos de artistas que abordam, por um lado, as energias que alimentam a Inteligência Artificial, como a eletricidade, água, minerais críticos, computação, trabalho humano e capital e, por outro, "as energias que a IA liberta na sociedade, através "de análise e geração de dados, previsão, vigilância, influência, captura de atenção, emoção e controlo mental". .O museu também vai exibir o trabalho de Margarida Correia, no espaço mais experimental Cinzeiro 8, no MAAT Central. A exposição, intitulada Mais Alto (o nome da revista da Força Aérea), com curadoria de João Pinharanda, estará patente de 29 de abril a 31 de setembro. A artista investiga comunidades específicas através de fotografia e arquivos, e nesta mostra foca-se nas enfermeiras paraquedistas que participaram na guerra colonial. .Também no Cinzeiro 8 será proporcionada uma experiência imersiva de Paulo Furtado, Life is a Game, entre 16 de setembro de 2026 e 22 de fevereiro de 2027. Trata-se de experiência "em Realidade Extendida, com recurso a capacete de realidade mista, que transporta o participante por uma viagem intemporal, através do ritual de passagem entre a morte e o renascimento", descreve o museu. .O MAAT abriu portas em 2016, por isso o próximo ano será um ano comemorativo para a instituição. Em dez anos, o MAAT foi visitado por três milhões de visitantes e realizou 130 exposições. João Pinharanda entrou no MAAT há quatro anos e Sérgio Mah há três (e está de saída para a direção Centro de Arte Moderna da Gulbenkian, cargo que assumirá em maio do próximo ano). Mah explica que o MAAT é um museu de "banda larga, temos que ser ecléticos, existem públicos muito diferentes", mas que é importante ser atrativo para o grande público. Por outro lado, trata-se de uma instituição que dá "uma grande atenção ao meio artístico nacional, consolidado ou emergente. É nesta compatibilização de diferentes objetivos que compomos a programação". Miguel Coutinho, diretor-geral da Fundação EDP diz que o substituto de Sérgio Mah como diretor-adjunto do MAAT já está escolhido. É homem e português, e mais não disse. O anúncio será feito no início do próximo ano. .Frida Orupabo e Neïl Beloufa. Programação do MAC/CCB para 2026 inclui artistas que usam "linguagem dos jovens".Pedro Casqueiro e o “desvio” antológico que às vezes é mais modernista do que pós-modernista