A herdade que João Moura Jr. comprou há nove anos a Inácio Ramos - curiosamente ao mesmo homem que lhe pagou os primeiros honorários da carreira, aos 14 anos -, permitiu-lhe cumprir o sonho de ter o seu pedaço de campo. Em Évora, faz a vida entre a agricultura e os animais que cria - duas dezenas de cavalos que treina diariamente, vacas mansas e touros de ganadaria brava que não lida em praça mas cumprem a sua missão nos treinos que faz na herdade. "Tenho o meu canto, que é um sonho desde pequeno. Mas nestes tempos de crise tem-me saído do pelo", admite, sentado na sala comum do lindíssimo Convento do Espinheiro, onde nos servem café e Coca-Cola, chips e bolinhos para nos adoçar a conversa..Quem o veja, entre o discurso tímido e o sorriso franco que se torna riso com facilidade, não lhe dá os quase 33 anos que já conta no calendário. E muito menos os 15 de alternativa, que neste ano celebra com um calendário de corridas cheio, concentrado em Portugal por opção. "Tenho 15 anos de alternativa e muitos mais de corridas antes e sempre toureei em Espanha, França, Equador, Colômbia, Estados Unidos... Já passei por toda a parte onde há tauromaquia, mas neste ano quis celebrar aqui. Sinto-me muito português, gosto de dar o máximo em Portugal e a temporada planteia-se da melhor maneira. Agora, que haja sorte.".Com um novo apoderado a guiá-lo desde dezembro - o ex-forcado dos Amadores de Lisboa Francisco Mira, que com Moura Jr. se estreia como empresário -, diz que abre o ano com "um novo repto para os dois", amigos de quase sempre. Mesmo porque os dois cresceram nos toiros. "Isto é coisa de nascença, em bebé já eu montava a cavalo e nem me lembro da primeira vez que me pus à frente de um toiro", conta-me, garantindo que a nada foi obrigado. Foi mesmo a paixão que o levou a seguir as pegadas do pai - e a infraestrutura que este já tinha apenas ajudou a concretizar o sonho de ser cavaleiro tauromáquico. "Faço o que mais gosto, sou realizado. E quero passar isto mesmo à minha filha, que tem 4 anos e é louca por animais." Dá um passo atrás: "Mas ela não vai ser toureira... espero que não", emenda, a recordar o perigo que tantas vezes enfrentou na arena. "Ela fala nisso, diz que vai ser veterinária durante a semana e toureira ao fim de semana", ri-se. encolhe os ombros: "Se ela o quiser mesmo, terá todo o meu apoio, claro, mas acho que o caminho dela será outro, talvez dressage.".Aos quatro anos, Conchita já tem "muita noção da profissão do pai" e "muito respeito pelos animais", cujo modo de vida vai aprendendo na herdade e nas ganadarias, ainda sem os sustos que o pai já acumula no currículo - "faz parte da profissão, mas alguns metem-nos as costas para dentro... mas depois recuperamos e voltamos. É o que nos traz tanta verdade nesta profissão. Somos os artistas mais verdadeiros, não há aqui duplos." Mas se o pai tem milhões, ele não vive de superstições. "Isso são coisas a que a gente se agarra para deitarmos culpas quando alguma coisa corre mal.".A temporada arrancou há menos de um mês com o Festival da Moita, com João Moura Jr. a marcar presença no Dia da Tauromaquia e feliz com o público, "muito e com muita gente nova, que é o que temos de levar mais às corridas". Hoje, é a Praça de Santarém que o recebe, também com casa cheia prevista - 11 mil pessoas na assistência e um cartel que promete, que descreve sem hesitar: "São três dinastias, Moura, Telles e Salgueiro, numa corrida séria de Veiga Teixeira, com os forcados da Moita e de Santarém. Está muito bem montada e já tem muitos bilhetes vendidos", entusiasma-se. É o primeiro ano que se prevê normal, depois de dois de pandemia, com muitas dificuldades e restrições, que não lhe deram mais de uma dezena de corridas nos dois anos somados. "Mas tivemos a sorte que não tiveram outros espetáculos culturais, ainda se conseguiu fazer alguma coisa, a força da tauromaquia esteve lá e conseguimos", diz, a pender sempre mais para o sol do que para a sombra. Agora pode voltar em pleno. "Haja saúde, sorte e trabalho, e tudo se faz.".