Emma Stone, Yorgos Lanthimos e Jesse Plemons em Cannes.
Emma Stone, Yorgos Lanthimos e Jesse Plemons em Cannes.

Emma Stone e Jesse Plemons, ricas criaturas em Cannes

'Histórias de Bondade', de Yorgos Lanthimos não é filme para Óscares e não vai criar consensos em Cannes. Uma bizarria sexual com criaturas com loucura “anormal”. Emma Stone em quarto papéis e um Jesse Plemons para além de todos os prodígios. Cinema de risco, sim.
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Depois de alguma doçura e acessibilidade, o cinema do grego Yorgos Lanthimos volta à estranheza inicial. De algum modo, este Histórias de Bondade, Kinds of Kindness, no original, é uma espécie de versão americana de Canino, o filme grego que o colocou no mapa, precisamente aqui em Cannes, no Un Certain Regard, onde venceu o prémio de melhor obra. 

E ao contrário do que o título anuncia, estas três histórias separadas, interpretadas por Willem Dafoe, Jesse Plemons e Emma Stone, têm um rasto de maldade. São contos de travessura sexual com um surrealismo e demência agitada de meter respeito. Tratam-se de mergulhos fundos num universo de fantasia cínica e niilismo social, pistas de gente perdida em processos de abuso e ilusão utópica. Uma América sem sentido e de particular requinte de loucura, criaturas que se perdem na ditadura da subjugação. 



No primeiro momento, vemos Willem Dafoe como um empresário que manipula o seu empregado, Jesse Plemons, alguém que é obrigado a fazer sexo a horas predeterminadas e a nunca poder ter filhos com a mulher que lhe foi imposta. Emma Stone é a sua eventual substituta neste jogo de poder que convoca a rotina do sexo em grupo. Também com troca de casais a segunda história, outra bizarria de corpos duplos, com Jesse Plemons a acreditar que a sua mulher reaparecida de um acidente não é mesmo a sua mulher. Por fim, no último episódio, temos uma seita dirigida por Willem Dafoe, onde há orgias num resort de luxo e Emma Stone e Plemons têm de encontrar alguém com o poder de ressuscitar pessoas. Confuso, o leitor? A ideia de Lanthimos é descartar pontos de lógica e criar um ambiente negro de humor grotesco, com muita violência e a perversão mais sexual que a Disney, através da Seachlight, podia encomendar... Em Portugal, a estreia deste anti-Pobres Criaturas estreia-se já em Julho.

Este desconcertante festival de cinismo já está também a dividir muitas opiniões em Cannes, apesar de uma forte tendência para catapultar Jesse Plemons para a zona dos favoritos a melhor ator, mesmo se pensarmos que é o corpo (muitas vezes nu) da oscarizada Stone quem toma mais riscos. Aos poucos, Lanthimos assume-se como um dos maiores provocadores das questões da perversão e liberdade sexual no cinema contemporâneo. 

Bom cinema da Roménia e Dinamarca

Ainda da competição, palavras honrosas para Emanuel Pârvu, o cineasta romeno de Three Kilometres to the End of The World, relato de uma agressão homofóbica numa região isolada da Roménia. Trata-se de uma radiografia de um preconceito social e religioso de um país incapaz de lidar com a questão da homossexualidade. Há mesmo um exorcismo a um rapaz para se curar da “doença”, sequência filmada com uma força lapidar invulgar.

Também fácil de aprovar The Girl with the Needle, do sueco Magnus Von Horn, história verdadeira do começo do século passado na Dinamarca sobre tráfico de bebés recém-nascidos. Com um preto & branco fenomenal, entramos para um mundo de horrores filmado com uma beleza justificadamente estilizada.

*em Cannes.

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