Carol Biazin
Carol BiazinGerardo Santos

Carol Biazin: "As pessoas gostavam das minhas músicas por ser muito sincera. Foi o que me deu coragem"

A cantora brasileira de 28 anos esgotou o concerto em Lisboa e irá atuar no festival Meo Marés Vivas este sábado. A artista esteve à conversa com o DN sobre a passagem por Portugal e o último disco.
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Caroline dos Reis Biazin, mais conhecida por Carol Biazin, participou na sexta temporada do The Voice Brasil em 2017. Atualmente, a sua discografia conta com cinco disco gravados, incluindo o mais recente No Escuro, Quem É Você? lançado em maio de 2025.

Como tem sido fazer os primeiros concertos em Portugal?

Essa pergunta é a mais fácil de responder. ‘É bué fixe’ (risos). Foi uma sensação de missão cumprida. Foi a primeira vez da vida que saí de um canto do mundo para vir para outro. Fizemos um show aberto ao público em Águeda. Tive muito medo, porque não sabia o que estava me esperando. Foi uma surpresa boa ver uma galera cantando as minhas músicas. Eu me emocionei, chorei no palco porque estava num momento acústico e aí eles começaram a cantar, cantar, cantar, cantar. E eu falei assim: não é possível que esta música tenha chegado onde chegou. E não só essa, mas as outras do show e eles sabendo cantar todas. Então, eu acho que nem nos meus melhores sonhos eu imaginava isso acontecer.

O concerto de Lisboa no dia 18 de julho esgotou. Pensa voltar a Portugal e fazer um concerto numa arena maior?

Com certeza. É o que eu estou tentando planear já faz um tempo, mas vamos com calma. Até esse show que a gente ia fazer, eu estava super tensa. E aí me mandaram uma mensagem a dizer que esgotou. Eu falei: como assim, esgotou? Não acredito nisso. Estava muito nesse intuito de me apresentar para as pessoas pela primeira vez: ‘Prazer, gente, Carol Biazin. Como é que vocês estão?’. Então, foi uma surpresa, porque já me conheciam. Já tinha visto um comentário ou outro a pedir “Carol, vem para Portugal”,  mas eu não imaginava a quantidade de pessoas que estavam a ouvir a minha música.

Iris Alves

Lançou um novo álbum há dois meses atrás No Escuro, Quem É Você?. Este é a segunda parte de outro disco intitulado No Escuro. Como é que surgiu esta ideia?

Faço coisas malucas o tempo inteiro. Gosto de fazer lançamentos que diferem um pouco da ordem natural das coisas. Eu quis fazer este projeto dividido em duas partes. Então, primeiro lancei o No Escuro e depois lancei No Escuro, Quem É Você?. Entre os dois, foi um intervalo de um ano, mais ou menos.

Sobre cada um deles…

No Escuro, existe uma visão da vida um pouco mais carregada e densa. De coisas que eu realmente estava vivendo na época, que eram algumas frustrações e ansiedades. E acho que a falta de perspetiva e não conseguir saber do futuro estavam me assustando. Nesta primeira parte trouxe muito dessas minhas dificuldades e essas músicas trouxeram consigo esse sentimento de saudade de casa. Passou-se um ano e foi tão bom viver um pouco nesse escuro que me trouxe várias respostas. Então, eu vejo a segunda parte do projeto de uma forma muito mais solar. Falo muito sobre amores leves e já olho para as coisas com uma perspetiva de que no meio do caos todo, ainda existem coisas muito boas. Então, de facto, a perspetiva começa a ficar mais positiva. Este disco tem uma estética mais dançante para a segunda parte. Os dois falam sobre autoconhecimento. 

Normalmente, qual é o processo criativo? 

Tenho um processo meio fluido e varia muito de momento para momento. Tem momentos em que eu estou no celular e acabo pegando alguma frase. Às vezes, eu me encontro com alguém e começo algo ou, outras vezes, realmente estou escutando um som e eu estou lá cantando e fazendo melodias na minha cabeça. Então, varia muito também. Escrevo com outras pessoas e compositores e cada um tem seu processo. No entanto, todas as minhas música têm de ser de um lugar autobiográfico e não consigo escrever coisas muito fora da minha realidade. 

