Morreu Gloria Vanderbilt, herdeira e ícone de moda dos anos 1970

A morte, aos 95 anos, foi anunciada pelo filho, o jornalista da CNN Anderson Cooper.
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Gloria Vanderbilt, a "pobre rapariga rica" que era herdeira de uma das maiores fortunas familiares da história dos EUA e se tornou num ícone da moda nos anos 1970 com o design de calças de ganga, morreu esta segunda-feira aos 95 anos, anunciou o filho, o jornalista da CNN Anderson Cooper.

Num obituário na primeira pessoa, que foi transmitido pela CNN, Cooper disse que a mãe morreu ao lado dos amigos e da família em casa. Tinha um cancro no estômago.

"Gloria Vanderbilt era uma mulher extraordinária, que amava a vida e viveu-a nos seus próprios termos", disse Cooper. "Era pintora, escritora, designer, mas também uma incrível mãe, mulher e amiga. Ela tinha 95 anos, mas perguntem a qualquer pessoa próxima e ela dirá que era a mais jovem pessoa que conheciam, a mais cool, a mais moderna", referiu.

Vanderbilt, bisneta do magnata Cornelius Vanderbilt, tornou-se num ícone da moda nos anos 1970 graças uma linha de jeans que levavam o seu nome e o logo de um cisne. Eram uma peça obrigatória para as mulheres com estilo.

Vanderbilt contou nas suas memórias que, em criança, pensou tornar-se freira, mas acabaria por viver uma vida que deu dezenas de histórias para novelas, romances, musicais da Broadway e filmes românticos.

Nascida no meio da fortuna a 20 de fevereiro de 1924, em Nova Iorque, era a trineta de Cornelius Vanderbilt, o magnata dos caminhos de ferro e dos navios do século XIX, que juntou uma das maiores fortunas do seu tempo.

Não tinha ainda dois anos quando o pai, Reginald Claypoole Vanderbilt, morreu, tendo vivido a infância na Europa com a mãe, Gloria Morgan Vanderbilt, graças ao seu fundo fiduciário, estimado em 2,5 milhões de dólares (equivalente hoje a 33 milhões de dólares).

A tia de Gloria, Gertrude Vanderbilt Whitney, que fundou o Museu de Arte Americana de Whitney, alegou que a mãe dela estava a abusar do fundo da filha, num estilo de vida que incluía uma amante, e levou-a a tribunal. Whitney ganhou a custódia de Gloria num julgamento, seguido de perto pelos jornalistas, que chegaria ao Supremo Tribunal dos EUA.

A batalha pela custódia envolveu testemunhos de vários membros da alta sociedade e declarações de tal forma sensíveis que houve dias em que os espectadores não foram autorizados no tribunal. O público seguiu de perto o destino da "pequena Gloria", que era protegida por 12 guarda-costas.

Vanderbilt disse mais tarde que ser tirada à mãe a lançou numa busca por amor e aprovação que iria durar toda a vida. Isto levaria ao seu casamento com o agente de Hollywood Pat DiCicco, de 32 anos, quando ela tinha apenas 17 anos. Divorciaram-se em 1945, quando aos 21 anos ela casou com o maestro Leopold Stokowski, que tinha 63.

O casal teve dois filhos e, quando se separaram, em 1955, Vanderbilt era vista em Nova Iorque com o cantor Frank Sinatra. Após outro divórcio, a própria Vanderbilt viu-se envolvida numa batalha pela custódia dos filhos, com Stokowski a alegar que ela não podia ser mãe porque passava muito tempo a fazer psicoterapia.

Entre 1956 e 1963, Vanderbilt foi casada com Sidney Lumet, realizador de filmes como Doze Homens e uma Sentença, Um Dia de Cão ou Serpico.

Vanderbilt casou depois com o quarto marido, o escritor Wyatt Cooper, que viria a morrer durante uma operação ao coração em 1978. Tiveram dois filhos, Anderson e Carter. Em 1988, Carter, então com 23 anos, suicidou-se atirando-se do apartamento da família no 14.º piso, apesar das tentativas da mãe para o travar.

Mais tarde escreveu nas suas memórias, "A Mother's Story", em que abordava a sua infância até ao suicídio de Carter, desencadeado por uma psicose provocada por um medicamento contra a asma. Apelidou a morte do filho como "a perda final, que me deixou desamparada" e disse que não acreditava que poderia sobreviver.

Numa entrevista ao filho Anderson, em 2012, num documentário da HBO apelidado "Nothing Left Unsaid" (Nada Fica por Dizer), revelou que pensava todos os dias naquela tragédia e que tinha ponderado saltar atrás do filho. "Houve um momento em que pensei que ia saltar atrás dele, mas depois pensei em ti... e isso impediu-me de o fazer", disse a Anderson Cooper.

Vanderbilt foi atriz, pintora, poeta e modelo antes de Hallmark comprar alguns dos seus quadros para uma linha de postais e de outros produtos de papel nos anos 1970. Antes de lançar a sua coleção de calças de ganga, que seriam um sucesso, criou tambem uma coleção e lenços. Depois expandiu o negócio para perfumes, sapatos, peças em pele e acessórios. Em 1978, vendeu a sua marca Gloria Vanderbilt e começou outra empresa de moda.

O sexto era um tema que considerava fascinante. Uma das suas memórias relatava os romances com figuras de Hollywood como Sinatra, Marlon Brando, Gene Kelly e Howard Hughes (ela era adolescente na altura), assim como com vários homens casados. Em 2009, aos 85 anos, publicou uma novela erótica, Obsession (Obsessão).

Vanderbilt também desafios as questões raciais ao namorar com o fotógrafo e realizador negro Gordon Parks, nos anos 1950. "Eu abraço tudo - a dor e o prazer, o drama e as decepções", escreveu Vanderbilt resumindo a sa vida no livro It Seemed Important at the Time (Parecia importante na altura).

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