Quando o rio Jinsha chega à vila de Shigu (cidade de Lijiang), desvia-se abruptamente para nordeste, formando uma grande curva em “U”, conhecida como a “Primeira Curva do Yangtzé”.
Quando o rio Jinsha chega à vila de Shigu (cidade de Lijiang), desvia-se abruptamente para nordeste, formando uma grande curva em “U”, conhecida como a “Primeira Curva do Yangtzé”.

Maravilha Natural do Mundo: a Reserva Natural dos Três Rios Paralelos

Nas montanhas da província de Yunnan, na China, três grandes rios que têm origem no Planalto Tibetano correm paralelamente de norte para sul, formando um fenómeno natural raro.
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No sudoeste da China, existe uma paisagem natural famosa - a Reserva Natural dos Três Rios Paralelos -, onde os rios Nu, Lancang e Jinsha correm paralelamente de norte para sul ao longo de mais de 170 quilómetros, formando um fenómeno natural raro à escala mundial. O primeiro a descobrir esta maravilha geográfica foi o botânico e geógrafo britânico Frank Kingdon-Ward, que escreveu na sua obra clássica Rios Misteriosos do Tibete e de Yunnan: “Estou firmemente convencido de que esta é uma das regiões mais fascinantes da Ásia.”

Há cerca de 40 milhões de anos, a violenta colisão entre a placa tectónica indiana e a placa euroasiática elevou o Planalto Tibetano - região conhecida como o “telhado do mundo” -, dando origem à sinuosa cordilheira de Hengduan. Dentro desta cordilheira orientada de norte a sul, correm três grandes rios com origem no Planalto Tibetano: a leste, o rio Jinsha (curso superior do Yangtzé, o terceiro rio mais longo do mundo); ao centro, o rio Lancang (curso superior do Mekong); e a oeste, o rio Nu (curso superior do Salween).

A menor distância entre o rio Jinsha e o rio Lancang é de apenas 66 quilómetros, enquanto que o rio Lancang e o rio Nu chegam a estar separados por menos de 19 quilómetros. Contudo, devido às elevadas montanhas que os separam, sem vales profundos que os interliguem, os três rios seguem paralelamente para sul ao longo do relevo montanhoso. Após atravessarem a cordilheira de Hengduan, “despedem-se” uns dos outros: o rio Jinsha faz uma curva acentuada de 120 graus e segue em direção a nordeste, atravessando a Bacia de Sichuan e as planícies médias e inferiores do Yangtzé, desaguando finalmente no Mar da China Oriental, um mar periférico do Oceano Pacífico; o rio Lancang atravessa o Laos, o Camboja e o Vietname, desaguando no Mar da China Meridional, também no Oceano Pacífico; e o rio Nu passa por Myanmar e desagua no Mar de Andamão, no Oceano Índico.

Lisus da região do rio Nu atuando no espetáculo de canto e dança típico da sua cultura durante o Kuoshi, o festival tradicional mais importante do povo lisu (correspondente ao Ano Novo).
Lisus da região do rio Nu atuando no espetáculo de canto e dança típico da sua cultura durante o Kuoshi, o festival tradicional mais importante do povo lisu (correspondente ao Ano Novo).

Entre os três grandes rios erguem-se cadeias montanhosas como a de Gaoligong e a de Biluo, formando uma configuração geográfica singular conhecida como “três rios entre quatro cordilheiras”. Estes rios e vales esculpiram paisagens naturais magníficas e o habitat ideal para variadas espécies de fauna e flora, permitindo a proliferação de uma biodiversidade extraordinária.

Na zona dos Três Rios Paralelos, a vegetação distribui-se em camadas distintas conforme a altitude, desde florestas tropicais até pradarias de alta montanha, abrangendo uma grande diversidade de zonas climáticas. Esta área é considerada um “jardim alpino natural” e é uma das regiões com maior biodiversidade do mundo, albergando mais de 7000 espécies de plantas e 900 espécies de animais, incluindo muitas espécies ameaçadas, como o macaco-de-nariz-arrebitado-de-Yunnan, o leopardo- das-neves e o teixo chinês.

À medida que as estações mudam, também o cenário se transforma. Na transição entre a primavera e o verão, as encostas cobrem-se de rododendros em flor, tingindo as montanhas com cores vivas e deslumbrantes; no outono e inverno, os alerces (ou larícios) dourados contrastam com o azul límpido das águas dos rios, criando uma paisagem encantadora. Com as mudanças do clima, a vida animal adapta-se: as famílias de macacos-de-nariz-arrebitado-de-Yunnan saltam com agilidade entre as copas das árvores, migrando sazonalmente para fugir ao frio; os leopardos-das-neves escondem-se entre as escarpas nevadas, tornando-se os guardiões mais enigmáticos deste santuário natural.

Poucas regiões no mundo reúnem tamanha diversidade de etnias, línguas, religiões e costumes como a Reserva Natural dos Três Rios Paralelos, onde vivem há gerações uma dezena de grupos étnicos minoritários, incluindo os povos nu, tibetano, lisu e naxi, que, apesar da sua diversidade, partilham todos um profundo respeito pela natureza.

O povo nu, um dos grupos ancestrais que habitam as margens dos rios Nu e Lancang, pratica um culto natural animista, acreditando que todos os elementos da natureza possuem espírito. Entre as suas normas tradicionais, encontram-se proibições relativamente a cortar ou quebrar as “árvores sagradas”. Ao longo do rio Jinsha, os naxi acreditam que “o ser humano e a natureza são irmãos” e, por isso, defendem a proteção das fontes de água, dos rios e das florestas. Já os lisu, afirmam que apenas respeitando as montanhas se pode receber a proteção da natureza, boas colheitas e o bem-estar humano e animal.

O respeito pela natureza e a proteção do meio ambiente tornaram-se um consenso entre os habitantes desta região, permitindo-lhes encontrar um equilíbrio entre o desenvolvimento e a conservação ecológica. A sua qualidade de vida tem vindo a melhorar continuamente, indo ao encontro do provérbio chinês que diz que “Montanhas verdes e águas límpidas valem montanhas de ouro e de prata.”

Em 2003, devido à sua paisagem natural única e ao seu imenso valor ecológico, a Reserva dos Três Rios Paralelos foi inscrita na Lista do Património Mundial da UNESCO.

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