O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, afirmou esta segunda-feira que "recebeu com tristeza a notícia da morte de Fausto Bordalo Dias". O cantor e compositor morreu esta noite, em Lisboa, aos 75 anos, vítima de doença prolongada. .Na nota publicada no site da Presidência da República, o chefe de Estado referiu que, "ao longo de décadas", Fausto "deixou um legado musical que se confunde com a própria história de Portugal".."Fausto pertencia a uma constelação de músicos que traduziu para as canções de intervenção o sentimento do povo português, e é por isso inevitável associar o nome de Fausto aos nomes maiores da música portuguesa, como José Afonso, José Mário Branco ou Sérgio Godinho", segundo Marcelo Rebelo de Sousa..O Presidente da República terminou a nota endereçando "as mais sentidas e afetuosas condolências" aos familiares e amigos do cantor e compositor. ."Fausto Bordalo Dias morreu esta noite, em sua casa, vítima de doença prolongada", disse à Lusa o representante da agência Ao Sul do Mundo.."A música de Fausto Bordalo Dias encantou-nos durante décadas", afirma Montenegro.O primeiro-ministro, Luís Montenegro, recebeu com "profundo pesar" a notícia da morte do cantor e compositor, "que não significa o seu desaparecimento". "A música de Fausto Bordalo Dias encantou-nos durante décadas", escreveu o chefe do Governo na mensagem publicada na rede social X.."O contributo que deu à música e à portugalidade são eternos e vão continuar a inspirar-nos", acrescentou Montenegro..A ministra da Cultura, Dalila Rodrigues, manifestou "profundo pesar" pela morte de Fausto Bordalo Dias, assinalando que a sua obra fica para sempre ligada à "oposição ao regime ditatorial português" e à "resistência contra o fascismo".."Fausto legou-nos uma das mais belas memórias de Abril, uma música sublime -- 'Por este rio acima/ Os barcos vão pintados/ De muitas pinturas'", destacou a ministra..Dalila Rodrigues lembrou que Fausto "foi um músico pioneiro e renovador, cujo legado artístico é reconhecido pela forma como cantou uma parte fundamental da História portuguesa", tendo influenciado gerações de novos artisas..O ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Rangel, lamentou a morte de Fausto Bordalo Dias. ."Triste, descubro que Fausto chegou hoje às montanhas azuis. Trouxe à música popular a cor e o imaginário do universalismo português. Onde dantes havia terra e raízes, passou a haver mar, naus e asas. A música popular desatou a navegar, navegar", escreveu o chefe da diplomacia portuguesa. "Até sempre, Fausto!". concluiu Rangel..PCP recorda versão de Carvalhesa.O PCP, em comunicado, também manifestou o seu pesar pelo falecimento de Fausto Bordalo Dias, que considerou "um dos nomes marcantes da música portuguesa", salientando o seu papel enquanto compositor e cantor, "criador de muitas das mais belas canções portuguesas ao longo de toda a sua carreira artística"."O PCP jamais esquecerá o facto de Fausto Bordalo Dias ter aceite o convite, em 1985, para fazer o arranjo musical da Carvalhesa, música popular portuguesa, originária de Trás-os-Montes que acompanha a atividade política do PCP em sucessivas campanhas eleitorais e na Festa do Avante!, que desperta de forma viva e entusiástica a alegria e confiança no futuro", diz a nota de imprensa, que termina com o partido a endereçar condolências à família..O secretário-geral do PS lamentou a morte de Fausto Bordalo Dias, que considerou ser um dos "maiores cantautores portugueses", um "homem profundamente carismático, mas muito reservado" e um "cidadão atento e comprometido com as causas da cultura".."Em meu nome pessoal e do Partido Socialista, reconheço o guitarrista, o cantor, o compositor, o poeta, o cidadão atento e comprometido com as causas da cultura, manifestando o nosso profundo pesar pelo falecimento de Fausto Bordalo Dias, prestando-lhe homenagem e transmitindo à sua família e amigos as mais sentidas condolências", pode ler-se num comunicado assinado por Pedro Nuno Santos..Nesta nota, Pedro Nuno Santos lembra o percurso deste cantautor, que a partir de 1970 se iniciou na canção de protesto e a partir da Revolução de Abril se juntou "à chamada música de intervenção sempre muito acompanhado e influenciado pelos amigos de sempre, de onde se destacam José Afonso e Adriano Correia de