É essa a postura que tem também em relação ao que mais o tem preocupado: a crise brutal que a escalada de preços motivada pela guerra da Ucrânia tem espalhado pela Europa, depois de uma pandemia cujos efeitos ainda estão longe de ultrapassados. Se os últimos anos foram duros, este está a ser incomparavelmente pior. "Mesmo porque à guerra juntou-se a seca e a comida produz-se no campo. Nesta altura, é suposto os animais terem pasto de sobra para comer. Mas não têm, está tudo seco. Temos de comprar alimentos porque com o que o campo está a dar eles não aguentam.".É preocupação genuína que lhe ensombra o olhar, antes de reencontrar o ânimo na certeza de que o pior momento há de passar. "Eles têm de comer, por isso temos de lhes dar comida e água. Eu adoro animais, não os posso ver magros, e nem que faça das tripas coração tudo farei para eles estarem bem - e para a carne chegar boa ao consumidor.".Alimentar um toiro até aos 4 anos custa no mínimo 3 mil euros. João Moura Jr. tem mais de duas dezenas. Que se juntam às 90 vacas com bezerros, a quem tem de garantir dois fardos de feno por dia - some-se mais 140 euros - e quatro sacas de tacos de ração que custam 12 euros cada. Por dia. A que se junta a fatura dos cavalos. "A despesa é muita porque não há pasto... os animalistas não têm a noção do que isto é", desabafa, pondo a fasquia dos atuais custos diários na manutenção dos animais da sua herdade nos 600 euros..Nada que o faça arrepender-se da vida que escolheu. E ainda menos daquilo a que chama a sua profissão: a tauromaquia. Diz até que foi fácil escolher essa arte: "Tive a sorte de ter uma estrutura à disposição, porque qualquer miúdo que se quer iniciar nesta profissão vai ter gastos muito grande, é economicamente difícil dar este passo. Para mim, foi melhor também porque aos 13/14 anos já ganhava dinheiro como praticante. Porque isto é uma paixão, mas também é um negócio, é uma profissão", vinca..Tem ideias e objetivos bem definidos na cabeça desde o dia em que tirou a alternativa, numa corrida que não esquece na sua praça portuguesa preferida: o Campo Pequeno. "Tive o cartel que sempre sonhei, estava na minha praça dos sonhos, com o meu pai como padrinho e o Pablo Hermoso Mendoza como testemunha e correu mesmo bem", recorda. Elogio o toureio do irmão Miguel, sete anos mais novo, e vê também potencial em Tomás, que tem metade da idade dele e "também gosta muito de tourear, mas não sei se vai seguir a carreira...".Não é uma vida fácil. Todos os dias, João acorda ao amanhecer, dá a volta pelo campo e faz a ronda aos animais, antes de treinar com vários cavalos - em tempo de corridas, são oito horas de treino por dia. "Os cavalos têm de estar bem treinados, cavaleiro e cavalo são uma só peça, tem de haver conjugação completa. E a mecânica diária é essencial para estarem certinhos na corrida", explica, antes de revelar o grande apoio que tem na mulher, Concha Rodriguez - que conheceu em Badajoz, onde passava grandes temporadas com amigos, e com quem está há 14 anos -, higienista dental em Évora, mas que com ele partilha as tarefas da herdade..Se todos os cavaleiros têm um cavalo preferido, João Moura Jr. não é exceção. O Hostil faz os seus encantos, brilham-lhe os olhos de memórias dos seus feitos enquanto me descreve o "cavalo mais importante" da sua carreira. "Consegui modernizar uma sorte, a chamada mourina, em que o cavalo em vez de ir a galopar para o touro vem de arrecuas. É uma sorte que eu modernizei há três anos e aquele cavalo faz diferente na praça, ele nasceu para aquilo", conta, atribuindo à baixa estatura parte da capacidade (1,57m), mas reconhecendo-lhe na "personalidade fora do vulgar" do animal os maiores créditos..Pergunto-lhe se já pensou quando vai retirar-se e nem pestaneja, apesar dos poucos anos: "Já pensei nisso, sim. Espero não estar muito mais anos porque quero parar em bom. Gostava de parar cedo." E a seguir, será no campo a sua vida? "Tenho a minha agricultura e quero continuar a crescer nessa parte, continuar a montar a cavalo... Arrependo-me de não ter tirado um curso, gostava de