Leffest 2020: Almodóvar, Ferrara, Woody Allen e um Nobel no júri
Feliz o festival que sabe celebrar a virtude do cinema em sala. O LEFFEST manda-nos para as salas com toda a segurança e vinca a importância de se celebrar a arte cinematográfica ao vivo, sem "pay per views" ou recursos online. O festival de Paulo Branco também acredita na presença dos artistas e mesmo com a pandemia no auge promete a vinda de figuras relevantes, desde os repetentes Christian Petzold e Matthieu Amalric a Mona Fastvold, cineasta norueguesa aclamada em Veneza com The World to Come. Mas a grande presença (e também repetente) é do Nobel da Literatura Peter Handke, que integra o júri da competição.
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Num ano em que é preciso repensar tudo, o LEFFEST mostra uma das suas mais entusiasmantes seleções de sempre. No anúncio da programação, foram confirmados alguns dos filmes mais esperados da próxima temporada. É de prever que na seleção oficial fora de competição muitas salas vão ter lotação esgotada em Sintra (Olga Cadaval) e em Lisboa (Tivoli e Nimas). Nesse foco de "best of" dos maiores festivais do mundo, destaque para as antestreias de Rifkin's Festival, de Woody Allen; Nomadland - Sobreviver na América, de Chloé Zhao, o Leão de Ouro, de Veneza; The Human Voice, a curta de Pedro Almodóvar com Tilda Swinton, Kajillionaire, o regresso tão esperado de Miranda July ou Falling, a estreia de Viggo Mortensen na realização.
Na competição, há também títulos sonantes como Undine, o novo de Christian Petzold; Sportin' Life, documentário de Abel Ferrara concluído em confinamento; Malmkrog, do romeno Christi Puiu ou In the Dusk, título do lituano Sharunas Bartas que chega ao festival com carimbo de seleção oficial do Festival de Cannes. Só é de espantar a ausência de títulos portugueses, sobretudo numa altura em que se discute a sua sobrevivência, embora ainda venham a surgir novidades no programa.
Os lisboetas e sintrenses vão ter também uma bela oferta este ano: uma retrospetiva integral de Paul Thomas Anderson, cineasta de obras-primas como Embriagado de Amor ou Linha Fantasma. Clément Cogitore, cineasta quase desconhecido em Portugal, também terá uma homenagem, juntamente com Wong Kar-wai, cineasta de Hong Kong que marcou um imaginário nas últimas décadas. Alguns dos seus filmes vão ter visionamento com cópia restaurada.
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Como sempre, o festival assume-se como um evento para além do cinema e estão previstos dois simpósios: As Artes e o Público do Mundo Pós-pandemia e o 25º Aniversário do Património Mundial da Unesco de Sintra.
Destaque ainda para uma seleção de filmes de Fréderic Bonnaud, crítico francês e antigo membro do comité do festival, para homenagear a Cinemateca Francesa. Oportunidade para se descobrir ou rever obras como L'Atalante, de Jean Vigo ou Adieu Philipine, de Jacques Rozier.
O programa da RTP, Cinemax, também terá um espaço no festival e Tiago Alves, o seu responsável, programou uma sessão com as curtas de Ana Rocha de Sousa, a cineasta do excelente Listen, em estreia esta semana. Curtas que foram sempre ignoradas por cá...
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Há ainda um ciclo intitulado Os Olhares em Confronto, com curadoria de Alexey Artamanov, Inês Branco Lopez e Denis Ruzaev. Um ciclo com filmes que podem ir de Manoel de Oliveira a Buñuel e que serve para refletirmos sobre a perspetiva do olhar do cineasta e do espetador.
Em suma, um festival onde tudo pode e vai acontecer, mesmo um concerto de Salvador Sobral num programa chamado Noche de Ronda que inclui cinema mexicano.