Ao nono filme da saga Alien as coordenadas baralham-se. Sob a égide da Disney, o monstro que Ridley Scott mostrou pela primeira vez em 1979 tem agora uma “interquel”, ou seja nem é sequela, nem prequela, narra sim o que se passou entre Alien e Aliens, contando uma aventura espacial de um grupo de trabalhadores penais que, em fuga, vai parar à nave onde uma tripulação foi quase toda morta por uma terrível força extraterrestre, ou seja, o monstro do filme inaugural..À partida, poder-se-ia pensar que estávamos na presença de uma chance oportunista de reconfigurar uma estética daquilo que Scott criou na década de 1970. Visto o filme percebe-se que, em vez de oportunismo, há respeito e vénia, mas a surpresa é que há também um gesto de cruzamento com aquilo que viria a seguir, em 1986, o Aliens - O Recontro Final, de James Cameron. Isso e uma via nova de formas refrescantes de mutação dos sustos do género de terror, coisa que este cineasta, Fede Alvarez, já tinha feito brilhantemente em Não Respires, o melhor filme de terror dos últimos anos. Uma claustrofobia com um suspense que afinal não parece a “mesma coisa”..Nos EUA, desde que o filme se estreou esta semana, parece haver uma divisão de opiniões. Percebe-se, justificadamente, que havia um pé atrás grande pelo facto de Hollywood nos querer impingir mais uma sequela de Alien..Fede Alvarez, num hotel de Londres, horas antes da antestreia europeia, conta ao DN via Zoom que percebe a desconfiança. “Ninguém diz: ‘Ó não, mais um bom filme Alien.’ As pessoas só ficam irritadas se for mais um Alien mau… aí é que está implícito o problema. Nunca há protesto quando é apenas mais um bom filme. Mas a verdade é que este é um filme feito para os fãs e para a nova geração. Entrei para esta produção a acreditar que era possível ser feito mais um grande filme nesta saga, caso contrário não o teria feito. O tempo dir-nos-á se tinha razão.”.E quando o realizador uruguaio fala de fãs, sente-se que o respeito é genuíno, sobretudo se atentarmos ao pormenor de vermos os aliens no esplendor da conceção original do falecido artista suíço H.R. Giger: “Em 1979 ele tentou que aprovassem o design do ovo do monstro em forma de vagina. O estúdio recusou, não deixou mesmo. Nós agora conseguimos! Estamos em 2024, achámos que estávamos numa época em que isso poderia passar. Penso que o Giger iria ficar feliz.”.Sobre as novidades com o alien matador, o realizador admite que quis mostrar mais do que alguma vez vimos: “Os elementos dos bichos a abraçar as caras das vítimas já estavam nos outros filmes, mas agora mostramos todo o processo. Era importante para as novas gerações verem o que as criaturas estão a tentar fazer. Só dessa maneira é que fica verdadeiramente assustador. É uma forma de dramatizar nada gratuita, sobretudo para dar ênfase a um processo de morte que estava já nas nossas cabeças. Trata-se de puro horror explícito. De resto, somos muito puristas quando aos designs originais.”.E o que é refrescante neste novo capítulo é a forma como Fede Alvarez constrói cadências de novo medo com um requinte clássico. Clássico, mas sem bafio. Para ele o importante era fazer um filme aberto a quem não conhece os anteriores Aliens: “Não quis seguir o erro de fazer um filme apenas para aqueles que conhecem tudo sobre esta série de filmes. Enfatizo: tínhamos de o criar de modo a que faça sentido para uma nova geração. Quem não conhece nenhum dos outros filmes vai conseguir ficar espantado. Na verdade, tenho ciúmes de quem nunca viu nenhum dos outros filmes!”.No final, antes de uma senhora britânica muito bem educada dizer que o tempo limitado findou-se, Fede afirma que teria prazer em regressar a estas personagens: “Depende agora dos resultados… Vamos ver se as pessoas gostam e se querem mais.”.Para ele foi também uma honra ter entrado para uma saga que além de Scott e Cameron também teve nomes como Jean-Pierre Jeunet ou David Fincher.