ter feito veterinária. Talvez ainda me anime quando tiver mais tempo, mas quando comecei nesta profissão toureava 50 a 60 corridas todos os anos. Era impossível. Para ser bom, tem de se estar concentrado. Mas definitivamente não é uma porta fechada, talvez realize esse sonho ainda.".Sobre os que não gostam da festa, defende que nem todos têm de ser aficionados, desde que haja liberdade. "Os animalistas só conhecem a realidade através do computador, não sabem nada do campo." E a dar provas do que diz, apresenta a carta de Franco Cuesta, que se apresenta como "antitaurino mas também antianimalista", "porque teve o cuidado de ver como as coisas são, de visitar, e respeita. É o que faz falta aqui, que vão visitar uma ganadaria, uma leitaria, vão a casa de um agricultor - e então podem falar com conhecimento".Quanto a João Moura Jr., já abre as portas da sua herdade "a aficionados e não só". E garante que quem por ali passa quer voltar. "Cada um gosta do que gosta, tem de haver liberdade.".Do caso que levou o pai a tribunal, acusado de maus-tratos aos cães, prefere não falar. Diz apenas que não sabe "se ele pecou ou não, mas se sim pagará por isso. Mas nem tudo é o que parece."Quanto aos sonhos que ainda tem por realizar em praça, tornar a sair de Las Ventas, a maior de Madrid e das maiores do mundo, está no topo, logo a seguir a tourear na maior de todo o mundo, a Plaza México (46 815 lugares sentados). "Já realizei uma das coisas que ambicionava: sair pela porta grande de Las Ventas, mas foi só uma vez... o meu pai já saiu nove! E já toureei seis toiros no Campo Pequeno, outro sonho concretizado." Dos públicos que vai encontrando, diz que é com o português que mais se identifica - "é muito aficionado ao toureio a cavalo, muito entendido, gosta que haja verdade, é exigente", mas gosta também da alegria de Espanha, onde apreciam mais "o movimento, a interação com o público, que os cavalos dancem... é mais festivo". Mas seja como for o público, é na arena que o espetáculo acontece. "E a verdade se dá."
A herdade que João Moura Jr. comprou há nove anos a Inácio Ramos - curiosamente ao mesmo homem que lhe pagou os primeiros honorários da carreira, aos 14 anos -, permitiu-lhe cumprir o sonho de ter o seu pedaço de campo. Em Évora, faz a vida entre a agricultura e os animais que cria - duas dezenas de cavalos que treina diariamente, vacas mansas e touros de ganadaria brava que não lida em praça mas cumprem a sua missão nos treinos que faz na herdade. "Tenho o meu canto, que é um sonho desde pequeno. Mas nestes tempos de crise tem-me saído do pelo", admite, sentado na sala comum do lindíssimo Convento do Espinheiro, onde nos servem café e Coca-Cola, chips e bolinhos para nos adoçar a conversa..Quem o veja, entre o discurso tímido e o sorriso franco que se torna riso com facilidade, não lhe dá os quase 33 anos que já conta no calendário. E muito menos os 15 de alternativa, que neste ano celebra com um calendário de corridas cheio, concentrado em Portugal por opção. "Tenho 15 anos de alternativa e muitos mais de corridas antes e sempre toureei em Espanha, França, Equador, Colômbia, Estados Unidos... Já passei por toda a parte onde há tauromaquia, mas neste ano quis celebrar aqui. Sinto-me muito português, gosto de dar o máximo em Portugal e a temporada planteia-se da melhor maneira. Agora, que haja sorte.".Com um novo apoderado a guiá-lo desde dezembro - o ex-forcado dos Amadores de Lisboa Francisco Mira, que com Moura Jr. se estreia como empresário -, diz que abre o ano com "um novo repto para os dois", amigos de quase sempre. Mesmo porque os dois cresceram nos toiros. "Isto é coisa de nascença, em bebé já eu montava a cavalo e nem me lembro da primeira vez que me pus à frente de um toiro", conta-me, garantindo que a nada foi obrigado. Foi mesmo a paixão que o levou a seguir as pegadas do pai - e a infraestrutura que este já tinha apenas ajudou a concretizar o sonho de ser cavaleiro tauromáquico. "Faço o que mais gosto, sou realizado. E quero passar isto mesmo à minha filha, que tem 4 anos e é louca