Nesta segunda parte do projeto, um dos temas principais é o amor. O tema da representatividade está presente neste disco. Porque é importante para ti haver esta representatividade no amor? 

Faz parte da minha pessoa e de quem eu sou. Desde o início, sempre gostei de fazer falando muito sobre mim e as minhas vivências. Naturalmente, cantava sobre outra mulher e escrevia coisas no género feminino. Para mim não era um estranho, mas existia um receio de algumas pessoas quando ouviam. Isso começou a me incomodar com o tempo e trazia-me ansiedade em relação ao tema. Até tentei me resguardar. Só que era quase impossível, porque era muito quem eu era. Era a minha vivência. Eu acho que quando o artista tem que se mascarar muito acaba por perder um pouco aquele brilho. Quando eu comecei a fazer os meus primeiros shows, eu comecei a ver que as pessoas gostavam das minhas músicas exatamente por ser muito sincera nas letras. Foi o que me deu coragem para ser verdadeira mesmo. 

No último disco, há a música Te Amo Sem Culpa

Para mim é um manifesto, mas não é nenhuma música triste, falando sobre coisas ruins que a gente vive, como preconceitos. É sobre simplesmente pedir o básico, que é, eu quero amar na rua, eu quero amar em qualquer canto, eu quero poder estar livre para pegar na mão de alguém e não ser incomodada por isso. Não me sentir culpada. É como um presente para mim e para me libertar de todos esses monstros que eu escutei lá atrás. O meu público conseguiu me curar também com aceitação e amor em todos os sentidos. E ouvi-los a dizer que os ajudei é a resposta necessária para eu continuar fazendo isso.

Essa música até ficou viral no TikTok e nas redes sociais.

Estava esperando muito as pessoas gravarem vídeos a falar abertamente sobre amar pessoas do mesmo género ou postarem fotos de casal.  Acho que isso foi muito bonito e chorei várias vezes vendo vários vídeos. Isso é, de facto, o propósito da vida.

Há outra música neste álbum, Dilemas da vida moderna, que fala sobre conciliar a carreira, o amor e a família. Esta ainda é uma dificuldade?

É muito difícil. Tenho tentado muito equilibrar algumas coisas. Essa música é sobre quando você está presente num lugar. Acho que a minha maior dificuldade é conseguir estar presente nos lugares a 100%.  Hoje eu estou aqui em Portugal e a minha família está lá no Brasil. E é um lugar de que sinto falta o tempo inteiro. Eu sei que quando eu vou para lá tenho  sempre de aproveitar a 100%. Então, eu largo o celular e tudo o que eu estou fazendo para a gente poder ficar junto e eu saber mais da vida deles. A gente se ama às vezes até ficando em silêncio. É o suficiente. 

Em 2024, já tinha passado por Portugal e esteve a trabalhar com alguns artistas portugueses. Quando é que podemos esperar alguma colaboração? 

Espero que muito em breve. Da última vez que eu vim, me encontrei com o Piçarra e com o Ivandro. Acabámos a escrever algumas coisas juntos. Pretendo muito fazer coisas também com o Bispo, que eu amo. Já me encontrei com ele também e ele compartilhou comigo um desejo mútuo. Já me encontrei com a Bárbara Bandeira também. Tenho uma história de longa data já com artistas daqui. Também quero trabalhar com os Napa. Espero que muito em breve eu consiga lançar algo para cá também, porque eu acho que ainda não tive a oportunidade, de facto, de trabalhar exclusivamente aqui. 

Alguma mensagem para os seus fãs portugueses? 

Quero dizer que eu estou muito surpresa com todo esse amor que eu recebi e que é muito bom se sentir assim, amada e respeitada. Não estava nem perto dos meus sonhos poder me encontrar com eles, num show, e vê-los cantando minhas músicas. Então, quero dizer que eu os amo muito e que espero voltar muitas vezes. Estou fazendo de tudo para que isso aconteça com mais frequência.

Gerardo Santos

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