Se é verdade que o cinema popular francês continua (bem) vivo, dificilmente nele encontramos hoje sinais de boa saúde, ao contrário dos dramas de cariz social que se têm produzido em quantidade e qualidade nesse país, nos últimos anos, quase sempre com uma nota de genuína compreensão da circunstância retratada. Como por Magia pertence, pois, à primeira família, a do cinema popular, e confirma uma certa tendência para o anonimato deste tipo de produções, um desleixo de argumento que se limita a acumular lugares-comuns e música de adorno sentimental, sem procurar um resquício de sofisticação. O que não deixa de surpreender, no caso, tratando-se de um filme de Christophe Barratier, o realizador do fenómeno de popularidade Os Coristas (2004), que agora parece tão distante... É como se Barratier, na sua lógica constante de boas intenções, tivesse sucumbido à pura irrelevância cinematográfica. .Como por Magia centra-se num ilusionista, Victor (interpretado pelo ator e comediante Kev Adams), que de um dia para o outro se torna pai e viúvo ao mesmo tempo. Indo direito ao assunto, o filme mostra-nos a passagem para esse estado depressivo em que não há soluções mágicas, pelo menos a princípio: Victor revela-se um pai solteiro tão desajeitado que a única alternativa viável para os seus dias de desordem doméstica acaba por vir do próprio sogro, um senhor que gosta de se vestir de palhaço e tem imenso jeito para as crianças. Quem veste a pele do avô? O simpático e sempre confiável Gérard Jugnot, rosto de Os Coristas e colaborador regular de Barratier, que é talvez o ponto exclusivo de interesse desta comédia dramática, sobretudo quando, aos olhos dos outros, tenta passar subtilmente por companheiro amoroso do genro... .Com apenas esta intriga estafada do pai que não é capaz de desenrascar-se nas tarefas básicas da paternidade, mais o seu regresso aos palcos com uma nova assistente e velha amiga (a esposa que morreu era o par de Victor nos espetáculos de magia), o filme não atinge nenhum grau de inteligência ou sequer de envolvimento empático, ficando-se por um desfile de situações banalíssimas, que nem dispensam aquela piada muito gasta das entrevistas a potenciais amas, em que só se apresentam ao lugar pessoas com diferentes expressões de ridículo, mas sem graça. .Se Como por Magia é fraco na comédia, consegue ser ainda pior no drama, com uma banda sonora à beira do insuportável que torna os supostos “momentos dramáticos” altamente falsos e vazios. É como se Barratier, através dessa música xaroposa, só conseguisse sublinhar o deserto emocional do filme, a sua falta de camadas e narrativa cosmética. Enquanto modelo de cinema popular deixa muito a desejar, mas mesmo enquanto simplesmente cinema é de uma pobreza só confundível com a insipidez moderna. Um produto de sentimentos embalados.