por animais." Dá um passo atrás: "Mas ela não vai ser toureira... espero que não", emenda, a recordar o perigo que tantas vezes enfrentou na arena. "Ela fala nisso, diz que vai ser veterinária durante a semana e toureira ao fim de semana", ri-se. encolhe os ombros: "Se ela o quiser mesmo, terá todo o meu apoio, claro, mas acho que o caminho dela será outro, talvez dressage.".Aos quatro anos, Conchita já tem "muita noção da profissão do pai" e "muito respeito pelos animais", cujo modo de vida vai aprendendo na herdade e nas ganadarias, ainda sem os sustos que o pai já acumula no currículo - "faz parte da profissão, mas alguns metem-nos as costas para dentro... mas depois recuperamos e voltamos. É o que nos traz tanta verdade nesta profissão. Somos os artistas mais verdadeiros, não há aqui duplos." Mas se o pai tem milhões, ele não vive de superstições. "Isso são coisas a que a gente se agarra para deitarmos culpas quando alguma coisa corre mal.".A temporada arrancou há menos de um mês com o Festival da Moita, com João Moura Jr. a marcar presença no Dia da Tauromaquia e feliz com o público, "muito e com muita gente nova, que é o que temos de levar mais às corridas". Hoje, é a Praça de Santarém que o recebe, também com casa cheia prevista - 11 mil pessoas na assistência e um cartel que promete, que descreve sem hesitar: "São três dinastias, Moura, Telles e Salgueiro, numa corrida séria de Veiga Teixeira, com os forcados da Moita e de Santarém. Está muito bem montada e já tem muitos bilhetes vendidos", entusiasma-se. É o primeiro ano que se prevê normal, depois de dois de pandemia, com muitas dificuldades e restrições, que não lhe deram mais de uma dezena de corridas nos dois anos somados. "Mas tivemos a sorte que não tiveram outros espetáculos culturais, ainda se conseguiu fazer alguma coisa, a força da tauromaquia esteve lá e conseguimos", diz, a pender sempre mais para o sol do que para a sombra. Agora pode voltar em pleno. "Haja saúde, sorte e trabalho, e tudo se faz.".É essa a postura que tem também em relação ao que mais o tem preocupado: a crise brutal que a escalada de preços motivada pela guerra da Ucrânia tem espalhado pela Europa, depois de uma pandemia cujos efeitos ainda estão longe de ultrapassados. Se os últimos anos foram duros, este está a ser incomparavelmente pior. "Mesmo porque à guerra juntou-se a seca e a comida produz-se no campo. Nesta altura, é suposto os animais terem pasto de sobra para comer. Mas não têm, está tudo seco. Temos de comprar alimentos porque com o que o campo está a dar eles não aguentam.".É preocupação genuína que lhe ensombra o olhar, antes de reencontrar o ânimo na certeza de que o pior momento há de passar. "Eles têm de comer, por isso temos de lhes dar comida e água. Eu adoro animais, não os posso ver magros, e nem que faça das tripas coração tudo farei para eles estarem bem - e para a carne chegar boa ao consumidor.".Alimentar um toiro até aos 4 anos custa no mínimo 3 mil euros. João Moura Jr. tem mais de duas dezenas. Que se juntam às 90 vacas com bezerros, a quem tem de garantir dois fardos de feno por dia - some-se mais 140 euros - e quatro sacas de tacos de ração que custam 12 euros cada. Por dia. A que se junta a fatura dos cavalos. "A despesa é muita porque não há pasto... os animalistas não têm a noção do que isto é", desabafa, pondo a fasquia dos atuais custos diários na manutenção dos animais da sua herdade nos 600 euros..Nada que o faça arrepender-se da vida que escolheu. E ainda menos daquilo a que chama a sua profissão: a tauromaquia. Diz até que foi fácil escolher essa arte: "Tive a sorte de ter uma estrutura à disposição, porque qualquer miúdo que se quer iniciar nesta profissão vai ter gastos muito grande, é economicamente difícil dar este passo. Para mim, foi melhor também porque aos 13/14 anos já ganhava dinheiro como praticante. Porque isto é uma paixão, mas também é um negócio, é uma profissão", vinca..Tem ideias e objetivos bem definidos na cabeça desde o dia em que tirou a alternativa, numa corrida que não esquece na sua