Criada em 2021, todos os anos a coleção L’Art de La Plume - a Arte da Pena da Monnaie de Paris (a Casa da Moeda francesa) homenageia uma dupla de escritores: um francês e um estrangeiro. Já foi La Fontaine e Dante, Molière e Shakespeare e, este ano, Alexandre Dumas e Camões. “Com os 500 anos de Camões pareceu-nos incontornável homenagear o autor de Os Lusíadas. Em francês dizemos que o português é a língua de Camões. É o escritor ícone da língua portuguesa”, explica ao DN Julien Sabouret numa passagem por Lisboa. O responsável pelas coleções da Monnaie de Paris, que veio apresentar esta nova coleção na embaixada de França, confessa um carinho especial por esta escolha, uma vez que ele próprio tem proximidade com Portugal, tendo estudado no Liceu francês Charles Lepierre, em Lisboa, onde o pai estava ao serviço do banco Crédit Agricole. .Esta não é a primeira vez que uma temática portuguesa chega às moedas cunhadas nesta instituição milenar francesa. Só nos últimos anos houve uma coleção sobre Vasco da Gama, uma sobre Fernão de Magalhães, uma sobre Aristides de Sousa Mendes e uma sobre a rainha D. Amélia que, na verdade, era francesa. .Mas voltando a Camões, Sabouret garante que os franceses amantes de literatura o apreciam, mas admite que não é popular com o público no geral. “É uma escrita difícil. Mas o mesmo acontece com Dante, por exemplo. É o ícone da língua italiana, mas na cultura pop não é o mais popular”. Os Lusíadas foram editados pela primeira vez em França em 1735, numa tradução de Duperron de Castéra. Estima-se que antes desta edição impressa já uma manuscrita tenha estado em circulação naquele país, mas perdeu-se..As moedas, duas de ouro (de 200 e 50 euros) e uma de prata (20 euros) apresentam na face o rosto de Camões, rodeado de ondas e de símbolos das aventuras marítimas do poeta português - como a caravela à sua direita. As velas do navio exibem “a Cruz da Ordem de Cristo, símbolo da nação portuguesa, assim como um emblema constituído por uma pena e uma espada, evocando os dezasseis anos que o autor passou no mar a viajar pelo Oriente. O olho direito, que perdeu numa batalha em Marrocos, aos 23 anos, está fechado”, anuncia a Monnaie de Paris no seu site. Já o reverso da moeda é comum a toda a série L’Art de La Plume, exibindo algumas frases famosas da história da literatura como o “Ser ou Não ser, eis a questão”, de William Shakespeare..Uma das moedas do Rei Leão..Fundada em 864, reinava então Carlos II de França, neto de Carlos Magno, a Monnaie de Paris continua hoje responsável por cunhar a moeda do Estado francês, agora os euros que tomaram o lugar dos francos. Mas também produz coleções temáticas para homenagear eventos ou personalidades no domínio histórico, cultural e político não só relacionadas com França, mas também de âmbito mundial. E o leque de temáticas é impressionante, da Hello Kitty aos Jogos Olímpicos, das mulheres no mundo a Harry Potter, das 24 Horas de Le Mans à astrologia passando pelo Rei Leão. “Todos os anos temos cerca de 30 temas. É importante porque tocam públicos diferentes”, diz Sabouret, explicando que a instituição tem clientes um pouco por todo o mundo, dos Estados Unidos até ao Japão ou Coreia do Sul..A Monnaie de Paris foi fundada em 864..Mais antiga instituição de França, a Monnaie de Paris é também responsável pelo fabrico das condecorações oficiais do Estado francês, como a Legião de Honra..Com uma história tão longa e perante o aparecimento de novas formas de pagamentos, a Monnaie de Paris “tem de ficar vigilante para não desaparecer”, garante Julien Sabouret, apesar de lembrar que ainda estamos “longe do fim do cash”. E a pensar no futuro, a Monnaie de Paris também já entrou na era do digital. “Temos um produto que já existia no ano passado e que vai voltar este ano para a coleção Notre-Dame de Paris que é uma moeda em prata que contém um microchip com um certificado digital com blockchain e que aparece quando se lê a moeda com um telemóvel”, explica o responsável pelas coleções, destacando este exemplo de “verdadeira integração das novas tecnologias por uma velha instituição como a nossa”. .Desafio para os próximos mil anos? “Acompanharmos a nossa época porque essa é a única forma de acompanhar os nossos cidadãos”.