Não há muito a dizer sobre Corações Partidos (título original: L’Amour Ouf), uma realização do francês Gilles Lelouche, nosso conhecido sobretudo como ator, por exemplo nesse sucesso de culto que foi Pequenas Mentiras entre Amigos (2010), em policiais como A Rede do Crime (2014) ou, mais recentemente, assumindo o papel de Obélix em Astérix e Obélix: o Império do Meio (2023).Tudo começa com a relação de dois adolescentes, Clotaire e Jackie, num ambiente marcado pela violência de gangs. A sua aventura vai ecoar no essencial da ação, alguns anos mais tarde, num registo em que as atribulações dramáticas do policial “misturado” com algum romantismo se vão acumulando em tom estridente, mas inapelavelmente convencional — e ter Prince ou The Cure na banda sonora poderá ser simpático, mas não resolve a banalidade cinematográfica do empreendimento.Em algum cinema francês, parece haver mesmo a saudade e a vontade de recuperar um certo policial romanesco, associado a nomes tão diversos como Jean Gabin, Lino Ventura ou Alain Delon, agora com um toque de “rebeldia” juvenil. Simplificando, digamos que para lá da escassa invenção de argumentos como aquele que está na base de Corações Partidos, faltam os intérpretes (e as artes de mise en scène) capazes de repetir as glórias dos filmes desse passado.De um ponto de vista comercial, há também uma pergunta que emerge face a um lançamento deste género, em boa verdade confirmando uma tendência de alguns setores do mercado: será que faz sentido estrear um filme como este mais de um ano passado sobre a sua revelação no Festival de Cannes?Enfim, convenhamos que o contexto português não passa de um detalhe, já que em Cannes, precisamente, em maio de 2024, houve quem questionasse (incluindo o autor destas linhas) a inclusão de Corações Partidos na prestigiada secção competitiva do maior festival de cinema do mundo. A dúvida era, pelo menos, legítima, sobretudo quando títulos realmente invulgares como Flow (produção da Letónia que viria a arrebatar o Óscar de melhor filme de animação) ou Cão Preto (drama chinês vencedor da secção “Un Certain Regard”) não tiveram a mesma sorte...Mesmo tendo em conta o simplismo dramático do empreendimento, e em defesa de Lelouche, poderemos reconhecer o seu empenho em tirar o melhor partido dos seus atores, sobretudo Adèle Exarchopoulos e François Civil, intérpretes de Jackie e Clotarie já adultos. Para lá do esquematismo das personagens, dir-se-ia que, depois de A Vida de Adèle, Exarchopoulos continua à procura de um papel que faça justiça ao seu desmedido talento — fica a memória calorosa de A Vida de Adèle em 2013, em Cannes, e da sua Palma de Ouro atribuída por um júri presidido por Steven Spielberg..'Apocalipse nos Trópicos'. Para compreender a política brasileira.'Verdades Difíceis'. O fulgor do realismo britânico