ESTREIAS: Filme do Kazaquistão com a melhor atriz em Cannes
Cinema do Kazaquistão. Habituados que estamos a lidar com as referências dominantes da produção anglo-saxónica, eis uma expressão que talvez encaremos como descrição de um universo alienígena... Pois bem, é altura de descermos à Terra e reconhecer que no Kazaquistão (também) se faz excelente cinema.
O filme Ayka, realizado por Sergei Dvortsevoy, conseguiu mesmo destacar-se num dos grandes eventos internacionais do mundo cinéfilo. Assim, em maio de 2018, no Festival de Cannes, a intérprete principal de Ayka, a notável Samal Yeslyamova, arrebatou mesmo o prémio de melhor acriz.
A descrição mais simples, porventura mais sugestiva, do filme passa necessariamente pela presença dominante de Yeslyamova no papel da jovem Ayka. Dir-se-ia que, para retratar o misto de angústia e medo dessa mulher do Kazaquistão à deriva no labirinto de Moscovo, Dvortsevoy organizou um sistema de filmagem que tem qualquer coisa de "reportagem".
É uma sensação muito física, com a câmara "colada" à personagem, num registo que levou muitos a evocar o modo como os irmãos Dardenne seguiam a performance de Émilie Dequenne em Rosetta (1999). E não deixa de ser curioso recordar que Dequenne foi distinguida em Cannes com o mesmo prémio de Yeslyamova (sem esquecer que Rosetta foi Palma de Ouro).
Ayka é alguém que, depois de ter um filho, decide fugir do hospital em que se encontra, procurando resolver a teia de problemas em que está envolvida. Há, por certo, na narrativa de Dvortsevoy sugestões mais ou menos discretas que envolvem conotações políticas. Em todo o caso, seria demasiado fácil reduzir o filme a uma lógica banalmente "panfletária". Encontramos, aqui, uma pulsão realista que, em boa verdade, é transversal a muitas cinematografias contemporâneas (de todos os continentes). Daí que os particularismos deste drama possuam uma invulgar ressonância universal - ou como, cinematograficamente, o Kazaquistão faz fronteira com o país das nossas ideias e emoções.
DIAMANTINO - distinguido em Cannes (Semana da Crítica), o filme co-assinado por Gabriel Abrantes e Daniel Schmidt coloca em cena, de forma caricatural, um jogador português de futebol (sendo inevitável pensar em algumas associações simbólicas com Cristiano Ronaldo) que quer encontrar a sua própria redenção.
BESTA - melodrama cruel, centrado na relação entre um homem e uma mulher assombrados pelo pressentimento de qualquer coisa tão indizível quanto maligna. Escrito e realizado por Michael Pearce, o filme valeu-lhe um prémio BAFTA de revelação do ano.
TITO E OS PÁSSAROS - filme de animação proveniente do Brasil, com uma realização tripartida (Gabriel Bitar, André Catoto e Gustavo Steinberg), a provar que o universo dos desenhos animados não se esgota na produção de Hollywood.
O CARTEIRO DE PABLO NERUDA - objeto de culto na altura do seu lançamento, está de regresso a parábola sobre a escrita e o amor dirigida pelo britânico Michael Radford - foi há 25 anos que ocorreu a sua estreia.
[ https://www.youtube.com/watch?v=9BHOzLgGK7k ]