Cuca Roseta e Seu Jorge.
Cuca Roseta e Seu Jorge.Foto: D.R.

Cuca Roseta: "Amália cantou em todas as línguas e todos os géneros e nunca deixou de ser fadista"

Fadista portuguesa editou um disco no Brasil no mês passado com repertório exclusivamente brasileiro. 'Até a Fé se Esqueceu' conta com participações de Seu Jorge, Zeca Pagodinho e Zé Renato.
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Cuca Roseta inicia em junho uma digressão por diversas cidades do Brasil, entre elas Ouro Preto, Petrópolis, São Paulo, Rio de Janeiro e Brasilia, após a edição naquele país do disco Até a Fé se Esqueceu– Uma viagem pela história da música brasileira, lançado no passado dia 11 de abril. As expectativas são altas: "Temos sempre as salas cheias e somos recebidos com muita atenção e carinho, dizem no Brasil que o meu fado é mais doce", afirma a fadista ao DN.

Como surgiu o convite para fazer um álbum com repertório do Brasil? Gostou logo da ideia ou teve dúvidas?

Este convite chegou de um grande produtor e amigo, João Mário Linhares, que já havia trabalhado com António Zambujo e Carminho, nesta vontade de levar a música portuguesa e, neste caso, a tradição e o fado para o Brasil. Quando escutamos a palavra samba pensamos na maior festa do mundo, mas na origem do samba como diz Vinicius, ele precisa de uma tristeza: “Mas para fazer um samba com beleza é preciso um bocado de tristeza senão não se faz um samba não.”

Assim fomos a repertório bem antigo, onde o fado e o samba se encontram numa melancolia e na profundidade da poesia, grandes compositores e grandes poetas cantados com a interpretação visceral do fado, dando cor e música a essa poesia e canção.

Quando me apaixono pelos projetos nunca hesito. Se a história que vou contar em cada poema conta parte da minha verdade, se ela me faz sentido, é o suficiente para me entregar. Se nos toca a nós, vai chegar ao outro essa vibração, essa emoção, essa paixão.

Que critério presidiu à seleção das canções?

Na verdade fui cinco vezes ao Brasil e soube tão bem, porque só gravávamos duas de cada vez. Passámos horas a escutar canções, eu e o João Mário, e cativava-nos a poesia. Ele mostrava-me, esta é outra canção, tantas obras-primas que ainda não conhecia. Foi fácil apaixonar-me por esta ou por aquela. O nosso gosto era bem parecido.

O fado é reconhecível no resultado final desta fusão?

Amália cantou em todas as línguas e todos os géneros e nunca deixou de ser fadista. Ela levava Portugal na sua voz e no seu sangue e abriu-nos as portas do mundo. Nós, os herdeiros dessas portas que ela abriu, continuamos a levar o fado ao mundo inteiro cantando maioritariamente para estrangeiros que não entendem a nossa língua, e o que lhes toca, é o fado! Porque canções há muitas, em muitas línguas, todas parecidas, a nossa canção sabe a saudosismo e a sebastianismo, sabe a nostalgia e a mar, e essa energia que se transforma em canto vinda diretamente do sangue e da cultura que nos corre nas veias, é sui generis demais para se dissolver noutra qualquer canção. O fado sempre se firma por onde quer que vá.

Como é que surgiram as parcerias com Zeca Pagodinho, Seu Jorge e Zé Renato, e como foi trabalhar com estes artistas?

Surpresas, grandes surpresas, o destino quiçá, eu acredito que sim, que nada acontece por acaso, que estava escrito. Tudo flui com tanta naturalidade, e é tão difícil chegar a estas grandes estrelas que têm milhares de solicitações de duetos, foi milagre. Foi, porque era para ser e foi uma experiência riquíssima trabalhar com vozes e personalidades tão marcantes e que tanto admiro.

Quais são as expectativas quanto à receção do álbum no Brasil?

São boas, atuo muito no Brasil, temos sempre as salas cheias e somos recebidos com muita atenção e carinho, dizem no Brasil que o meu fado é mais doce e que ele faz uma ponte para o jazz com açúcar do Brasil. A verdade é que os nossos concertos são sempre muito bem sucedidos e os poucos que fizemos deste então, cruzando-se com os casos tradicionais, têm sido perfeitamente inesquecíveis.

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