Maria de Medeiros: "Ordem Moral é um filme para ficar no tempo"
A GDA gosta de atores de cinema e todos os anos atribui os prémios de melhores atores de cinema. Depois de uma edição virtual, este ano, os prémios relativos aos filmes de 2020, foram atribuídos numa cerimónia presencial na qual o DN teve acesso no Teatro Trindade, em Lisboa.
Uma cerimónia simples mas eficazmente conduzida por um ator de quem se esperam grandes coisas, Pedro Inês.
Prémios dados por atores a atores num evento pensado para o meio mas com mensagens fortes para uma classe que continua a trabalhar mesmo com todas as adversidades trazidas pela pandemia. Pedro Wallenstein, presidente da Fundação GDA, sublinhou a importância de se entender o atual contexto deste período de revolução digital num discurso nada institucional. Talvez mais do que nunca, estes prémios ganham uma relevância maior, essencialmente se atendermos ao crescente divórcio dos espetadores nas salas.
O diretor geral desta fundação nascida da Gestão dos Direitos dos Artistas, Mário Carneiro, celebrou também este regresso ao presencial, lembrando a importância da organização das Jornadas dos Atores, onde se convidaram jovens atores a participar em mesas de trabalho com atores mais consagrados. "Foi uma celebração do trabalho do ator. Uma celebração com trabalho, formação, etc. Tivemos as mesas redondas chamadas Encontros com Experiência, onde os jovens conhecem realizadores e atores mais veteranos. Devo dizer que resultaram maravilhosamente! Insistimos também no Make the Most, sessões para desconstruir a linguagem dos fundos europeus. Enfim, uma tradução do "europês" para português".
Este ano, a GDA deixou de dividir melhor ator e melhor atriz e os prémios foram entregues apenas à melhor interpretação, tal como alguns festivais estão a fazer, como é o caso da Berlinale. Dessa forma, a melhor interpretação foi para uma mulher, Maria Medeiros em Ordem Moral, de Mário Barroso, contrariando o favoritismo de Lúcia Moniz, em Listen, escolhida noutras cerimónias de prémios. Uma interpretação superlativa da nossa atriz mais internacional na pele de Maria Adelaide Coelho da Cunha, antiga proprietária do Diário de Notícias que desafiou convenções machistas e decidiu ser feliz com o seu motorista bastante mais jovem.
"Sinto que Ordem Moral poderia ainda ter tido muito maior atenção. O Mário Barroso fez um filme muito sofisticado...Talvez com o tempo ainda venha a ser mais valorizado, este filme é para ficar. Parece-me muito importante este prémio. O júri fez uma apreciação muito autêntica", contou ao DN Maria de Medeiros, ainda com a estatueta transparente nas mãos. E se o cinema português tem de ter mais Maria, o ano de 2020, do qual saíram estas interpretações, foi pródigo em papelões para atrizes: "Isso foi muito bom! Que o cinema português esteja a oferecer às mulheres papéis tão importantes é um motivo de felicidade. Já era hora!".
No habitual prémio de melhor interpretação revelação, a estatueta foi para um homem, neste caso para o jovem João Nunes Monteiro, em Mosquito, de João Nuno Pinto. No discurso de vitória, o ator salientava a precariedade do setor. "Mas sinto que o Mosquito me trouxe muito! Ainda estava a chegar da rodagem, fui logo convidado para um casting. Agora, estou a conseguir manter-me, sobretudo a fazer televisão, embora queira muito continuar a fazer cinema", revelou ao DN.
Catarina Wallenstein, que o ano passado tinha sido premiada em Mar, de Margarida Gil, venceu a interpretação secundária com Um Animal Amarelo, de Felipe Bragança. Ainda a recuperar das emoções do prémio falou da importâncias destes prémios: "Estas iniciativas são fundamentais num país onde é insuficiente a valorização e o apoio cultural àquilo que nós fazemos". De recordar que Catarina foi também considerada pelo júri na sua brilhante participação em O Ano da Morte de Ricardo Reis, de João Botelho.
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