praça portuguesa preferida: o Campo Pequeno. "Tive o cartel que sempre sonhei, estava na minha praça dos sonhos, com o meu pai como padrinho e o Pablo Hermoso Mendoza como testemunha e correu mesmo bem", recorda. Elogio o toureio do irmão Miguel, sete anos mais novo, e vê também potencial em Tomás, que tem metade da idade dele e "também gosta muito de tourear, mas não sei se vai seguir a carreira...".Não é uma vida fácil. Todos os dias, João acorda ao amanhecer, dá a volta pelo campo e faz a ronda aos animais, antes de treinar com vários cavalos - em tempo de corridas, são oito horas de treino por dia. "Os cavalos têm de estar bem treinados, cavaleiro e cavalo são uma só peça, tem de haver conjugação completa. E a mecânica diária é essencial para estarem certinhos na corrida", explica, antes de revelar o grande apoio que tem na mulher, Concha Rodriguez - que conheceu em Badajoz, onde passava grandes temporadas com amigos, e com quem está há 14 anos -, higienista dental em Évora, mas que com ele partilha as tarefas da herdade..Se todos os cavaleiros têm um cavalo preferido, João Moura Jr. não é exceção. O Hostil faz os seus encantos, brilham-lhe os olhos de memórias dos seus feitos enquanto me descreve o "cavalo mais importante" da sua carreira. "Consegui modernizar uma sorte, a chamada mourina, em que o cavalo em vez de ir a galopar para o touro vem de arrecuas. É uma sorte que eu modernizei há três anos e aquele cavalo faz diferente na praça, ele nasceu para aquilo", conta, atribuindo à baixa estatura parte da capacidade (1,57m), mas reconhecendo-lhe na "personalidade fora do vulgar" do animal os maiores créditos..Pergunto-lhe se já pensou quando vai retirar-se e nem pestaneja, apesar dos poucos anos: "Já pensei nisso, sim. Espero não estar muito mais anos porque quero parar em bom. Gostava de parar cedo." E a seguir, será no campo a sua vida? "Tenho a minha agricultura e quero continuar a crescer nessa parte, continuar a montar a cavalo... Arrependo-me de não ter tirado um curso, gostava de ter feito veterinária. Talvez ainda me anime quando tiver mais tempo, mas quando comecei nesta profissão toureava 50 a 60 corridas todos os anos. Era impossível. Para ser bom, tem de se estar concentrado. Mas definitivamente não é uma porta fechada, talvez realize esse sonho ainda.".Sobre os que não gostam da festa, defende que nem todos têm de ser aficionados, desde que haja liberdade. "Os animalistas só conhecem a realidade através do computador, não sabem nada do campo." E a dar provas do que diz, apresenta a carta de Franco Cuesta, que se apresenta como "antitaurino mas também antianimalista", "porque teve o cuidado de ver como as coisas são, de visitar, e respeita. É o que faz falta aqui, que vão visitar uma ganadaria, uma leitaria, vão a casa de um agricultor - e então podem falar com conhecimento".Quanto a João Moura Jr., já abre as portas da sua herdade "a aficionados e não só". E garante que quem por ali passa quer voltar. "Cada um gosta do que gosta, tem de haver liberdade.".Do caso que levou o pai a tribunal, acusado de maus-tratos aos cães, prefere não falar. Diz apenas que não sabe "se ele pecou ou não, mas se sim pagará por isso. Mas nem tudo é o que parece."Quanto aos sonhos que ainda tem por realizar em praça, tornar a sair de Las Ventas, a maior de Madrid e das maiores do mundo, está no topo, logo a seguir a tourear na maior de todo o mundo, a Plaza México (46 815 lugares sentados). "Já realizei uma das coisas que ambicionava: sair pela porta grande de Las Ventas, mas foi só uma vez... o meu pai já saiu nove! E já toureei seis toiros no Campo Pequeno, outro sonho concretizado." Dos públicos que vai encontrando, diz que é com o português que mais se identifica - "é muito aficionado ao toureio a cavalo, muito entendido, gosta que haja verdade, é exigente", mas gosta também da alegria de Espanha, onde apreciam mais "o movimento, a interação com o público, que os cavalos dancem... é mais festivo". Mas seja como for o público, é na arena que o espetáculo acontece. "E a verdade se dá."