Depardieu motiva guerra de manifestos na cultura francesa
Mais de 600 artistas assinaram um "contra-manifesto" para "quebrar a lei do silêncio", publica esta sexta-feira num blogue hospedado no site Mediapart, poucos depois da publicação no Le Figaro de uma polémica coluna de apoio ao ator Gérard Depardieu, acusado de violação e agressão sexual.
As artistas Pomme, Médine ou Imany, bem como as atrizes Judith Chemla e Clotilde Hesme estão entre os signatários do texto.
Estes artistas demonstram o seu "desacordo" com a ideia defendida na coluna do Le Figaro por um grupo de 56 figuras ligadas à cultura, segundo a qual atacar o ator equivaleria a atacar a arte, "como se o estatuto de um artista justificasse um tratamento especial".
Os artistas acusam essa coluna, em linha com posições do próprio presidente Macron, de ser uma "cuspidela na cara das vítimas de Gérard Depardieu, mas também de todas as vítimas da violência de género e sexual". O presidente francês havia denunciado na semana passada uma "caça humana" contra o ator.
Os signatários acusam as instituições policiais e judiciais de não "levar a sério as vítimas" e dizem que é o "dever de todos recusar a banalização de comentários e ações como as de Gérard Depardieu", falando em "eco da impunidade".
Na sequência da coluna publicada segunda-feira pelo Le Figaro, escrita pelo ator e editor Yannis Ezziadi, próximo da extrema direita, e subscrita por 56 personalidades, a realizadora e escritora Nadine Trintignant anunciou que iria retirar o seu apoio ao jornal.
O ator enfrenta três queixas de violação, duas de atrizes francesas e uma última apresentada esta semana por uma jornalista espanhola.
Em 29 de novembro, o canal público France 2 exibiu o documentário "Depardieu: A Queda de um Ogre", que mostrava imagens do ator, numa viagem à Coreia do Norte em 2018, a fazer comentários de caráter sexual a mulheres, sobre mulheres, sobre uma criança e a uma tradutora da equipa.
O documentário levou várias personalidades do teatro e do cinema em França a afirmar que não voltariam a trabalhar com o ator e esteve na base das declarações da ministra da Cultura sobre a possibilidade de ser retirada a Legião de Honra.
Após a exibição do documentário, o Museu Grevin, galeria de figuras de cera de Paris, retirou a imagem de Depardieu, a província canadiana do Quebec anulou a distinção que lhe tinha dado, e a cidade belga de Nochin, onde o ator viveu, também anulou o título de cidadão honorário que lhe concedera.
Depardieu, através dos seus advogados, colocou a condecoração à disposição do Governo e declarou-se vítima de "um linchamento mediático".
As autoridades francesas iniciaram entretanto a investigação das circunstâncias em que ocorreu a morte da atriz Emmanuelle Debever, no passado dia 06.
A atriz denunciara Depardieu de "comportamento impróprio", em 2019, durante as filmagens do "Caso Danton".
Debever atirou-se ao rio Sena depois da exibição do documentário pela France 2, vindo a morrer uma semana mais tarde.