A UNESCO lançou o Museu Virtual de Objetos Culturais Roubados, "sem paredes, mas não sem memória", e que inclui seis peças reportadas como desaparecidas por Portugal.O museu virtual da UNESCO (a agência das Nações Unidas para a Educação e Cultura), anunciado em 2022, resulta de uma colaboração com a Interpol e arranca, para já, com 250 objetos iniciais de 56 países.Na galeria de Portugal, há seis objetos roubados, entre os quais, joias do Tesouro Real e o quadro "Busto de mulher romana", de 1882, de Henrique Pousão.Entre as joias portuguesas está ainda um colar de diamantes de 1834 encomendado por D. Maria II (1819–1853) e um cabo de bengala de D. José I (1750–1777), feito a ouro e incrustado com 387 diamantes de vários tamanhos.O Museu Virtual de Objetos Culturais Roubados da UNESCO (https://museum.unesco.org/), concebido pelo arquiteto Francis Kéré, natural do Burkina Faso e prémio Pritzker em 2022, é "um museu único no mundo", "sem paredes mas não sem memória", disse esta segunda-feira, 29 de setembro, o diretor-geral adjunto para a Cultura da UNESCO Ernesto Ottone, na apresentação do projeto.Ernesto Ottone sublinhou que os bens culturais roubados "ferem a memória" coletiva, rompem cadeias de transmissão cultural entre gerações e "impedem a ciência de evoluir", por ocultarem conhecimento.Este tipo de roubo é dos mercados negros "mais lucrativos", resulta de crime organizado, financia o terrorismo e prospera especialmente em zonas de guerra, destacou ainda o diretor-geral adjunto da UNESCO, que sublinhou que o objetivo do museu virtual é recuperar e restituir objetos roubados, mas também sensibilizar para este tipo de crime e para o impacto que tem em diversos níveis, assim como apelar um "papel mais ativo nesta luta" por parte de todos, em especial os mais jovens.O museu virtual quer também ajudar na promoção da educação sobre bens culturais e "facilitar a transmissão intergeracional" de conhecimento, acrescentou."Aprender sobre estes objetos desaparecidos é o primeiro passo para a sua recuperação" e "quando um objeto cultural é roubado perdemos uma parte da nossa identidade" são, precisamente, as primeiras duas frases que lê quem entra na plataforma do museu virtual da UNESCO.Ernesto Ottone apelou aos 60 estados-membros da UNESCO que não registaram oficialmente objetos culturais roubados para o fazerem, uma vez que só entram neste museu virtual peças que já estão na base de dados da INTERPOL.A ambição da UNESCO é que o número de objetos expostos aumente no imediato, mas a esperança é que as galerias se vão esvaziando, à medida que forem sendo encontrados e restituídos aos países e donos de origem.Segundo a Interpol, os 250 objetos integrados nas galerias inaugurais deste museu são apenas uma pequena amostra de um tráfico ilícito que envolve pelo menos 57.000 bens.Este tráfico resulta de roubo e contrafação de obras de arte, mas também de pilhagens em zonas de conflito ou escavações arqueológicas clandestinas, diz a Interpol.O Museu Virtual de Objetos Culturais Roubados da UNESCO foi apresentado hoje, no primeiro dia da conferência MONDIACULT 2025, em Barcelona, Espanha.A MONDIACULT 2025 é a Conferência Mundial da UNESCO sobre Políticas Culturais e Desenvolvimento Sustentável e realiza-se este ano pela terceira vez, depois de edições no México em 1982 e 2022, sob o mote "libertar o poder da cultura para conseguir o desenvolvimento sustentável".Estão reunidos em Barcelona, até quarta-feira, 120 ministros de todo o mundo.