‘Do Outro Lado do Muro’: uma história de superação e alegria
Alegria, superação e autodescoberta. Estas são as palavras que descrevem a peça Do Outro Lado do Muro, que estreia na quinta-feira e ficará em cena até ao dia 18 de maio, no Teatro Variedades, em Lisboa.
Do Outro Lado do Muro conta a história de Rodrigo, um cantor cuja vida muda depois de um acidente em palco que o deixa com uma deficiência motora. Esta é uma viagem de descoberta e sobre ultrapassar desafios. “A ideia é que uma vida não termina por causa disto e que há vários caminhos”, afirma Tiago Torres da Silva, encenador e autor da peça, em conversa com o DN.
A ideia surgiu a partir das conversas entre Tiago Torres da Silva e o ator Ricardo Carriço sobre a deficiência motora. “Percebemos que há falta de visibilidade e que as pessoas com deficiência procuram apoios políticos, apoios de vários géneros, para conseguirem ultrapassar as suas questões e são muito pouco ouvidas. Quisemos dar voz a essas pessoas”, sublinha o encenador.
Tiago Torres da Silva e Ricardo Carriço encontraram-se com pessoas com deficiência motora de forma a perceber o seu dia-a-dia, as dificuldades e sentimentos. Ricardo Carriço contou ainda, em conversa com o DN, que tem uma enteada que tem uma deficiência. “A Maria tem 25 anos e tem tamanho de 5/ 6 anos. É um poço de alegria, de amor e de partilha. O que sentimos hoje em dia na sociedade é que as pessoas têm medo, muitas delas, e não trazem os filhos para a rua”, disse o ator, acrescentando que as pessoas se deviam relacionar mais umas com as outras, independentemente das diferenças. “Estamos todos aqui e vamos relacionar-nos uns com os outros de uma forma positiva, acho que também é isso que pretendemos passar”.
Uma das pessoas com quem Tiago Torres Silva e Ricardo Carriço falaram para a preparação da peça foi Salvador Mendes, da Associação Salvador, que atua na área da deficiência motora desde 2003. E nas conversas com ele reforçaram a ideia de que as pessoas com deficiência motora “têm pouca visibilidade”.
Sem dar muitos pormenores, Ricardo Carriço revelou ainda que irá também haver mais lugares na sala para pessoas com deficiência motora e, para quem não tem dificuldade motora, vão ser colocados alguns obstáculos, para sentirem na pele as dificuldades diárias de quem tem uma deficiência.
Ao longo do espetáculo existem também momentos musicais com duas das canções produzidas pelo Tim, dos Xutos & Pontapés, e outras duas pelo cantor Manuel Rebelo. “Senti a necessidade de mostrar na história como a música era importante na vida do personagem”, diz o encenador.
Apesar do teor emocional, a peça irá trazer momentos cómicos e divertidos. “As pessoas não pensem que vão ver uma peça muito chata sobre tetraplegias. Vão rir. É uma história de alegria e nós trazemos muito essa alegria para o palco. Vai haver momentos comoventes porque é uma história de superação”, acrescenta o encenador.
Antes do acidente de palco, o papel principal que depois pertence a Ricardo Carriço é interpretado por Baltasar Marçal. O ator explica que pretende mostrar a despreocupação em relação ao tema. “A personagem foca-se no seu sonho em relação à música e vive com despreocupação em relação ao tema”, explica o ator ao DN.
Já Ricardo Carriço, o Rodrigo pós-acidente, garante: “Ele foi uma estrela pop e depois fica impossibilitado de ouvir música. Isso dá um conflito para ele e para a mãe dele”, explica Ricardo Carriço, acrescentado que uma das dificuldades foi ficar na cadeira de rodas. “Sou uma pessoa hiperativa, com muita energia e de repente tenho que estar sentado todo aquele tempo”.
O papel da mãe de Rodrigo cabe a Rita Ribeiro, que veste a pela da cuidadora. “É um papel que é muitas vezes esquecido, mas que tem muita importância na vida destas pessoas”, sublinha Tiago Torres da Silva.
O encenador mencionou ainda que o passado e o presente estão sempre em cena. “A mãe está sempre a lidar com o filho em duas fases diferentes da vida. Isso traz uma dinâmica ao espetáculo muito grande e exige à atriz uma coisa extraordinária que ela dizer uma frase com 40 anos e outra com 70. Tudo isto altera a dinâmica das cenas”.
Os bilhetes variam entre 16, 24 euros e 23, 35 euros. Parte da receita da peça irá reverter para a Associação Salvador.
mariana.goncalves@dn.pt