O Lego está de volta e é de outra galáxia
O sucesso dos filmes de animação Lego é fácil de perceber. Estas peças de marca registada continuam a fazer as delícias dos mais novos, tal como fizeram as dos pais. E isso é um dado muito curioso, em tempos dominados pela cultura do digital. Ainda sabemos construir alguma coisa com as mãos, para além do toque diário em ecrãs?
Talvez seja essa nostalgia que está por trás do apelo de se ver os bonequinhos de plástico ganharem vida no grande ecrã da sala de cinema. E também por isso estas produções conservam sempre, dentro do próprio filme, a narrativa do mundo real - mostrando as peças como brinquedos habituais no quarto das crianças - relacionada com os acontecimentos do universo paralelo das aventuras na cidade Lego de Bricksburg.
Realizado por Mike Mitchell, e com argumento da dupla Phil Lord e Christopher Miller (os criadores do primeiro título), O Filme Lego 2 volta com o simples e bondoso herói Emmet, novamente incumbido de salvar o dia. Desta feita, a metrópole de Lego é invadida por uma nave que lança granadas em forma de corações e estrelas fofinhas, e alguns dos seus habitantes são raptados e levados para outra galáxia de cores amorosas, onde se tocam canções viciantes e hipnotizantes. Entre esses residentes encontra-se Lucy, a cara-metade de Emmet, e Batman, o personagem que é uma paródia com pernas e capa, que aqui será pedido em casamento pela rainha da tal galáxia... Ao que parece, uma megera com intenções de provocar um apocalipse através desse matrimónio.
Com as peripécias intergalácticas ambientadas neste cenário colorido, alegre e guloso, o filme aproveita cada momento - e isso, como se nota, é o trabalho vincado dos argumentistas - para fazer piadas incessantes com inúmeras referências da cultura popular, desde uma réplica da distopia Mad Max às personagens de O Feiticeiro de Oz, passando por alusões ao músico Elliot Smith ou à banda Nirvana (repare-se no espetro...). Por outras palavras: quem são os espectadores de O Filme Lego 2? As crianças não percebem mais de metade do humor, e para os pais, que o percebem, não será tão apetecível ver esta animação numa versão dobrada - a única que circula nas nossas salas. Por muita qualidade que possa ter, não é do mesmo calibre da original.
É um caso bicudo este, porque, mesmo sem golpe de mestre, O Filme Lego 2 procura aliar o básico da diversão, os bons valores e algumas larachas inteligentes numa animação talhada para um agradável programa familiar. Mas assim, nem as crianças desfrutam completamente, nem os adultos podem apreciar o verdadeiro dialeto da comédia. Restam as canções para animar a malta.
** Com interesse