Como as redes sociais tiraram cinco centímetros às futuras modelos
Imagem, atitude, proporcionalidade e, claro, altura. Independentemente dos critérios de beleza vigentes nas últimas décadas, rara era a candidata feminina que, cumprindo todos aqueles requisitos iniciais, conseguia conquistar um ambicionado lugar na parede de uma agência de modelos se não tivesse menos de 1,70 metros de altura.
No entanto, a importância das redes sociais tem vindo a alterar este paradigma e já começou a abrir portas a quem tem menos cinco centímetros de altura do que o que estava convencionado. "Nos últimos três anos, as agências de modelos abriram espaço, pela primeira vez, a modelos femininos com menos de 1,70 metros", conta Tó Romano, diretor da agência de modelos Central Models.
"De repente, começou-se a agenciar raparigas com 1,65 metros, mas mantendo a proporcionalidade", avança o responsável da empresa criada há 31 anos e de onde saíram nomes como Paulo Pires, Ricardo Carriço, Sara Sampaio ou, mais recentemente, Júlia Palha.
Uma mexida no setor que foi introduzida pelo Facebook, pelo Instagram e por todas as redes que se alicerçam na imagem. Mas como? "Se se cumprir a proporcionalidade, a harmonia das formas do corpo, não se percebe que as modelos são baixas porque as fotografias são feitas isoladamente", esclarece.
Margarida Corceiro incarna, na perfeição, toda esta nova disposição do mundo. O agora rosto da TVI e também namorada do futebolista e internacional português João Félix mede 1,66 metros e é, há muito, uma estrela nas redes. "Começámos a representar a Magui [Margarida Corceiro] aos 13 anos, e aos 14 ela começou a ter grande influência digital. Antes de entrar na TVI já estava a fotografar biquínis", exemplifica o responsável da agência, avançando: "No caso da Magui, ela já tinha um número extremamente elevado de presenças nas redes, tinha 28% de interação, o que é imenso quando 5% a 7% já são indicativos de bons resultados."
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Olhando para uma das géneses deste negócio, Tó Romano fala da moda de praia como rampa de lançamento destas novas influencers na moda: "Há dez anos, tínhamos umas cinco marcas de biquínis e fatos de banho nacionais e algumas dezenas internacionais de venda a retalho. De repente, vimos o nascimento de uma quantidade de marcas e todas começaram por fazer comunicação digital e utilizar as tais influencers superjovens para obter notoriedade."
Há ainda um outro fator que levou, argumenta o responsável, ao aumento exponencial deste novo modelo de negócio desde 2015, com especial aceleração mais recentemente. "Nos últimos três anos, as agências fizeram por captar talentos digitais para responder à intensificação do negócio digital. Afinal, temos de ter presente que muitas marcas comerciais no mercado já alocam à comunicação digital 50% do budget a investir anualmente", contextualiza o ex-manequim e dono da agência nacional.
Não é por isso estranho que a Central Models tenha feito crescer esta área de negócio e conte agora, como revela Tó Romano, com "um departamento digital com três bookers", especialmente vocacionados na pesquisa destas novas estrelas e na gestão de carreira das que se evidenciam.
Também o processo de seleção de candidatos a manequins ganhou novas formas e proporcionalidades. "Desde há três anos que pedimos, nas fichas de inscrição, que os candidatos enviem os links de Facebook, agora até mais só Instagram", revela Tó Romano. "Por ali, conseguimos saber muito de cada jovem, bem como o seu raio de ação", acrescenta o ex-manequim e dono da agência.
Há, contudo, valores que não se alteram. "O primeiro vetor que observo sempre é o estético, o que passa por ver fotografias, as medidas do corpo. Depois, nas entrevistas presenciais, tento descobrir e avaliar se há talento para todos os campos: antigamente, víamos apenas se era só para modelo, depois também para representação, e agora há este novo olhar", diz o diretor da agência, que "recebe, anualmente, cerca de cinco mil candidaturas, seleciona 800 para entrevistas, das quais saem 16 a 18 novos rostos da agência".