Henrique Feist com adereços do musical Balas e Purpurinas. O cartaz representa uma manifestação contra a comercialização da música, depois do grupo ABBA ter vencido a Eurovisão.
Henrique Feist com adereços do musical Balas e Purpurinas. O cartaz representa uma manifestação contra a comercialização da música, depois do grupo ABBA ter vencido a Eurovisão. Gerardo Santos

‘Balas e Purpurinas’: um musical sobre a Eurovisão e Europa

“Fui ver a história da Eurovisão, depois fui ver a história da Europa e comecei a ligar as coisas”, diz ao DN Henrique Feist, o diretor artístico do espetáculo que estreia hoje no Casino Estoril.
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Foi em 1956 que surgiu a Eurovisão, concurso musical europeu. Mas será apenas um programa de entretenimento? Essa é a questão que a peça Balas e Purpurinas de Henrique Feist pretende abordar. O musical estreia hoje no Auditório do Casino do Estoril e ficará em cena até dia 3 de maio.

A ideia para este espetáculo surgiu da visão de Henrique Feist, diretor do espetáculo e um dos atores, sobre este evento. “A história da Eurovisão ajuda-nos a contar a história da Europa. O intuito da Eurovisão seria ser um território neutro, porque surge com o intuito de mostrar uma Europa a reerguer-se depois da guerra. No entanto, nunca o foi, porque houve sempre questões políticas”, explica em conversa com o DN, acrescentando que o espetáculo pretende mostrar como a política muitas vezes moldou a Eurovisão. “Naquele palco via-se tréguas, limpar armas, afiar armas. Portanto, nunca foi um território neutro”.

O espetáculo arranca com a atuação de Salvador Sobral, que venceu a Eurovisão em 2017, e depois volta atrás no tempo até ao começo do concurso com a criação da União Europeia da Radiodifusão. Ao longo da peça, são representados momentos reais e outros romantizados da Eurovisão. Henrique Feist disse que estes momentos obrigam o público a fazer a sua pesquisa. “Estes elementos são colocados na mão do público e, depois, eles é que tem de descobrir o que foi verdade e o que é que não foi”, sublinha.

Um dos momentos que é representado em palco é quando a Alemanha ganha com a música Satellite em 2010. “Curiosamente, é precisamente no ano, por exemplo, em que a Alemanha dá uma grande ajuda económica à Grécia”, conta.

Balas e Purpurinas não relembra apenas as músicas vencedoras mas também canções impactantes como o tema Volare de Domenico Modugno, que participou no concurso em 1958 e se tornou um êxito mundial através de uma das versões dos Gipsy Kings. Todas as músicas apresentadas são cantadas na sua língua original.

Para Henrique Feist, o maior desafio deste espetáculo foi a procura de informação e ligação das músicas com a história. “Fui ver a história da Eurovisão, depois fui ver a história da Europa e comecei a ligar as coisas. É exaustivo, porque a Eurovisão começa em 1956 e o espetáculo vai até 2017”.

O elenco conta com Henrique Feist, Valter Mira, Catarina Clau e Filipa Azevedo, que representou Portugal na Eurovisão em 2010 com a música Há Dias Assim.

Já a preparar a próxima peça

No entanto, Henrique Feist está há dois anos a trabalhar no próximo projeto - Company. Este é um musical da Broadway de Stephen Sondheim. E segue a história de Robert, um homem solteiro, que está rodeado de amigos casados ou que estão noivos.

O sonho de participar neste musical surgiu nos anos 80, quando Henrique Feist viu em Inglaterra esta peça pela primeira vez. Mais tarde, teve conhecimento que António Banderas ia fazer em Málaga o Company. “Ele era o protagonista e pensei: mas isto não bate a bota com a perdigota. O protagonista é suposto estar a fazer 35 anos e o António Banderas não tem 35”, relembra o artista, acrescentando que foi ver a Espanha esta versão do musical. “Ele pediu permissão ao Sondheim para a personagem ter 50 anos e não 35. O Sondheim deu-lhe permissão para o fazer. Quando vi o espetáculo em Málaga disse: eu gostava mesmo de fazer isto”.

Sondheim morreu uma semana antes da peça de António Banderas estrear, em 2019, levando Henrique Feist a pensar que não seria possível a realização da sua versão deste espetáculo. “Pensei que nunca me iam deixar fazer isto, mas tentei e consegui fazer a versão do Banderas, com os 50 anos”, conta.

Apesar do musical ter lugar nos Estados Unidos nos anos 70, o artista considera que continua a ser uma história que retrata temáticas atuais como a solidão e problemas nas relações amorosas. “São questões do ser humano: a capacidade que temos de nos entregar a alguém ou de não o fazer”.

Ao DN, Henrique Feist revelou ainda que a estreia de Company está marcada para o dia 18 de setembro deste ano. “Queria estrear em setembro e fui às quintas-feiras desse mês. A minha mãe fazia anos a 18 de setembro, que é uma quinta-feira. Decidi fazer no dia de anos da minha mãe e está abençoado, de uma forma bonita”.

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