Sob os aplausos de uma sala bastante composta, Koki Suetsugu senta-se ao piano e logo enceta um noturno de Chopin. Aos 27 anos, o japonês nem precisa de partitura. A música do compositor polaco do século XIX, que cresceu aqui mesmo, nesta Varsóvia onde, neste fim de tarde, dezenas de pessoas - na sua maioria turistas - se juntaram no Fryderyk Concert Hall, enche a sala. Na parede, um retrato do homem que nos seus curtos 39 anos de vida se afirmou como um génio do piano e que se tornou um símbolo da música polaca, mesmo tendo vivido a sua vida adulta toda em França. Suetsugu é apenas um dos muitos pianistas, polacos e internacionais, que diariamente oferecem concertos no Fryderyk Concert Hall. Durante uma hora, a assistência pode não só apreciar os maiores êxitos do compositor polaco - entre mazurcas, noturnos, valsas e polonaises -, mas também deliciar-se com os estuques de um branco imaculado, os espelhos e lustres do palácio do século XIX situado junto ao centro histórico de Varsóvia.Chegar de avião à capital polaca, porém, é logo ter o primeiro contacto com o mais famoso compositor nacional, ou não se chamasse o aeroporto Frédéric Chopin. E basta um passeio pela cidade para tropeçar num de uma dezena e meia de bancos de pedra nos quais basta carregar num botão para ouvir 30 segundos de uma composição de Chopin. Feitos em metal e granito, os 15 bancos situam-se em locais da capital de alguma forma relacionados com os anos em que o compositor ali viveu. E em cada um deles pode encontrar-se o mapa desta rede musical..Um deles situa-se no Parque Lazienki, uma das muitas zonas verdes de uma cidade que pena em se livrar da fama de cinzentismo ligado aos tempos de domínio comunista, que só chegou ao fim em 1989. Concebida por Wacław Szymanowski para estar pronta a tempo do centenário de Chopin em 1910, a inauguração de uma estátua acabou por ser adiada pela Primeira Guerra Mundial, só vindo a acontecer em 1926. Destruída em 1940, durante a Segunda Guerra Mundial, tendo sido o primeiro monumento destruído pelos nazis em Varsóvia, seria reconstruída no final do conflito, com recurso ao molde original. A árvore estilizada sobre a figura de Chopin lembra as mãos e dedos de um pianista.Desde então, na base da estátua, nas tardes de domingo, no verão, são executados recitais gratuitos de composições de Chopin para piano.Nascido Fryderyk Franciszek Chopin, em 1810, na aldeia de Zelazowa Wola, no então Ducado de Varsóvia. Criança prodígio, é na Polónia que compõe as suas primeiras obras, antes ainda de se mudar para Paris aos 20 anos. Depois de um noivado falhado com Maria Wodzinska, Chopin manteve uma relação conturbada com a escritora francesa George Sand (pseudónimo de Aurore Dupin). De saúde frágil, Chopin morre de pneumonia em Paris em 1849, aos 39 anos. Sepultado no Cemitério Père-Lachaise, em Paris, de acordo com a sua última vontade, a sua irmã Ludwika levou para Varsóvia o seu coração, que se encontra num cenotáfio embutido num pilar da igreja de Santa Cruz. Assim, reproduz a tradição capetiana da bipartição do corpo e da dupla sepultura. Em 2017, um estudo por observação clínica externa do coração, conservado num líquido acastanhado - provavelmente conhaque - dentro de uma urna de cristal, mostra que terá morrido de pericardite, complicação rara da tuberculose..“Para nós, polacos, a música de Chopin é muito importante e é como se fosse a nossa identidade”