'Auto de Anfitriãs' inaugura Sala Estúdio Valentim de Barros no Dia Mundial do Teatro
No jardim do antigo Hospital Miguel Bombarda nasceu numa nova sala de espetáculos em Lisboa - a Sala Estúdio Valentim de Barros. Aqui vai estrear amanhã a peça Auto das Anfitriãs do Teatro Nacional D. Maria II, ficando em cena até 13 de abril.
A inauguração da Sala Estúdio, localizada nos Jardins do Bombarda, pretende homenagear o bailarino português Valentim de Barros e, igualmente, celebrar o Dia Internacional do Teatro que se assinala a 27 de março.
Valentim de Barros esteve internado no hospital Miguel Bombarda durante 48 anos - em várias ocasiões entre 1939 e 1949, neste ano ficou definitivamente institucionalizado até à sua morte a 3 de fevereiro de 1986 - depois de relatos de violência e lhe ter sido atribuído o diagnóstico de homossexualidade (considerada uma doença mental nos anos 40/50 do século passado). “Este é um espaço cultural que esperemos que seja bem acolhido e que tenha muita longevidade. Valentim de Barroso é uma figura de resistência artística. E só podemos estar até humildemente agradecidos por também estar aqui”, disse Inês Vaz, atriz e encenadora da peça Auto das Anfitriãs, em conversa com o DN.
Auto das Anfitriãs, que inaugura o novo espaço, inspira-se na peça de Luís Vaz de Camões, Auto chamado dos Enfatriões.
A história foca-se em Almena que espera pela chegada do marido, Anfitrião, que foi para guerra, mas acaba por ser enganada por um Deus. Inês Vaz e Pedro Baptista reescreveram a história de Anfitrião e Almena com um toque de contemporaneidade.
O convite para este trabalho surgiu de Pedro Penim, diretor artístico do Teatro Nacional D. Maria II, para criação de um espetáculo escolar e para o público geral. “O convite já pressupunha este texto de Camões. A ideia era que nós pegássemos nele e fizéssemos o que nós quiséssemos”, explica Pedro Baptista ao DN.
“Nós queríamos fazer um objeto que refletisse e que jogasse com várias linguagens dentro do entretenimento, que fosse assim uma mistura de várias referências”, acrescenta Inês Vaz.
Com esta peça Inês Vaz e Pedro Baptista pretendem focar-se em questões não abordadas nas versões originais do texto, como o tema da usurpação. “Isso quase nunca é endereçado nem na obra de Camões, nem na obra do Plauto. Não é trazido para a linha da frente o posicionamento da Almena no meio disto tudo. Este foi logo um dos pontos que nós queríamos trabalhar desde o início. Qual é a consequência desta história e como é que nos relacionamos também com isto”, acrescenta Pedro Baptista.
Ao contrário dos texto anteriores, este pretende focar-se nas personagens femininas da peça e a relação entre Almena e Anfitrião encontra-se instável. “Nós aqui quisemos mudar a relação deles”, sublinha Pedro Baptista.
“Almena é menos vitimizada nesta versão do que na versão de Camões e na de Plauto. Mas no fim ela acaba por ser sempre uma vítima”, acrescenta Inês Vaz.
O nome da peça faz referência ao título original do texto, mas também se refere ao significado atual da palavra anfitrião. “Nós realmente vimos as figuras das anfitriãs como pessoas que recebem o público. Portanto, fomos buscar o termo atual. Tanto que é dito no início pela Almena ‘sou a vossa anfitriã’ . E depois temos uma personagem que se chama de facto Anfitrião (marido de Almena). Esta palavra tanto serve como nome próprio, como têm o seu significado atual”, sublinha Inês Vaz.
O elenco conta com Cire Ndiaye, Inês Vaz, João Grosso e José Neves. A peça apresenta ainda momentos musicais escritos pel’As Docinhas e Tita Maravilha & Menino da Mãe.
Depois da estreia em Lisboa, Auto das Anfitriãs irá ter uma digressão por 12 concelhos do país, passando por Beja, Celorico da Beira, Fafe, Gouveia, Lagoa, Miranda do Corvo, Mirandela, Paredes de Coura, Pombal, Santarém, Sines e Vale de Cambra.
O preço dos bilhetes variam entre 6 e 12 euros.
mariana.goncalves@dn.pt