De 'Star Wars' a Van Gogh. Lisboa na rota das exposições blockbusters
Mais de cem mil pessoas visitaram nos últimos dois meses e meio a exposição de Harry Potter que está no Parque das Nações, em Lisboa. A expectativa de Álvaro Covões, da promotora Everything Is New, é que até abril o número de visitantes chegue a 200 mil - o que só confirma o interesse por este tipo de eventos culturais que nos últimos tempos se tornaram comuns em Portugal. Sejam réplicas de dinossauros ou dos inventos de Da Vinci, seja um artista como Escher ou os tesouros do Tutankamon. A verdade é que estas exposições, que são ao mesmo tempo entretenimento, têm cada vez mais público.
"O nosso trabalho consiste em criar oferta cultural para as pessoas, os portugueses mas também os estrangeiros que nos visitam. Como cultura não é só música, decidimos fazer outras coisas", diz Álvaro Covões, justificando assim o facto de uma promotora conhecida sobretudo pelos concertos e festivais de música ter no seu currículo algumas exposições (incluindo Joana Vasconcelos no Palácio da Ajuda, em 2013, que teve uns impressionantes 235 mil visitantes).
O segredo, diz, é ter "conteúdos que interessam às pessoas. Ninguém vai de propósito a uma cidade ver uma exposição, mas as pessoas estão cá de férias e aproveitam para ver o que houver. Se temos mais turistas, temos de criar conteúdos". Assim se explicam os mais de 120 mil visitantes (dos quais cerca de metade são estrangeiros) na exposição de Banksy, no ano passado, em Lisboa
Também a UAU, mais conhecida sobretudo como produtora de espetáculos, tem no seu currículo, por exemplo, "a maior exposição de Barbies e de Monster High". Aliás, recorda Paulo Dias, foi a UAU que em 2006 criou uma das primeiras "grandes exposições" em Portugal, a de Star Wars, "que na altura teve um número de recorde de 120 mil pessoas, em Lisboa e no Porto", e que foi depois apresentada em vários países europeus.
A UAU tanto traz exposições internacionais como cria os seus próprios conteúdos. Porém, o mais comum é estas exposições serem geralmente criadas por empresas estrangeiras que têm um catálogo de exposições disponíveis para digressão e que, depois, arranjam parceiros locais para se apresentarem em cada país. Por exemplo, a empresa australiana Grande Exhibitions, responsável pela mostra Van Gogh Alive (em Lisboa em 2017), ou a norte-americana Imagine Exhibitions, que criou a Real Bodies (em Lisboa em 2016).
A primeira aposta do grupo italiano Arthemisia em Portugal foi a exposição do artista holandês Escher, apresentada em Lisboa e no Porto (2017 e 2018). "Considero Lisboa uma das cidades mais fascinantes da Europa e não há dúvida de que Portugal está a assistir a um forte crescimento turístico. Identificámos a possibilidade de enriquecer a oferta de entretenimento cultural e decidimos complementá-la", dizia na altura Lole Siena, presidente da Arthemisia.
A Arthemisia tem como parceiro privilegiado em Portugal a produtora Art For You, com quem apresentou no ano passado as Estrelas da Pop Art. A Art For You tem feito outras parcerias para trazer a Portugal outras exposições, como a Photo Ark/National Geographic, que nos últimos dois anos se mostrou no Porto, em Lisboa e em Vilamoura), e Tête à Tête: Retratos de Cartier Bresson, que está atualmente na Alfândega do Porto.
Para os promotores nacionais, um dos maiores desafios é que "não há espaços para fazer exposições temporárias", afirma Álvaro Covões. "As grandes exposições só se conseguem fazer em Lisboa e no Porto pois para as tornar rentáveis são necessários muitos visitantes e têm de ter uma permanência de três a seis meses. O problema é que nestas duas cidades não existem espaços viáveis para a sua concretização", explica Paulo Dias.
A Cordoaria Nacional e o Museu de Arte Popular, em Lisboa, e a Alfândega do Porto têm sido os espaços escolhidos. "Mas não foram criados para isso, tem de se instalar ar condicionado, alcatifar o chão, criar os dispositivos de exposição... São recintos improvisados, mas é o melhor que temos para os agentes culturais independentes", lamenta Covões. Na falta de melhor, a exposição Harry Potter está numa tenda sob a pala do Pavilhão de Portugal e Meet Vincent van Gogh também vai ser apresentada numa tenda no Terreiro das Missas, em Belém, com "um acréscimo elevado de custos", diz Paulo Dias.
Outra queixa é o facto de os bilhetes para as exposições pagarem IVA a 23% e não, como outros produtos culturais, de apenas 6%. "Quase um quarto do bilhete é imposto, portanto os bilhetes não podem ser mais baratos", justifica o promotor da Everything Is New. Além disso, diz Paulo Dias, "existe uma enorme desigualdade entre uma entidade privada, que vê o seu produto cultural ser taxado com 23% de IVA, e o mesmo conteúdo apresentado por um município ou por uma fundação está isento de IVA". "Isto é cultura. Estamos a formar públicos, isso é algo de que ninguém fala", diz Álvaro Covões. Lá porque é divertido ou interativo não quer dizer que não seja cultura, dizem os promotores. E é por isso que o PSD apresentou há dias uma proposta de alteração ao Orçamento do Estado que prevê a inclusão das "exposições culturais" nas atividades culturais com IVA reduzido, a par do teatro ou do cinema.
Por causa de todas estas dificuldades, Paulo Dias afirma que "a exposição Meet Vincent van Gogh pode ser a última" produzida pela UAU. Já Álvaro Covões vai continuar a aposta nesta área: "Em fevereiro vamos anunciar mais uma grande exposição, que vamos apresentar em julho, em Lisboa, e já estamos a trabalhar num projeto para 2021."