Marcelo Rebelo de Sousa evoca a cantora Gal Costa "já com saudade"
O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, evocou esta quarta-feira a cantora brasileira Gal Costa, "já com saudade", agradecendo-lhe "meio século de canções" e "uma das obras mais ricas e diversas da música popular brasileira".
Gal Costa, uma das maiores vozes da música popular brasileira, morreu esta quarta-feira aos 77 anos.
Marcelo Rebelo de Sousa lamentou a sua morte através de uma mensagem publicada no sítio oficial da Presidência da República na Internet, na qual se lê: "É já com saudade que o Presidente da República lembra Gal Costa, expressando sentidos pêsames à Família e amigos".
O chefe de Estado recorda a participação de Gal Costa no álbum "Tropicalia ou Panis et Circencis", de 1968, "que deu nome a um movimento, e a uma época da cultura brasileira".
"Com outros brilhantes baianos, Caetano Veloso, Gilberto Gil e Maria Betânia, Gal construiu uma das obras mais ricas e diversas da música popular brasileira, gravando dezenas de discos de estúdio e ao vivo, cantando Ary Barroso e Tom Jobim, colaborando com Chico Buarque e Tom Zé, entre muitos outros", refere.
O Presidente da República lembra também que Portugal ouviu Gal Costa no genérico de "Gabriela", telenovela "que parou o país", em 1977, e salienta que, "além de inúmeros prémios brasileiros, venceu também o Grammy Latino para o conjunto da obra".
"E nunca deixámos de comprar os discos e de comparecer aos concertos, os últimos dos quais, marcados para este mês, o seu desaparecimento impediu, ficando a eterna lembrança de meio século de canções", acrescenta.
A causa da morte de Gal Costa ainda não foi revelada, mas a cantora estava a recuperar de um procedimento cirúrgico e tinha saído dos palcos seguindo recomendações médicas.
Gal Costa era uma das atrações do festival Primavera Sound, que aconteceu em São Paulo no último fim de semana, mas teve a sua participação cancelada à última hora.
A cantora brasileira também tinha na agenda dois concertos em Portugal, inicialmente marcados para novembro, em Lisboa e no Porto, e entretanto adiados para o próximo ano.
Nascida em 26 de setembro de 1945, na cidade de Salvador, Maria das Graças Penna Burgos, que era chamada de Gracinha pelos amigos até adotar o nome artístico Gal Costa, destacou-se ainda muito jovem pela voz de 'cristal' inconfundível.
Fã de João Gilberto, que conheceu no fim dos anos de 1960 e que a classificou como a "maior voz do Brasil", Gal Costa foi um dos maiores expoentes do movimento tropicalista brasileiro, ao qual também pertencem grandes símbolos da cultura musical brasileira como Caetano Veloso, Gilberto Gil e Maria Bethânia de quem se aproximou ainda na adolescência.
Com pouco mais de 20 anos, participou no álbum "Tropicália ou Panis et Circensis", um disco lançado por ela juntamente com Caetano Veloso, Gilberto Gil, Nara Leão, Os Mutantes e Tom Zé, considerado a pedra fundamental do movimento tropicalista.
Em 1971, tornou-se a estrela de um dos espetáculos de maior repercussão da história da música popular brasileira chamado "Fa-Tal", que viraria também um dos seus discos mais importantes.
Ao lado de Caetano, Gilberto Gil e Maria Bethânia, formou o grupo Doces Bárbaros.
A cantora brasileira interpretou sucessos inesquecíveis como as canções "Baby", "Meu nome é Gal", "Chuva de prata", "Vapor barato", " Pérola negra", "Barato total" e a "Modinha para Gabriela", que marcou a banda sonora da primeira telenovela brasileira estreada em Portugal, na RTP, em 1977.
Além do imenso talento, Gal Costa tinha uma personalidade ousada e ficou conhecida por quebrar tabus ao longo de sua vida.
Em 1973 realizou um ensaio fotográfico com o peito nu, para a contracapa do seu sexto LP, "Índia", causando grande polémica. Na época, os artistas do Brasil sofriam com a severa censura imposta pelo regime da Ditadura Militar (1964-1985).
Num país amordaçado pelos militares, Gal Costa usou a sua voz para quebrar tabus enquanto os seus parceiros Gilberto Gil e Caetano Veloso estavam no exílio.
A sua coragem foi celebrada e censurada, mas ela conseguiu iluminar o Brasil com apresentações contundentes ao som do seu violão.
Vencedora do Grammy Latino em 2011 pelo seu trabalho como um todo, Gal Costa dialogou com diferentes correntes ao longo de sua carreira, da bossa nova ao samba, passando pelo rock.