Conhecida como o “Jardim sobre o Mar”, esta pequena ilha não é apenas um local com paisagens naturais deslumbrantes, mas também um verdadeiro “livro de História” vivo, que regista um capítulo singular do encontro entre as culturas Oriental e Ocidental desde o século XIX até ao início do século XX. . O nome chinês desta ilha, Gulang, remete para o som das ondas do mar que, ao embater nas rochas, se assemelha ao toque de um tambor. Antes de meados do século XIX, a ilha vivia essencialmente da pesca e da agricultura, e as suas construções eram maioritariamente habitações tradicionais de estilo minnan (típico do sul de Fujian). Após a Primeira Guerra do Ópio, em 1842, Xiamen tornou-se um porto de comércio com o exterior e, graças à sua posição geográfica privilegiada e ao clima ameno, Gulangyu transformou-se rapidamente numa zona de residências consulares e de comunidades estrangeiras. O Reino Unido, os Estados Unidos e a França, entre outros 18 países, estabeleceram aí representações diplomáticas. Por- tugal também instalou oficialmente um consulado na ilha em 1902, mas infelizmente o edifício original do consulado português já não se encontra preservado.A presença de diversos consulados conferiu a Gulangyu uma paisagem arquitetónica única, onde o estilo Ocidental e as tradições chinesas se fundem harmoniosamente. Além das casas tradicionais minnan, pode ver-se em cada recanto igrejas de estilo gótico, vivendas barrocas, moradias japonesas da época e edifícios de inspiração neoclássica ou vitoriana.Muitos destes projetos combinam materiais e técnicas de construção Orientais e Ocidentais: o antigo consulado britânico, por exemplo, recorreu a um método típico das casas minnan, que alterna faixas de pedra de granito e tijolo vermelho, reforçando a solidez estrutural e criando um maior apelo visual.Nos terrenos do Jardim Shu- zhuang, à beira-mar, tradicionalmente concebido ao estilo chinês, foram erguidos vários edifícios de inspiração Ocidental; já o famoso Edifício Bagua (Edifício dos Oito Trigramas), marco incontornável de Gulangyu, integra harmoniosamente a cúpula característica da arquitetura islâmica, colunas romanas e elementos decorativos chineses.Além disso, muitos emigrantes chineses que haviam prosperado no Sudeste Asiático regressaram e construíram residências que fundem traços minnan, influências tropicais e detalhes Ocidentais, resultando num estilo único conhecido como Amoy Deco. No total, Gulangyu conserva 931 edifícios históricos de vários estilos, o que lhe valeu a alcunha de “Museu de Arquitetura das Nações”.. Gulangyu também se tornou uma porta de entrada para a música ocidental na China. A partir de meados do século XIX, a música cristã chegou à ilha com os missionários, difundindo-se das igrejas para escolas, lares e espaços sociais, e o piano tornou-se parte integrante da vida cultural local.Nas décadas de 1980 e 1990, Gulangyu ostentava a maior densidade de pianos por habitante em toda a China, ganhando assim o título de “Ilha do Piano”. Em 2000, foi inaugurado na ilha o único Museu do Piano da China, no Jardim Shuzhuang, com cerca de uma centena de instrumentos raros e candelabros de piano de diversas origens.. Ao mesmo tempo, Gulangyu destacou-se desde o início do século XX como um importante centro de preservação e estudo da nanyin, a música tradicional minnan. Tocada com instrumentos chineses como o dongxiao (flauta vertical) e o pipa (um tipo de alaúde), e cantada em dialeto de Quanzhou, a nanyin conta já com mais de 1000 anos de história, sendo considerada um “fóssil vivo da antiga música chinesa” e reconhecida pela UNESCO como Património Cultural Imaterial da Humanidade.Nesta pequena ilha, as harmonias elegantes do piano e os sons milenares da nanyin coexistem em perfeita sintonia, revelando o fascínio de uma cultura moldada pela confluência de diferentes tradições.Acompanhe-nos no Instagram e no Facebook em “Vislumbres da China” para saber mais sobre a história e a cultura chinesas.