A actriz e escritora Maria Riva morreu durante o sono em Gila, Novo México — contava 100 anos. Nascida em Berlim, a 13 de dezembro de 1924, vivia desde o ano passado em casa de Peter Riva, o segundo de quatro filhos nascidos do casamento com William Riva (1919-1999), decorador e cenógrafo cuja carreira se desenvolveu sobretudo na televisão das décadas de 1950-60.Na mesma época, Maria Riva foi também uma figura do pequeno ecrã, bastante popular junto do público americano. O seu nome ficou ligado a produções típicas desses primeiros tempos de consolidação das linguagens televisivas (e de crescente concorrência com as salas de cinema), algumas a meio caminho entre o a encenação teatral e o drama filmado, como Studio One (1951-55), The Philco Television Playhouse (1952-53) ou The 20th Century Fox Hour (1956).Em boa verdade, ao longo dos anos, estas referências artísticas surgiram sempre como o “resto” da sua biografia familiar, também inevitavelmente mitológica. Isto porque Maria Riva — baptizada como Maria Elisabeth Sieber — era a única filha de Marlene Dietrich (1901-1992), nascida do seu casamento com o assistente cinematográfico Rudolf Sieber (1897-1976). Terá sido ele, aliás, que apresentou Marlene a Josef von Sternberg (1894-1969), cineasta que viria a dirigi-la numa lendária coleção de sete longas-metragens, iniciada com O Anjo Azul (1930).Foi, precisamente, o impacto de O Anjo Azul que tornou Marlene uma das grandes “stars” de Hollywood, levando-o a mudar-se para os EUA. Assim, a partir dos 5 anos, a pequena Maria cresceu no ambiente dos estúdios Paramount — para poder mantê-la perto de si, Marlene decidiu mesmo que a filha não iria frequentar a escola, garantindo a sua educação através de várias professoras contratadas. Só no final dos anos 30, Maria conheceu a primeira (e única) instituição escolar que frequentou: foi a Brillantmont International School em Lausanne (Suíça), onde foi colega de Gene Tierney, outro grande símbolo da mesma época, sobretudo a partir da sua interpretação em Laura (1944), de Otto Preminger.. A estreia cinematográfica de Maria ocorreu sob a direção de Sternberg, ao lado da mãe. Aliás, “duplicando” a mãe, uma vez que, em A Imperatriz Vermelha (1934), assumiu nas cenas de infância a personagem de Marlene (Princesa Sofia, mais tarde Catarina, a Grande, imperatriz russa na segunda metade do século XVIII). Rezam as crónicas que Maria era já demasiado alta para o papel, pelo que Sternberg decidiu filmá-la deitada na cama de modo a garantir a “pequenez” infantil da personagem [trailer da cópia restaurada em 2021].. Num breve apontamento, viria a integrar o elenco de um outro filme protagonizado por Marlene, O Jardim de Alá (1936), de Richard Boleslawski, um dos primeiros grandes espectáculos em Technicolor, produzido por David O. Selznick (que, três anos mais tarde, lançaria E Tudo o Vento Levou).Maria Riva nunca entendeu a carreira de actriz como uma “obrigação” ou uma “prioridade”, tendo-se afastado do cinema e da televisão a partir de finais dos anos 50. Em 1988, reapareceria num pequeno papel em S.O.S. Fantasmas, de Richard Donner, com Bill Murray, uma comédia livremente inspirada no clássico Um Conto de Natal, de Charles Dickens.. No capítulo final da actividade artística de Marlene, assumiu funções de produtora dos seus espectáculos, sobretudo no período em que ela se tornou uma figura emblemática do “entertainment” em Las Vegas. Gestora da sua herança, vendeu o respectivo legado cinematográfico (fotografias, guarda-roupa, documentos, etc.) ao Museu da Cinemateca Alemã. Escreveu a biografia Marlene Dietrich – The Life (ed. Pegasus Books), cuja primeira edição surgiu em 1992, poucos meses depois da morte de Marlene. Resumindo os prós e contras de uma vida de muitos contrastes, inevitavelmente marcada pela aura mitológica da mãe, Maria disse numa entrevista realizada em 2009: “Vejo-me, não como a filha, antes como uma biógrafa.”