Ainda Temos o Amanhã, de Paola Cortellesi, filme de abertura com uma pitada de comédia à italiana.
Ainda Temos o Amanhã, de Paola Cortellesi, filme de abertura com uma pitada de comédia à italiana.D.R.

Festa do Cinema Italiano: filmes mais vivos do que nunca!

Desta 6.ª ao próximo dia 21, Lisboa recebe a 17ª edição da Festa do Cinema Italiano, este ano com um cartaz robusto e um elenco de convidados bem vistoso. Cinema São Jorge, Cine-Teatro Turim, UCI-El Corte Inglês, Cinemateca e, depois, mais de 20 cidades do país.
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À17ª edição da Festa do Cinema Italiano não pode haver azar. É essa a convicção de Stefano Savio, o diretor deste festival de cinema  que cada vez mais é realmente uma festa cinéfila, mesmo quando em Itália o 17 seja o nosso 13 para o azar... Filmes de grande cariz popular, memória e uma série de eventos que animam Lisboa com música e gastronomia. Trata-se da continuação da consolidação e a afirmação de uma cinematografia que cada vez é menos rara nas nossas salas.

Este ano, o ponto forte da programação volta a passar pelas antestreias que são exibidas no Cinema São Jorge, logo a começar pelo bem sugestivo Ainda Temos o Amanhã, de Paola Cortellesi recordista de bilheteiras em Itália e já com uma sessão extra esgotada nesta Festa. Trata-se de uma evocação sensível pelos direitos das mulheres na Itália com direito a um twist final carregado de simbologia.

Exemplo de um cinema com neorrealismo pop que pode servir a diversos tipos de público sem nunca perder uma percentagem de alma e coração. Quem pensar que vai à procura do filme de manifesto pelos direitos femininos talvez apanhe uma desilusão.

Importante ainda reservar atenções para mais um filme de Michelle Placido, A Sombra de Caravaggio, com Ricardo Scarmaccio, um retrato sobre o génio do pintor insubmisso, centrado sobretudo no peso da fama do artista. Além de Scarmaccio, o elenco junto Isabelle Huppert e Louis Garrel.

Uma obra-prima de um nome grande

Mas o melhor filme deste ano neste evento deverá ser o esplêndido O Rapto, do veterano Marco Bellochio, uma das suas obras-primas supremas, a história de um rapto de um menino judeu pela Igreja Católica, um crime religioso que abalou uma família numerosa judia e que manchou a honra do Papa Pio IX. Bellochio a dialogar sobre as fronteiras perigosas entre Estado e Igreja e deixar o coração do espetador a bater muito forte. O filme estreia-se logo a seguir nas salas portuguesas.

Outro dos filmes com nome desta Festa é Comandante, de Edoardo de Angelis, a obra que abriu o Festival de Veneza. Com uma estrutura clássica, narra-se a epopeia de um comandante de um submarino italiano que na Segunda Guerra Mundial salvou os tripulantes belgas de um submarino inimigo. Uma obra marcada pelo carisma do seu protagonista, Pierfrancisco Favino, e por uma gestão de tensão bem admirável.

Regresso de Lucheti

Por fim, na sessão de encerramento, no dia 21, curiosidade grande para ver o ansiado regresso de Daniele Lucheti, de novo a reunir-se com o seu ator fetiche, Elio Germano. Confidenza é um thriller sobre um homem que se apaixona por uma antiga aluna e fica ligado para ela através da revelação de um segredo íntimo. O cineasta de A Nossa Vida  verá o seu filme, mais tarde, também chegar às salas portuguesas.

Stefano Savio, já bem recuperado de um problema de saúde, sorri quando fala da qualidade dos filmes deste ano: “A qualidade é bem acima da média”, vinca, sublinhando que o lote de convidados  deste ano é fortíssimo. E tem razão: estão a chegar a Lisboa Sandro Veronesi, escritor importante no panorama italiano literário, a atriz Jasmine Trinca (descoberta a sério por Moretti em O Quarto do Filho), Emma Dante, realizadora mas, sobretudo, nome maior da encenação em Itália, e Ricardo Scarmaccio, superestrela italiana que em breve será Modigliani no biopic realizado por Johnny Depp. 

Créditos: Beatriz Pequeno.

“Cinema vivo!”

“Ao longo destes anos conseguimos um trunfo: fazer com que o cinema italiano chegasse mais regularmente às salas de Portugal. Quando começámos com a Festa, esse era um dos objetivos! Não queríamos ser apenas um evento ocasional, mas sim também desbloquear esse espaço dentro da exibição comercial de cinema. Consideramos que o cinema italiano está bem vivo e interessante. Formámos público não só para a Festa, mas também para a estreia regular dos filmes. A Festa como uma ativação do interesse do público português para o cinema italiano”, conta o diretor.

Para Stefano é também importante o facto de esta Festa do cinema italiano ter originado uma distribuidora, uma associação e a criação do Luso, uma mostra itinerante do novo cinema português em Itália - “é a nossa forma de agradecer a Portugal, levando filmes e realizadores portugueses a Itália”. 


E para os comensais...

Como sempre, esta Festa não se esquece dos foodies e há o habitual cine-jantar, este ano com uma ementa em torno de Feios, Porcos e Maus, de Ettore Scola, já na segunda-feira no Beato, no muito afamado A Praça.

“Será comida baseada no 25 de Abril e já está a esgotar! Será muito interessante e é inspirado realmente no filme, mesmo sabendo-se que aquelas personagens não comam propriamente bem. Enfim, será gastronomia popular!”.

Antes dos filmes, um aperitivo como deve de ser: amanhã na Casa do Comum, festa Lasciatemi Cantare, com karaoeke italiano e a anfitriã Paula Lovely. Porque, neste festival, a dança (e o canto) são cúmplices... “Esta edição tem uma série de eventos sociais muito fortes, com música, festa e encontros. Acho que vamos animar Lisboa, sobretudo numa altura em que os números das bilheteiras mostram que as pessoas voltaram aos cinemas a um nível semelhante ao da pré-pandemia”, confessa Stefano.

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