Oliveira, mas também José Mário Branco, Vitorino e Sérgio Godinho".."Em 1974 é fundador do Grupo de Ação Cultural -- Vozes na Luta (GAC) com José Mário Branco, Afonso Dias e Tino Flores dando assim o seu contributo para a divulgação da canção portuguesa um pouco por todo o país em dezenas de sessões de canto por todo o país", recorda..O líder do PS refere ainda a década de 1980, na qual Fausto se centrou "na essência da música tradicional portuguesa e ajuda a desenvolvê-la".."Inspirado n'A Peregrinação de Fernão Mendes Pinto, reconhece-se como também ele homem da diáspora e inicia uma trilogia de álbuns à volta da história trágico marítima portuguesa e com o aclamado 'Por este rio acima' canta de forma absolutamente poética a epopeia marítima, os naufrágios e as desventuras portuguesas do tempo dos descobrimentos", lembra..Nas palavras de Pedro Nuno Santos, Fausto foi um "homem profundamente carismático, mas muito reservado" e que "sempre fugiu de grandes homenagens", tendo sido reconhecido como oficial da Ordem da Liberdade em 1994 e recebido o Prémio carreira Carlos Paredes em 1997.."Numa recente entrevista de vida à RTP no programa Primeira Pessoa, assume-se como um muito bom guitarrista apesar de reconhecer que as pessoas o reconhecem mais como cantor", aponta ainda..Sérgio Godinho fala em "carimbo" e "estétca muito própria".O cantor e escritor Sérgio Godinho lamentou a morte de Fausto, considerando que o músico e compositor "inventou uma estética muito própria" o que faz dele "alguém muito identitário".."O desaparecimento do Fausto é um acontecimento muito triste embora infelizmente esperado", disse o cantor e escritor à agência Lusa, admitindo saber que Fausto se encontrava doente.."Era um grande criador, intérprete , criador de letras e músicas e criou um universo próprio, muito pessoal e muito personalizado. A gente consegue dizer aquela canção é do Fausto porque de facto ele tinha um carimbo", frisou..Para Sérgio Godinho, Fausto "deixou uma marca muito, muito forte na música portuguesa".."Ele, de certo modo, inventou uma estética própria muito inspirada na música popular, na música de raiz, também e não só na popular portuguesa, e ele próprio seguiu essa cartilha que criou. Isso faz dele alguém muito identitário", acrescentou a propósito..Sérgio Godinho reiterou ainda que a "grande obra, a obra-prima" de Fausto foi "Por este Rio Acima", um disco "muito conceptual, que não é algo que costuma acontecer, é até raro acontecer"..Um trabalho com um "som muito próprio e muito inspirado", porque Fausto Bordalo Dias "era um compositor muito inspirado", com "belíssimas canções", "muito fortes que retratam também uma maneira muito forte de estar no mundo, muito portuguesa"..Fausto era ainda "muito bom a tocar guitarra acústica", lembrou Sérgio Godinho que logo após o 25 de Abril de 1974 privou de muito perto com o músico, por quem tinha "muita admiração", também pela "maneira pessoal e complexa como tocava guitarra"..O autor de "Os Sobreviventes" lembrou ainda a aventura a três com José Mário Branco e Fausto -- o projeto "Três Cantos" -- que, em 2009, reuniu os três para quatro concertos, dois no Campo Pequeno, em Lisboa, e dois no Coliseu do Porto, e que mais tarde daria origem a um álbum, a partir desses concertos ao vivo.."Ensaiámos muito, durante muito tempo, um grupo de 18 músicos", numa "aventura muito intensa em que nos empenhámos muito", lembrou. "Havia uma intensidade ali muito particular, porque eram os nossos três universos a cruzarem-se"..Questionado pela Lusa sobre se há uma música e uma canção portuguesa antes e depois de Fausto, Sérgio Godinho respondeu: "De certo modo, porque - lá está - ele criou uma estética própria, uma estética própria que seguiu muito essa cartilha que ele tinha criado", sublinhou..Sérgio Godinho lembrou ainda que Fausto tinha algo de perfeccionista e que trabalhava obsessivamente as canções até achar que estava tudo bem"..Fausto deixa uma marca singular na música portuguesa, realça guitarrista Rui Pato.O guitarrista Rui Pato disse que o músico Fausto Bordalo Dias deixa uma marca singular na música portuguesa.."Fausto deixou uma marca como poucos deixam", declarou o médico de Coimbra que, a partir dos anos de 1960, acompanhou à viola José Afonso em vários dos seus espetáculos e na gravação de discos..Para Rui de