O Queer Lisboa está de volta ao Cinema São Jorge, a partir desta sexta-feira, dia 19, e até 27 de setembro. É a 29ª edição do Festival Internacional de Cinema Queer - que se prolonga com o Queer Porto, fundado em 2015 (este ano de 4 a 8 de novembro) -, apostado em divulgar e celebrar a pluralidade de um universo de expressão e militância que, como se escreve no respetivo site oficial [queerlisboa.pt], “atravessa toda a história do cinema e dos seus géneros”. Sem esquecer que a própria consolidação da expressão “Cinema Queer” está ligada a um contexto histórico muito particular: “É o início da década de 1990 que vê surgir uma nova linguagem cinematográfica que aponta para novas negociações das subjetividades ligadas às identidades sexuais e de género, muito por consequência direta dos efeitos da epidemia do VIH/sida e do seu impacto na criação artística.”No texto de apresentação, João Ferreira (que partilha a direção do certame com Cristian Rodriguez) lembra que se trata de partir de “um lugar do coração”. Desde logo, porque está presente a memória de Daniel Pinheiro, colaborador do Queer Lisboa ao longo de uma década, falecido em finais de janeiro - esta edição é, aliás, dedicada à sua memória. E também porque um festival existe como “espelho deste mundo” de muitas convulsões, na “procura de alguma beleza e paz” que João Ferreira evoca a partir da memória das fotografias de Nan Goldin (cuja obra, direta ou indiretamente, já passou por anteriores edições do festival).Daí que a programação deste Queer Lisboa funcione como um movimento de experiências, variadas e contrastadas, algures entre a utopia e o desencanto. Podemos encontrar esse ziguezague nos títulos de abertura e fecho do festival. Assim, hoje (21h00), será possível descobrir Plainclothes, longa-metragem de estreia do americano Carmen Emmi revelada, em janeiro, no Festival de Sundance, retratando a relação de dois homens, na década de 1990, confrontando-se com a homofobia e o conservadorismo religioso. . No encerramento do festival, no dia 27 (21h00), será projetado Between Goodbyes, de Jota Mun, uma investigação documental que começa em meados dos anos 50, quando a Coreia do Sul pôs em prática um programa internacional de adoção visando a “integração” dos órfãos de guerra, programa que, na prática, implicou, por vezes, a fragmentação de famílias por vários continentes. Resultante de uma coprodução EUA/Coreia do Sul, o filme tem na sua ficha, como produtor executivo, o nome de Alex Gibney - produtor e realizador americano, recorde-se que Gibney foi distinguido com um Óscar pelo documentário Um Taxi para a Escuridão (2007), sobre a prática de formas de tortura pelo exército americano durante a guerra do Afeganistão.Também na CinematecaRetomando uma colaboração já com vários anos, o Queer Lisboa volta a ter uma zona específica de programação na Cinemateca Portuguesa, este ano através de uma homenagem ao francês Lionel Souzak (1953-2025), pioneiro do Cinema Queer. Dele será exibido o clássico Race d’Ep (1979), correalizado com Guy Hocquenghem, um “mapa” da história da homossexualidade ao longo do século XX, refletindo formas de ativismo da sua época, a par da influência dos estudos de Michel Foucault. Entre os dias 20 e 27 serão exibidos outros dos seus títulos mais emblemáticos, incluindo La Marche Gaie (1980), Ixe (1980) e Maman que Man (1982), refletindo uma visão crítica, entre documentos e ficções, que nunca renegou uma dimensão fortemente experimental. . Para lá das secções competitivas (integrando longas, curtas e documentários), há várias sessões especiais apostadas em dar a conhecer experiências multifacetadas da mais recente produção queer. Fica um destaque para Vivre, Mourir, Renaître, do francês Gaël Morel, sobre um trio amoroso, marcado pela epidemia da sida, nos anos 90, em Paris. Vale a pena recordar que, enquanto ator, Morel foi a revelação de Os Juncos Silvestres (1994), de André Téchiné - esta sessão (Cinema São Jorge, dia 27, 16h30) é dedicada à memória de Pedro Silvério Marques, ativista na área do VIH, falecido no passado mês de março. .'Love Life'. Cinema japonês, com amor.'Com a Alma na Mão, Caminha'. Notícias de Gaza para lá da televisão