Moura abriu o livro e deu lição de Cátedra

Grande ambiente, bancadas cheias no Campo Pequeno! Noite de expectativa, de comemorações. Celebravam-se os 20 anos de alternativa de Rui Fernandes e evocaram-se os 50 anos de alternativa de Fernando Salgueiro, Frederico Cunha, Victor Ribeiro, Gustavo Zenkl e D. Francisco Azarujinha, Frederico Cunha.

João Moura foi o grande protagonista da noite, numa lide ao quarto da noite simplesmente portentosa! Foi uma atuação exemplar, extraordinária, do verdadeiro Mestre do toureio. Um marco indelével que ficará na história da Catedral do Toureio a Cavalo. Foi uma lide onde a mestria, a ligação, o toureio a cavalo profundo e emotivo, exalaram desta obra-prima de João Moura. Nos compridos já se viu a disposição e a vontade de triunfo, levando a investida por diante, sem se dobrar muito, enorme de temple e emoção e a seguir dois compridos perfeitos.

Nos curtos, quatro ferros em sortes frontais, com viagens puras, citando de praça a praça e cravando nos médios, com quarteios ajustados. Tudo exalando uma classe, ganas, sentido toureio e sabor de lição Mourista. Um verdadeiro deleite para os aficionados! Rematou com dois palmos, com leves arrancadas ao piton contrário. Foi esta lide, do génio de Monforte, um verdadeiro hino ao toureio a cavalo e com ela o Campo Pequeno explodiu. De pé, em jeito de agradecimento, aplaudiu João Moura. Para tudo isto acontecer teve por diante um grande toiro da ganadaria Charrua, que foi alegre de princípio a fim da lide, com o qual o ganadeiro Gustavo Charrua teve honras de volta à praça.

No seu primeiro Moura andou correto, dando a volta ao difícil Charrua, toiro que investia a chouto e que no momento do ferro metia "freios"...

Lisboa e o público português adoram e reagem quase com uma euforia desmesurada a Pablo Hermoso de Mendoza. Quase tudo o que rojoneador navarro faz é aplaudido com jubilo... Mais uma vez foi assim em Lisboa, com duas lides muito diferentes.

A primeira, diante de um Charrua de "caramelo", Pablo cravou dois bons compridos com poderio. Depois, nos curtos, o "show" de brega foi perfeito. Com ladeios e hermosinas esteve portentoso a cravar. Se a tudo isto juntarmos o seu sentido de lide, a sua classe a montar a cavalo e a harmonia do seu espetáculo, temos a lide quase perfeita e digo quase porque quase não existiu a emoção dada pelo toiro!

Com o quinto, a história foi outra. O toiro foi bravo e pediu contas ao de Navarra. Empurrado pelo amor-próprio que leva dentro, pelo triunfo de João Moura e Fernandes, Pablo teve que se esforçar a fundo para dar a volta ao toiro e meter novamente o público "dentro do bolso". Só a meio da lide, e com o seu cavalo estrela, entendeu o toiro e em curto lhe deixou bons ferros, rematados com bonitos recortes na cara do bravo. Foi colhido de violenta maneira contra as tábuas, num descuido de perder a cara ao toiro e "aos toiros nunca se lhes deve perder a cara".

Rui Fernandes, na noite de comemoração dos 20 anos de alternativa, teve com o terceiro da corrida - toiro muito nobre, suave, com classe, mas com pouca emoção - uma lide de triunfo. Andou bem nos compridos, confiando o toiro a investir. Mas foi nos curtos que rubricou o seu triunfo, com cites de largo, com vibrantes entradas pelo toiro, rematadas com piruetas. Na brega, os ladeios templados e ajustados arrancaram as ovações dos presentes.

No sexto, a lide veio de menos a mais, com um toiro menos voluntarioso e que se defendia no momento dos ferros. Fernandes andou em profissional, deixando bons ferros novamente rematados com piruetas na cara do toiro.

Os Amadores de Évora e de Alcochete bateram as palmas aos Charruas. Como nas lides foram bem diferentes, também o foram nas pegas: os de "caramelo" fáceis e a deixarem os forcados brilhar nos cites e reuniões; os mansos e os bravos pediram as contas perfeitas e isentas de deslizes... ajudas coesas e forcados com raça e muita vontade de lhe ficar na cara para aguentar os fortes derrotes que os seus oponentes lhe davam.

Pelos Amadores de Évora abriu praça João Madeira, que aguentou quase o impossível, diante de um toiro, bruto, reservado. Se isto acrescentaram a quase inexistente cornamenta... Só à quarta tentativa o João resolveu tamanha papeleta.

Dinis Caeiro pegou à primeira, numa pega fácil e bonita, com o forcado a receber bem e o grupo a ajudar com eficiência.

O cabo João Pedro Oliveira, à quarta tentativa, fechou a noite para os alentejanos num toiro que se arrancava de largo para comer tudo e todos. Pedia ajudas coesas, que por vezes não entraram no toiro no momento certo.

Por Alcochete abriu a função João Machacaz, que com "toureiria" se fechou ao primeiro intento na cara do Charrua.

João Belmonte, na primeira, não se fechou bem de braços e o toiro num derrote lateral tirou o forcado da cara. Na segunda emendou a mão e arrancou uma boa pega, com os ajudas a entrarem no momento certo.

O cabo Nuno Santana fechou a noite para Alcochete, com chave de ouro, ao primeiro intento. Forcado da cara e ajudas estiveram como mandam as regras e a pega resultou perfeita.

Dirigiu a corrida Manuel Gama assessorado pelo médico veterinário José Manuel Lourenço.

Síntese da corrida:

Ganadaria: Seis toiros Charrua díspares de apresentação e jogo. Pesavam entre os 548 kg do quarto e os 590 kg do sexto. Destaque para os bravos quarto e quinto. O ganadeiro deu volta à arena, após a lide do quarto toiro da noite.

Cavaleiros: João Moura (Volta e Volta com chamada aos médios); Pablo Hermoso de Mendonza (Volta e Volta); Rui Fernandes (Volta e Volta)

Forcados: Amadores de Évora: João Madeira (Volta) ; Dinis Caeiro (Volta); João Pedro Oliveira (Palmas); Amadores de Alcochete: João Machacaz (Volta) ; João Belmonte (Volta); Nuno Santana (Volta)

*As voltas à arena no final das lides são concedidas pelo diretor de corrida como prémio à qualidade da performance artística dos intervenientes ou pela bravura dos toiros.

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