Aos 20 anos, o escocês David Yarrow estava onde todos os amantes de futebol gostariam de estar: no Mundial do México, em 1986. Ainda estudava, mas conseguiu uma credencial do jornal britânico The Times para estar presente como fotojornalista freelancer. O que ele queria mesmo era ver os jogos, mas acabaria por ser o autor de uma das fotografias mais divulgadas de Diego Maradona, o futebolista argentino que foi eleito o melhor jogador da competição e que estava ao serviço da seleção do seu país que venceu esse Mundial.David Yarrow nunca chegou a conhecer Diego Maradona pessoalmente, diz em entrevista ao DN, mas reconhece que a imagem foi determinante para o seu percurso, caminho esse, no entanto, que não passaria pela fotografia editorial. “Estava a trabalhar para o jornal Times. Mas eu ainda tinha um ano de universidade. Decidi, após esse ano, arranjar um emprego na banca de investimentos, em vez de continuar a trabalhar em fotografia ou em jornalismo”. . Uma decisão que viria a inverter mais tarde na vida, porque, admite, “a fotografia sempre foi a minha paixão”, e, ao longo dos anos, nunca deixou de fotografar e de aperfeiçoar a sua arte. Trabalhou em finanças em Wall Street e criou o seu próprio hedge fund, até que veio a crise financeira internacional. Também ele foi atingido pelo caso Bernie Madoff que abalou a praça financeira norte-americana.“Na crise financeira de 2008 eu estava tão miserável com o trabalho que decidi fazer um plano de negócios para ser um fotógrafo artístico comercialmente bem sucedido. Mas esse plano demorou cerca de cinco anos, pois só funcionaria para mim se ganhasse um milhão de euros por ano. E poucos fotógrafos conseguem fazer esse tipo de dinheiro”. . E a solução para conseguir manter o seu nível de vida dedicando-se exclusivamente à fotografia veio com uma imagem tirada em False Bay, perto da Cidade do Cabo, na África do Sul, em 2011, de um tubarão a atacar uma foca. Intitula-se Jaws e foi publicada em mais de 100 jornais e revistas mundiais nessa semana, mas o dinheiro conseguido com ela não cobriu as despesas de nove manhãs no mar e 28 horas deitado de barriga para baixo no convés de um barco à espera do momento certo. . Por causa dessa fotografia, contou David Yarrow no podcast The Tim Ferris Show, em 2020, foi contactado por um advogado do Texas que queria comprar uma cópia. Yarrow arriscou pedir 10 mil dólares e o homem disse que queria três. O fotógrafo seguiu então a senda da “fine arts photography ” e, de acordo com a galeria algarvia In The Pink , que o representa na Península Ibérica, é dos fotógrafos que mais obras vende no mundo, tendo faturado mais de 150 milhões de dólares nos últimos sete anos. . A In The Pink, fundada em 2022 em Loulé pelos colecionadores de fotografia Phil e Anja Burks, traz agora a Lisboa, num espaço temporário, entre 23 de maio e 1 de junho, a exposição Storytelling, que reúne alguns dos trabalhos do artista da última década, que estão também num livro que publicou em novembro de 2022 com o mesmo título.David Yarrow fotografa o mundo natural, lugares recônditos e, mais recentemente, começou a contar histórias com fotografias encenadas à maneira do cinema. Tem colaborado com figuras da moda e do desporto, como Cindy Crawford, Cara Delevingne, Erling Haaland, John McEnroe ou Gary Player, sobretudo para angariar dinheiro para causas ambientais e sociais, garante. . “As fotografias que contam histórias têm de ser muito poderosas para suscitar emoção. É o que eu tento fazer mais e mais, é contar histórias como faz o realizador de um filme”, diz ao DN. Em muitas fotografias junta pessoas e animais. “Não é algo muito cerebral, estou apenas a tentar oferecer uma coisa que é visualmente um pouco diferente. E se provocar um sorriso ou uma risada, ótimo. Não há nenhuma ambição de dizer que somos todos animais-humanos. Estou apenas a tentar contar histórias diferentes.”Começou a fotografar animais selvagens por volta de 2008. “Era uma área acessível, e acho que não muito bem feita, em termos de fotografia de aproximação imersiva, onde se entra na alma dos animais. Esforcei-me muito para produzir um corpo de trabalho que fosse diferente e ressoasse emocionalmente. E acho que fiz isso, seja com ursos polares, tigres ou elefantes. Houve muitas viagens, muitos fracassos, mas dedicação total”. . Apesar de financiar iniciativas ligadas à conservação da natureza, não se considera um ativista. “Vejo-me mais como um filantropo. Angariámos muito dinheiro, penso que cerca de 25 milhões de dólares para obras de caridade. Não quero entrar em debates políticos sobre conservação, há muito wokeismo na conservação. Não sou alguém que usa a câmara para pregar às pessoas. Uso a câmara para celebrar a vida.”A conversa com o DN foi por telefone, estava ele num aeroporto, em Londres, à espera de um avião para Itália, para ver locais para fotografar mais uma “história”, na Baía de Nápoles. “Estamos a trabalhar com a modelo Alexandra Ambrósio e provavelmente faremos uma cena retro voltando aos anos 1970.” . Em setembro David Yarrow lança um novo livro com a editora norte-americana Rizzoli. A Coleção terá om 150 fotografias, entre best-sellers e imagens inéditas. Terá prefácio do ator Robert Redford. .Fotografias, pinturas ou ambas? Jeff Wall ocupa MAAT até setembro.Isabel Allende: "Apenas adoro contar uma história. Não quero pregar na minha ficção".Polémica com a icónica foto "A Menina do Napalm". World Press Photo suspende atribuição de autoria à imagem