Nascido em Lisboa, em 1943, o diretor de fotografia Eduardo Serra é um dos nomes mais internacionais do cinema de Portugal, com grande parte da sua filmografia ligada a produções de outros países, nomeadamente França e EUA. É isso mesmo que podemos descobrir ou redescobrir através do ciclo que, a partir de hoje, a Cinemateca lhe dedica - o seu trabalho estará presente na sala da rua Barata Salgueiro, em Lisboa, ao longo de treze sessões até ao final do mês.O facto de Eduardo Serra ter no seu curriculum duas nomeações para o Óscar de melhor fotografia será o sintoma mais direto da sua internacionalização e, sobretudo, da admirável versatilidade do seu trabalho. A primeira dessas nomeações surgiu com The Wings of the Dove/As Asas do Amor (1997), adaptação de Henry James realizada por Iain Softley: o sofisticado tratamento dos cenários londrinos do começo do século XX, para lá de qualquer banalidade “decorativista”, era indissociável da vibração muito física dos rostos dos atores. . A segunda nomeação aconteceu graças a Rapariga com Brinco de Pérola (2003), com Scarlett Johansson e Colin Firth sob a direção de Peter Webber, uma “recriação” do contexto em que nasceu o lendário quadro de Vermeer, partindo da hipótese sugestiva, embora historicamente não comprovada, de o modelo ter sido uma criada da casa da família do pintor. A esse propósito, o programa da Cinemateca cita algumas palavras eloquentes de Eduardo Serra sobre a possibilidade de fazer “um filme sobre um rosto” de uma atriz: “Se Scarlet não tivesse uma pele tão transparente, o filme podia não ter ficado tão bem. Uma pela translúcida é uma extraordinária matéria-prima. A relação luz-pele é fundamental para o meu trabalho.”Exilado em França a partir de 1963, Eduardo Serra estudou cinema na École Nationale de Photographie, tendo começado como assistente de imagem de vários títulos muito populares - foi o caso da comédia Les Bronzés/Barracas na Praia (1978), de Patrice Leconte. De qualquer modo, a sua afirmação inicial como diretor de fotografia aconteceu em Portugal através de Sem Sombra de Pecado (1982), de José Fonseca e Costa, precisamente um dos títulos a exibir neste ciclo. Da sua colaboração com autores portugueses, será também possível ver ou rever O Processo do Rei (1989), de João Mário Grilo, e Amor e Dedinhos de Pé (1991), de Luís Filipe Rocha.O já citado Patrice Leconte seria um dos cineastas franceses com quem manteve uma relação mais significativa, a par de Claude Chabrol (nove filmes com o primeiro, sete com o segundo). De Leconte será exibido O Marido da Cabeleireira (1990), estando Chabrol representado por A Comédia do Poder (2005), centrado numa brilhante composição de Isabelle Huppert.Do trabalho de Eduardo Serra gerado em contexto americano, os destaques vão para What Dreams May Come/Para Além do Horizonte (1998), de Vincent Ward, e Unbreakable/O Protegido (2000), de M. Night Shyamalan, ambos com sugestivas ligações com as artes visuais - a pintura no primeiro caso, a banda desenhada no segundo. São também títulos cujos protagonistas “escapam” às suas imagens de marca, conseguindo interpretações surpreendentes - são eles, respetivamente, Robin Williams e Bruce Willis.Três curtas-metragensDestaque especial merece a sessão de abertura do ciclo (hoje, 19h00), já que se trata de apresentar a faceta menos conhecida de Eduardo Serra como realizador. Assim, será possível ver três curtas-metragens francesas (a primeira coproduzida com Portugal) sobre temas muito peculiares. . As duas primeiras ecoam eventos portugueses. Un Anniversaire (1975) faz o balanço do primeiro ano do 25 de Abril, com particular incidência nas eleições para a Assembleia Constituinte, enquanto Rink-Hockey - Le Hockey sur Roulettes (1982) tem como objeto o 25º Mundial de Hóquei em Patins, realizado em 1982 em Barcelos (com vitória da equipa portuguesa).Quanto a Cinéma Portugais? Un Mode d’Emploi (1990), resultou de uma encomenda do canal Sept (futuro Arte), ligada à passagem no pequeno ecrã de um conjunto de títulos portugueses que iam de Os Lobos (1920), de Rino Lupo, até várias produções dos anos 1980. Integrado na série “Cinémas du Monde”, o trabalho de Eduardo Serra propõe, em 40 minutos, um comentário paralelo a esse ciclo - estes três títulos surgem em estreia absoluta na Cinemateca. .'A Comédia e o Caos'. A gloriosa solidão do cómico.'Mundo Jurássico: Renascimento'. Dinossauros em crise de identidade