Melo Rocha Pato, Fausto, a par do seu amigo Zeca Afonso, ficará para a história como "grande referência" da música portuguesa dos séculos XX e XXI, "pelo génio das suas composições". .Rui Pato enalteceu a forma como o cantor e compositor, na década de 1980, "se distanciou até de um tipo de canção de protesto que estava a ser banalizada" em Portugal, alguns anos após a revolução do 25 de Abril de 1974.."Nunca lidei pessoalmente com Fausto, mas sou um admirador fervoroso dele e da sua obra", acrescentou..Na sua opinião, Fausto Bordalo Dias "foi o mais completo e original em tudo o que fez" na área musical e nas letras..Nas redes sociais, o músico Pedro Abrunhosa chamou-lhe o "inventor de estéticas", lamentando "o silêncio das rádios", "os prémios que não ganhou" e "os festivais que não fez, porque a sua música não era quadrada".."Morreste-me, Fausto. Morreste a um país inteiro cego para a Música e surdo para a Poesia. Até sempre! E perdoa a nossa miséria", partilhou Pedro Abrunhosa..Pedro da Silva Martins, músico e compositor, cofundador dos Deolinda e Cara de Espelho, lembrou o dia em que agradeceu a Fausto Bordalo Dias a mestria artística: "Somos muito mais com o Fausto do que seríamos sem ele! Acho que muita gente partilha deste sentimento e é por isso que o Fausto nunca nos faltará"..Para o músico brasileiro Pierre Aderne, morreu "um dos maiores compositores, artistas da música de língua portuguesa", enquanto a cantora Eugénia Melo e Castro, que fez coros em alguns dos álbuns do músico, escreveu no Facebook que "Fausto é o mais importante, o melhor autor/cantor/poeta e compositor da sua geração. Imortal"..O compositor Antonio Pinho Vargas, os músicos Mário Mata e Miguel Guedes (Blind Zero) também lamentaram hoje a morte do músico, aos quais se juntaram políticos de vários quadrantes..A deputada socialista Alexandra Leitão considerou que "sem Manuel Cargaleiro [escultor que morreu no domingo] e sem Fausto, Portugal ficou mais pobre", enquanto o deputado do Livre Jorge Pinto escreveu: "Deixou-nos hoje um dos nomes maiores da música e cultura portuguesa dos últimos 50 anos"..Catarina Martins (BE), José Gusmão (BE), Ana Catarina Mendes (PS) e o ex-ministro da Cultura Pedro Adão e Silva lembraram igualmente o músico.."A voz de Fausto ouvia-se em casa de José Saramago em Lanzarote ou em Lisboa. 'Por este rio acima' era uma forma de começar um dia de trabalho ou simplesmente de conviver", partilhou Pilar del Río, tradutora, mulher do Nobel da Literatura e presidente da Fundação Saramago..Com Lusa.José Jorge Letria : Perdeu-se "um dos maiores" da história da música portuguesa.O presidente da direção da Sociedade Portuguesa de Autores (SPA) considerou hoje que, com a morte do músico e compositor Fausto Bordalo Dias, Portugal perde "realmente um dos maiores cantores e autores da história da música portuguesa".."Sinto muito esta perda, porque reconhecia o enorme talento que ele tinha e que foi sublinhando, sobretudo, com a gravação do 'Por este Rio Acima', que é um disco notável, é um clássico da música portuguesa e da canção de texto em Portugal", disse José Jorge Letria à agência Lusa..A morte de Fausto Bordalo Dias, por isso, é "realmente uma perda terrível e irreparável, porque ninguém preenche este vazio e este lugar"..Referindo que Fausto era há muito cooperador da Sociedade Portuguesa de Autores (SPA), que preside, José Jorge Letria disse ter visto o artista "começar, gravar os primeiros discos, e fazer os primeiros espectáculos".."Pessoalmente, como companheiro de canções dele durante muitos anos - e fui seu amigo também antes do 25 de Abril e durante o 25 de Abril - sinto profundamente esta perda, lamento muito que tenha partido"..Para José Jorge Letria, o "importante agora" é que os discos de Fausto "sejam ouvidos e reeditados, para podermos continuar a ouvir as suas canções brilhantes que marcaram tanto a nossa música"..Também a SPA, numa note de pesar sobre a morte do artista, lamenta a morte de Fausto considerando-o um dos maiores "cantores-autores de sempre da música portuguesa"..Endereçando o seu mais profundo pesar à família de Fausto, a SPA acrescenta que "tudo fará para que a sua obra continue a ser gravada e ouvida por muitos públicos, designadamente das novas gerações, ainda neste ano em que se comemoram os 50 anos do 25 de Abril".