O Lago Lugu no outono.
O Lago Lugu no outono.

Lago Lugu: a Pérola do Planalto e a cultura Mosuo

O ago Lugu, na fronteira das províncias de Yunnan e Sichuan, sudoeste da China, é conhecido como a Pérola do Planalto. O povo Mosuo, que vive nas suas margens, preserva uma cultura matrilinear única.
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O Lago Lugu, um corpo de água doce situado na fronteira entre as províncias de Yunnan e Sichuan, na China, é conhecido como a Pérola do Planalto devido à sua altitude elevada e à pureza das suas águas. Nas margens do lago vive o povo Mosuo, um subgrupo da minoria étnica Naxi, de Yunnan, com uma população de cerca de 50 mil pessoas. Em língua Mosuo, “lu” significa vale e “gu” designa o seu interior, pelo que “Lugu” se refere ao “lago no vale”.

O Lago Lugu encontra-se a cerca de 2690 metros de altitude, serenamente envolto por montanhas, com uma área total de mais de 50 quilómetros quadrados. Formado há aproximadamente dois milhões de anos devido ao intenso choque geológico entre as placas tectónicas indiana e euro-asiática, o lago tem uma profundidade máxima de 93,5 metros. A superfície do lago apresenta um contorno em forma de ferradura e nele distribuem-se três penínsulas alongadas e cinco pequenas ilhas independentes.

A norte do lago ergue-se a Montanha da Deusa Gemu, com mais de 3700 metros de altitude. Segundo as lendas e mitos Mosuo, esta montanha representa a encarnação de Gemu, a divindade protetora deste povo.

As águas do Lago Lugu são límpidas e transparentes, com uma visibilidade de cerca de 12 metros. Rodeado por cadeias montanhosas, o lago oferece uma paisagem que apaixona à primeira vista. Ao longo do dia, a paisagem transforma-se consoante o ângulo da luz solar, revelando diferentes rostos da sua beleza natural.

Durante a Peregrinação em Torno da Montanha, realizada todos os anos, os Mosuo vestem trajes festivos e prestam homenagem à Montanha  da Deusa Gemu, junto às margens do Lago Lugu.
Durante a Peregrinação em Torno da Montanha, realizada todos os anos, os Mosuo vestem trajes festivos e prestam homenagem à Montanha da Deusa Gemu, junto às margens do Lago Lugu.

De manhã cedo, o lago encontra-se envolto numa névoa suave, criando uma atmosfera etérea e onírica. Ao nascer do sol, a luz dourada banha a superfície da água, que passa gradualmente de um verde-esmeralda para um azul límpido, com tonalidades bem definidas. Ao entardecer, tons de laranja e violeta tingem o céu, e o lago, qual espelho, reflete o esplendor do horizonte colorido.

Cao Hai (Mar de Ervas) é um marco incontornável no Lago Lugu. Esta zona é, na verdade, um reino de caniços, onde aves migratórias se refugiam no inverno e o verde se espalha por toda a parte na primavera e no verão.

Há uma ponte de madeira com cerca de 300 metros de comprimento, conhecida como a “Ponte dos Amantes”, que atravessa Cao Hai. É o local ideal para dar um passeio e tirar fotografias, mas tem também um significado cultural profundo: é esta ponte que os homens Mosuo atravessam para chegar à casa das mulheres e realizar os rituais de matrimónio tradicionais.

Nas margens do Lago Lugu vivem sete minorias étnicas, incluindo os povos Mosuo, Pumi e Yi, sendo os primeiros os mais representativos. Os Mosuo são o único povo na China que ainda mantém uma estrutura social matrilinear, sendo amplamente conhecidos pela sua cultura matriarcal singular. Neste modelo familiar, o poder reside nas mãos das mulheres, que ocupam uma posição central e respeitada no seio da família.

A Ponte dos Amantes é a única a atravessar o Lago Lugu e constitui  um símbolo da cultura de “casamento ambulante” dos Mosuo.
A Ponte dos Amantes é a única a atravessar o Lago Lugu e constitui um símbolo da cultura de “casamento ambulante” dos Mosuo.

Até hoje, os Mosuo continuam a preservar os costumes deste sistema matriarcal, sendo o mais notável o chamado “casamento ambulante”. Neste costume, homens e mulheres jovens estabelecem uma relação afetiva através de canções tradicionais e da troca de objetos simbólicos. Uma vez formado o vínculo, o homem visita a casa da mulher durante a noite para consumar o casamento, regressando à sua própria casa ao amanhecer. Ao longo da vida, cada membro do casal continua a viver com a sua família materna, e os filhos nascidos desta união são criados pela família da mãe.

Esta forma incomum de união conjugal pode, à primeira vista, ser interpretada como uma busca pela liberdade individual, mas, na realidade, não é assim. Os Mosuo encaram o “casamento ambulante” com seriedade, tratando-se de uma convenção social que obedece a princípios éticos e morais específicos.

Por exemplo, a relação deve basear-se em sentimentos mútuos entre homem e mulher, a mulher não pode manter simultaneamente relações de “casamento ambulante” com vários parceiros, uniões entre pessoas com laços de parentesco sanguíneo são estritamente proibidas e, se o vínculo afetivo se romper, ambas as partes podem decidir, de forma consensual, pôr fim à relação. Se uma das partes for infiel ou quebrar os acordos estabelecidos, esse comportamento é considerado impróprio à luz das normas de cortesia e conduta social da comunidade.

Além do “casamento ambulante”, os Mosuo mantêm também tradições culturais como a dança jiacuo em torno da fogueira, que tem origem nos movimentos do trabalho quotidiano deste povo e é geralmente realizada em ocasiões como a celebração da colheita, festividades e rituais de invocação espiritual. Outro exemplo importante é a grandiosa cerimónia de culto, que tem lugar anualmente no dia 25 do sétimo mês do calendário lunar. Nessa data, os Mosuo sobem à Montanha da Deusa Gemu para realizar um ritual ancestral que perdura há milénios, fazendo votos de que, sob a proteção dela, o Lago Lugu - lar dos Mosuo ao longo das gerações - continue a ser um lugar cheio de esperança e felicidade.

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