Jane Fonda: ginástica em casa e o ativismo não diminui

Ficar em casa não é sinónimo de ficar parado. Pode-se sempre ir buscar inspiração ao clássico vídeo de aeróbica de Jane Fonda e, pelo caminho, conhecer melhor a história desta atriz, ativista e guru do bem-estar físico.
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"Se não pode sair de casa, procure um vídeo de exercício online, dance, faça yoga ou suba e desça as escadas." Eis alguns conselhos dados pelo diretor-geral da Organização Mundial de Saúde, Tedros Adhanom Ghebreyesus, a quem deve permanecer em isolamento, devido à atual pandemia, mas mantendo o corpo ativo. De facto, é quase certo que o sedentarismo surge como uma consequência direta do "estar em casa" e, para contrariar isso, nada como regressar à energia da grande maga do vídeo de ginástica mais vendido dos anos 1980, que pôs a mexer as mulheres americanas (e não só): Jane Fonda.

Nestes dias em que é preciso arranjar alternativas ao ginásio, recuperar o célebre Jane Fonda"s Workout pode ser uma bênção para todos nós reclusos do vírus covid-19. São duas secções de exercícios de aeróbica que deixam algumas dores nas primeiras vezes, causadas sobretudo pelos alongamentos, mas depois produzem uma gradual sensação de bem-estar. Não será por acaso que esse primeiro vídeo fez um gigantesco sucesso, com 17 milhões de cópias vendidas, depois de um best-seller - Jane Fonda"s Workout Book - que esteve dois anos no top do New York Times... Está na hora de regressar à sabedoria dos "antigos"?

Hoje com 82 anos e umas plásticas faciais bem conseguidas, Fonda continua em plena forma, e não apenas física. Meses antes da evolução do vírus, eram frequentes as notícias de que tinha sido presa, envergando sempre um casaco vermelho, em manifestações pacíficas pelo clima; e ainda na cerimónia dos Óscares deste ano a vimos, com esse bendito casado pendurado num braço, entregar a estatueta mais importante da noite a um vencedor histórico, o coreano Bong Joon-ho e o seu Parasitas.

Agora, fechada em casa, não cessa a luta. No seu blog, continua a sensibilizar a consciência dos seus seguidores para as questões climáticas, pedindo que o covid-19 não as anule no debate público. E fá-lo com um tom jovial. Veja-se o início do seu mais recente texto, cujo conteúdo é um apelo à proteção das pessoas por parte do regime democrático: "Okay, vamos começar com o superficial: as minhas unhas estão a ficar tão grandes que mal posso escrever no teclado. Mas elas são de acrílico e não as posso cortar". Resumindo, é impossível resistir a uma mulher que consegue ser, ao mesmo tempo, um eterno ícone de beleza, com todos os deliciosos detalhes de estilo, e uma ativista brava.

Jane Fonda em cinco passos

Estes dois lados, só aparentemente contraditórios, estão expostos em Jane Fonda in Five Acts, um documentário de Susan Lacy disponível na HBO, que dá a conhecer a mulher por detrás da estrela, as suas diversas facetas e uma vida em constante mudança (ou "revolução contínua", como lhe chama). Filha do ator "monumento nacional" Henry Fonda, Jane revela aqui como foi crescer na sombra da celebridade do pai, gerir a carreira e a descoberta da sua própria identidade longe dele: a ida para França, nos tempos da Nouvelle Vague, o casamento com o realizador galã Roger Vadim, a rodagem do hilariante Barbarella (1968), o nascimento da sua primeira filha e de um espírito ativista moldariam a sua personalidade.

Foi precisamente através deste distanciamento geográfico que Fonda criou uma nova sensibilidade para o cenário americano, construindo sobre ele uma visão política. De regresso à casa do pai, começou a saltitar entre reuniões com os Panteras Negras (chegou a ser presa, já na altura) e vários movimentos antiguerra. É famoso o episódio vietnamita da fotografia com o inimigo, considerada o símbolo da sua "traição" aos soldados americanos, e toda a escalada de difamação, acicatada pela imprensa, que marcou a sua imagem pública durante algum tempo - uma circunstância que ainda lamenta porque não conseguiu deixar bem esclarecida no tempo devido.

E é no meio disto que surge o Jane Fonda"s Workout, livro e vídeo, uma moda que lhe renovou a imagem mediática e revolucionou o bem-estar físico das mulheres americanas. Em cinco capítulos, por vezes muito comoventes, o documentário de Lacy dá conta da grande ginástica que foi, e tem sido, a vida da atriz de Cat Ballou e Klute, entre diferentes cortes de cabelo, maridos e filmes, Hollywood, política, feminismo, a memória trágica da mãe e a reconciliação com o pai. No fim de contas, uma história de pais e filhos, fantasmas íntimos, e o saber estar em forma por dentro e por fora.

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