Eixo Central de Pequim: o planeamento urbano ideal na China Antiga
Em julho deste ano, na 46ª Sessão do Comité do Património Mundial, o “Eixo Central de Pequim: um Conjunto de Edifícios que Representa a Ordem Ideal da Capital Chinesa” foi incluído na Lista do Património Mundial. Pequim é a capital das dinastias Yuan, Ming e Qing (1271-1912), cujo eixo central existe há 700 anos, com 7,8 quilómetros de extensão e 15 edifícios históricos ao longo do seu percurso, incluindo a Praça Tiananmen, a Cidade Proibida e o Templo do Céu.
Além disso, a cidade de Pequim foi o palco dos Jogos Olímpicos de Verão de 2008 e dos Jogos Olímpicos de Inverno de 2022. O Estádio Nacional, também conhecido como Ninho de Pássaro, que se serve como símbolo emblemático da cidade moderna de Pequim, localiza-se a norte da Cidade Proibida, também no Eixo Central de Pequim. Este testemunha o desenvolvimento da cidade, sendo uma herança do intercâmbio entre as culturas do passado e do presente.
Há mais de 2000 anos, em documentos antigos, já existiam referências a que as cidades chinesas eram construídas ao longo de um eixo central. Os chineses antigos acreditavam que um planeamento urbano ideal deveria adotar a seguinte estrutura: “O templo ancestral à esquerda, o altar do solo e dos cereais à direita, o pátio dedicado às repartições governamentais à frente e o mercado atrás.”
Trata-se também das regras da disposição da construção da capital: o palácio principal é situado no eixo central da cidade, o templo dedicado aos antepassados localiza-se à esquerda do eixo, o altar para os deuses da terra e da agricultura à direita, o pátio das repartições governamentais à frente e o mercado atrás do palácio, para toda a cidade apresentar um padrão simétrico ao longo do eixo central.
A construção de Pequim remonta ao século XIII, altura em que a disposição simétrica já era utilizada na arquitetura, informando a localização original dos edifícios ao longo do Eixo Central de Pequim.
No início do século XV, a Dinastia Ming mudou a capital para Pequim e continuou a desenvolver a cidade. Por isso, a maioria dos complexos arquitetónicos que hoje podemos ver ao longo do Eixo Central, incluindo o Gulou (Campanário) e o Zhonglou (Torre do Sino das Horas), a Cidade Proibida e a Praça Tiananmen, entre outros, foram construídos durante este período.
O Eixo Central de Pequim é uma obra-prima de arte arquitetónica clássica das capitais chinesas, que não só seguem os ideais e conceitos de construção de cidades na China Antiga, como também incorporam o pensamento filosófico de “colocar o mais respeitado no centro”, típico da cultura tradicional chinesa.
Além de o centro representar comando e posição, o caráter zhong tem vários significados na cultura tradicional chinesa. Significa a equidade e a justiça no termo zhongzheng (equidade e reto), a imparcialidade na ação e a calma nas emoções nas palavras zhongyong (médio e moderado) e zhonghe (neutralidade e harmonia).
Trata-se de virtudes muito apreciadas na China. Por isso, o facto de os palácios ficarem no centro da cidade não só destaca a magnanimidade imperial, mas também reflete as expectativas do povo de que os imperadores devem ter virtudes nobres.
Curiosamente, os arquitetos europeus também criaram uma escola arquitetónica seguindo correntes filosó- ficas e demonstraram a estética europeia através das disposições axiais, utilizando-as na conceção paisagística, como o Palácio de Versalhes e o Louvre em França, cuja estética teve origem no pensamento filosófico grego antigo da matemática, da geometria e das regras e regulamentos.
Em vez disso, a disposição axial é aplicada no planeamento urbano chinês com o objetivo de refletir as exigências morais dos governantes com base na cultura tradicional chinesa.
Independentemente de serem utilizados no Oriente ou no Ocidente, os eixos centrais demonstram as profundas tradições das arquiteturas e os encantos de diferentes culturas.
INICIATIVA DO MACAO DAILY NEWS