Gulangyu: uma comunidade histórica internacional de intercâmbio cultural
O Jardim Shuzhuang, em Gulangyu, foi construído em 1913 e combina harmoniosamente os elementos dos jardins clássicos chineses com a paisagem marítima da ilha.

Gulangyu: uma comunidade histórica internacional de intercâmbio cultural

Na costa sudeste da província de Fujian, na cidade de Xiamen (Amoy), encontra-se uma ilha situada a apenas 500 metros do continente e com apenas 1,88 quilómetros quadrados de área: Gulangyu.
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Conhecida como o “Jardim sobre o Mar”, esta pequena ilha não é apenas um local com paisagens naturais deslumbrantes, mas também um verdadeiro “livro de História” vivo, que regista um capítulo singular do encontro entre as culturas Oriental e Ocidental desde o século XIX até ao início do século XX.

O nome chinês desta ilha, Gulang, remete para o som das ondas do mar que, ao embater nas rochas, se assemelha ao toque de um tambor. Antes de meados do século XIX, a ilha vivia essencialmente da pesca e da agricultura, e as suas construções eram maioritariamente habitações tradicionais de estilo minnan (típico do sul de Fujian). Após a Primeira Guerra do Ópio, em 1842, Xiamen tornou-se um porto de comércio com o exterior e, graças à sua posição geográfica privilegiada e ao clima ameno, Gulangyu transformou-se rapidamente numa zona de residências consulares e de comunidades estrangeiras. O Reino Unido, os Estados Unidos e a França, entre outros 18 países, estabeleceram aí representações diplomáticas. Por- tugal também instalou oficialmente um consulado na ilha em 1902, mas infelizmente o edifício original do consulado português já não se encontra preservado.

A presença de diversos consulados conferiu a Gulangyu uma paisagem arquitetónica única, onde o estilo Ocidental e as tradições chinesas se fundem harmoniosamente. Além das casas tradicionais minnan, pode ver-se em cada recanto igrejas de estilo gótico, vivendas barrocas, moradias japonesas da época e edifícios de inspiração neoclássica ou vitoriana.

Muitos destes projetos combinam materiais e técnicas de construção Orientais e Ocidentais: o antigo consulado britânico, por exemplo, recorreu a um método típico das casas minnan, que alterna faixas de pedra de granito e tijolo vermelho, reforçando a solidez estrutural e criando um maior apelo visual.

Nos terrenos do Jardim Shu- zhuang, à beira-mar, tradicionalmente concebido ao estilo chinês, foram erguidos vários edifícios de inspiração Ocidental; já o famoso Edifício Bagua (Edifício dos Oito Trigramas), marco incontornável de Gulangyu, integra harmoniosamente a cúpula característica da arquitetura islâmica, colunas romanas e elementos decorativos chineses.

Além disso, muitos emigrantes chineses que haviam prosperado no Sudeste Asiático regressaram e construíram residências que fundem traços minnan, influências tropicais e detalhes Ocidentais, resultando num estilo único conhecido como Amoy Deco. No total, Gulangyu conserva 931 edifícios históricos de vários estilos, o que lhe valeu a alcunha de “Museu de Arquitetura das Nações”.

O Edifício Bagua integra estilos arquitetónicos Orientais e Ocidentais. Destaca-se pela fachada de tijolo vermelho, janelas e portas em arco e um telhado octogonal que simboliza os Oito Trigramas. A sua estrutura reflete tanto os princípios do feng shui chinês, como elementos da arquitetura clássica Ocidental, conferindo-lhe uma estética singular e um profundo valor histórico.
O Edifício Bagua integra estilos arquitetónicos Orientais e Ocidentais. Destaca-se pela fachada de tijolo vermelho, janelas e portas em arco e um telhado octogonal que simboliza os Oito Trigramas. A sua estrutura reflete tanto os princípios do feng shui chinês, como elementos da arquitetura clássica Ocidental, conferindo-lhe uma estética singular e um profundo valor histórico.

Gulangyu também se tornou uma porta de entrada para a música ocidental na China. A partir de meados do século XIX, a música cristã chegou à ilha com os missionários, difundindo-se das igrejas para escolas, lares e espaços sociais, e o piano tornou-se parte integrante da vida cultural local.

Nas décadas de 1980 e 1990, Gulangyu ostentava a maior densidade de pianos por habitante em toda a China, ganhando assim o título de “Ilha do Piano”. Em 2000, foi inaugurado na ilha o único Museu do Piano da China, no Jardim Shuzhuang, com cerca de uma centena de instrumentos raros e candelabros de piano de diversas origens.

A arquitectura Amoy Deco, em Gulangyu, distingue-se pelo uso de fachadas de tijolo vermelho, arcadas elegantes, azulejos esmaltados decorativos e ornamentos barrocos. A organização dinâmica das construções realça a fusão de diversas influências culturais, criando uma paisagem arquitetónica única.
A arquitectura Amoy Deco, em Gulangyu, distingue-se pelo uso de fachadas de tijolo vermelho, arcadas elegantes, azulejos esmaltados decorativos e ornamentos barrocos. A organização dinâmica das construções realça a fusão de diversas influências culturais, criando uma paisagem arquitetónica única.

Ao mesmo tempo, Gulangyu destacou-se desde o início do século XX como um importante centro de preservação e estudo da nanyin, a música tradicional minnan. Tocada com instrumentos chineses como o dongxiao (flauta vertical) e o pipa (um tipo de alaúde), e cantada em dialeto de Quanzhou, a nanyin conta já com mais de 1000 anos de história, sendo considerada um “fóssil vivo da antiga música chinesa” e reconhecida pela UNESCO como Património Cultural Imaterial da Humanidade.

Nesta pequena ilha, as harmonias elegantes do piano e os sons milenares da nanyin coexistem em perfeita sintonia, revelando o fascínio de uma cultura moldada pela confluência de diferentes tradições.

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INICIATIVA DO MACAO DAILY NEWS
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