Cumprindo a tradição, alguns estúdios de Hollywood aproveitaram a quadra natalícia para lançar as primeiras imagens de alguns dos seus títulos mais fortes para 2026. Assim aconteceu com O Dia da Revelação, deixando a sugestão de que Steven Spielberg estará de volta às histórias de convivência entre humanos e extraterrestres — com estreia marcada para 11 de junho, vai ser, por certo, um dos lançamentos a dominar a temporada de verão. Aconteceu também com Digger, agendado para 2 de outubro, cujo trailer, tão sugestivo como indecifrável, apresenta Tom Cruise sob a direção de Alejandro González Iñárritu..O Dia da Revelação surge com chancela da Universal Pictures, o estúdio que produziu E.T., o Extraterrestre (1982), precisamente o mais lendário filme de Spielberg sobre a nossa relação com viajantes de outras galáxias. No caso de Digger, o logotipo da Warner Bros. deixa um insólito ponto de interrogação que, obviamente, transcende o próprio filme. Que é como quem diz: perante o recente anúncio, veemente e pomposo, da vontade da Netflix adquirir a Warner Bros., é caso para perguntar como será a vida comercial de Digger — mais do que isso: como será a vida futura do imenso catálogo da Warner, onde podemos encontrar coisas tão diversas como o clássico Casablanca (1942) ou Batalha Atrás de Batalha, um dos grandes filmes de 2025, passando por quase toda a filmografia de Clint Eastwood.Essa possível compra (orçada em 83 mil milhões de dólares, cerca de 72 mil milhões de euros) irá, de uma maneira ou de outra, pontuar todo o ano cinematográfico, já que as entidades reguladoras dos EUA deverão gastar pelo menos 12 meses para viabilizar (ou não) o negócio — sem esquecer que a Paramount também surgiu na corrida. Seja como for, para lá das atribulações dos números, o que está em causa excede qualquer visão meramente financeira.Tendo conquistado o estatuto de um verdadeiro império de produção e difusão, a Netflix não dá sinais de abdicar da sua política de (quase) absoluta exclusividade do streaming, apenas em casos pontuais exibindo os seus títulos nas salas. Daí a pergunta cinéfila: será que uma parte significativa da produção de Hollywood está condenada a existir apenas nos nossos ecrãs caseiros? Parece uma questão formalista, mas está longe de o ser. Muitos membros e analistas da indústria americana anteveem mesmo um verdadeiro desastre estrutural, com quebras de produção, encerramento sistemático de salas e dramáticas formas de desemprego.Música & concertosIronicamente, o ano que está a chegar deverá ser favorável ao renascimento do chamado “filme-concerto”, género que tem beneficiado da consolidação das salas IMAX (com os seus ecrãs gigantes e uma espectacular envolvência sonora). Grande acontecimento será, seguramente, a partir de 19 de março, Billie Eilish: Hit Me Hard and Soft. A digressão de Billie Eilish surgirá aí com o suplemento das três dimensões (depois de sucessivos desastres com os super-heróis da Marvel, o 3D parece estar de regresso) e com uma assinatura partilhada — a realização é assinada pela própria cantora ao lado de James Cameron, ainda e sempre militante das três dimensões (como aconteceu com o terceiro capítulo de Avatar, lançado há poucos dias).Baz Luhrmann é outro cineasta apostado em revalorizar as performances musicais através do IMAX. Assim, depois do seu Elvis (2022), em que Austin Butler assumia o “Rei do Rock and Roll”, o realizador australiano propõe uma redescoberta da figura real, precisamente através de materiais de arquivo que foi inventariando durante a preparação do seu filme sobre Elvis Presley — chama-se Epic: Elvis Presley in Concert e estará nas salas a 19 de fevereiro. Ainda em janeiro, dia 22, surgirá Liza Minnelli: A Incrível e Absolutamente Verdadeira História, de Bruce David Klein, seguramente não esquecendo as performances de palco, mas no registo de documentário biográfico..E o contraponto de tudo isto? Que filmes com rótulo mais “autoral” poderão marcar o ano? Da produção portuguesa, por exemplo, embora lutando contra dificuldades de enraizamento comercial e cultural (que 2025 voltou a reflctir), há já vários títulos anunciados para os próximos meses. É o caso de Primeira Pessoa do Plural, um drama com Albano Jerónimo e Isabel Abreu, realizado por Sandro Aguilar, ou Pai Nosso: Os Últimos Dias de Salazar, marcando a estreia na ficção de José Filipe Costa, cineasta até agora ligado ao registo documental — 19 de fevereiro e 28 de maio serão as respetivas datas de estreia..Dois exemplos realmente excecionais (pela raridade e pelas suas qualidades) serão Riefenstahl (5 março), de Andres Veiel, e Filme Anúncio do Filme "Drôles de Guerres” (14 maio), de Jean-Luc Godard. O primeiro é um dos documentários mais elaborados que já se fizeram sobre a cineasta Leni Riefenstahl e o seu envolvimento com a propaganda do regime nazi; no segundo, numa invulgar proeza de “restauro”, encontramos materiais de um filme que Godard não chegou a concretizar..Na galeria dos atores e atrizes que têm sido tentados pela realização, encontramos três exemplos capazes de gerar grande expectativa. Logo em janeiro, surgirão duas estreias femininas na realização: A Grande Eleanor (dia 15) e A Cronologia da Água (dia 22), respetivamente de Scarlett Johansson e Kristen Stewart. Quem regressa a funções de direção é Bradley Cooper, com Ainda Funciona? (26 fevereiro), integrando o elenco, mas com o papel principal entregue a Will Arnett, numa personagem em que as convulsões da vida familiar se vão cruzando com uma inesperada experiência no mundo do stand-up.O filme de Bradley Cooper poderá ser uma surpresa de última hora na temporada dos prémios. Seja como for, vários favoritos já chegaram às salas portuguesas, incluindo Batalha Atrás de Batalha, de Paul Thomas Anderson, para muitos analistas americanos o vencedor “antecipado” do Óscar de melhor filme de 2025. Brevemente, chegarão Marty Supreme (22 janeiro), de Josh Safdie, Valor Sentimental (29 janeiro), de Joachim Trier, e Hamnet (5 março), de Chloé Zhao.Brad Pitt & TarantinoEnfim, não esqueçamos a tradição dos grandes espectáculos de verão. Destaques obrigatórios serão o quinto título da saga de desenhos animados Toy Story, com direção de Andrew Stanton e McKenna Harris, e o épico A Odisseia, de Christopher Nolan, com Matt Damon, apostado em provar que a herança literária de Homero também tem lugar nas salas IMAX..Lá mais para dezembro, todas as expectativas estarão focadas em As Aventuras de Cliff Booth, uma sequela das aventuras da personagem de Brad Pitt em Era uma Vez em Hollywood (2019), de Quentin Tarantino. Brad Pitt está de volta, tal como Tarantino, mas apenas como argumentista — a realização pertence a David Fincher. Quem produz? A Netflix, decididamente uma plataforma de streaming que já funciona como um grande estúdio.Oferta hostil da Paramount pela Warner Bros desafia Netflix e agita investidores em Wall Street