LCD Soundsystem, a sofisticada caixa de ritmos que puxou o público ao limite
Diz-se que James Murphy, o vocalista e a alma dos LCD Soundsystem, é um perfecionista. Um minuto antes da meia-noite, o som ambiente (Enjoy the Silence, dos Depeche Mode) deu lugar a Real Good Time Together, de Lou Reed, e à hora certa o nova-iorquino e os restantes sete elementos entraram em palco para concretizar a promessa de oferecer um bom tempo em conjunto.
Por esta altura, já muitos espectadores do Festival Kalorama tinham gastado as energias, em especial com os ingleses Jungle. Mas o homem que, reza a lenda, um dia recebeu uma caixa de ritmos de Ad-Rock (ou Adam Horovitz) dos Beastie Boys, tinha a fórmula para triunfar no palco principal e reenergizar quem estava à sua frente.
Carlos Pimentel |
Tocando um repertório de 12 temas, baseado nos dois aclamados álbuns Sound of Silver e This Is Happening, o grupo fundado em 2002 (dado como extinto em 2011 e renascido quatro anos depois após conselho de David Bowie) levou ao parque da Bela Vista o seu som mais difícil de catalogar do que de gostar, como se viu pela diversidade geracional e de tribos rendidos às suas sonoridades dançantes.
Vestido com uma t-shirt da icónica sala de espetáculos escocesa Barrowland, onde o grupo atuou no final de junho e início de julho, agarrado ao microfone de fita, como é seu timbre, Murphy comandou sem falhas visíveis nem audíveis um coletivo irrepreensível, uma trovoada sonora resultante da conjugação das massas frias eletrónicas com o calor das guitarras, das percussões e das vozes.
Carlos Pimentel
Além da homenagem a Lou Reed, em I Can Change e em Losing My Edge pôde-se ouvir excertos de Kraftwerk, Daft Punk e Yazoo, prova do caldo musical de que bebem estes músicos que se inscrevem no quadro de honra de bandas de Nova Iorque, abaixo de uns Velvet Underground, Talking Heads, Sonic Youth ou os já referidos Beastie Boys.
Sem pausas para lá do estritamente necessário ou da praxe, como a apresentação dos músicos em palco, o concerto seguiu em crescendo até new body rhumba (o tema que remata o filme Ruído Branco), tocado a um ritmo tresloucado. Ao fim de Dance Yrself Clean, Murphy lembrou o público que tocaram pela primeira vez em Lisboa no Lux, em 2005, e que sempre se sentiram muito bem na capital portuguesa. Uma deixa para o seu lamento apaixonado por Nova Iorque em New York I Love You But You're Bringing Me Down, antes de o grupo culminar com All My Friends e pôr quase todos aos pulos a questionar, aos berros, “Where are your friends tonight?”.
Carlos Pimentel