O artista plástico João Queiroz morreu aos 68 anos, vítima de doença prolongada, anunciou esta quarta-feira, 22 de outubro, a Galeria Miguel Nabinho, em Lisboa, na rede social Instagram.Conhecido pelo seu trabalho em pintura e desenho, com uma forte ligação à paisagem, João Queiroz começou a expor pintura e desenho nos anos 1980, tendo sido ainda professor de desenho, pintura e teoria da arte, influenciando várias gerações de artistas.Nascido em Lisboa em 1957, João Queiroz licenciou-se em Filosofia na Universidade de Lisboa, disciplina que viria a influenciar de modo profundo o seu percurso artístico, diz a galeria.Em 1989, assumiu a docência no Ar.Co – Centro de Arte e Comunicação Visual, em Lisboa, lecionando desenho, pintura e teoria da arte, tendo sido também responsável pelo Curso Avançado de Artes Plásticas daquela escola.A sua obra desenvolveu-se em diálogo constante com a paisagem, não apenas como tema romântico, mas como ponto de partida para explorar a perceção, a visualidade e a construção do olhar, elementos fulcrais no seu trabalho.Em várias entrevistas ao longo da carreira, João Queiroz afirmou que o seu interesse pela paisagem vinha “da pintura e menos de um interesse romântico pela natureza”.Ao longo de décadas de trabalho, o artista expôs individualmente e participou em numerosas mostras coletivas, estando a sua obra representada em coleções públicas e privadas de referência, como Fundação Calouste Gulbenkian, Fundação EDP, Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento, Fundação de Serralves e o Museu de Arte Contemporânea do Funchal, na Madeira.João Queiroz explorou métodos experimentais para abordar questões da linguagem na arte, utilizando o potencial das palavras em composições visuais e, a partir de 1998, aprofundou a representação sensorial e não descritiva da paisagem e da natureza.O seu trabalho, segundo curadores e críticos de arte, distingue-se pela abordagem ao desenho e da pintura como exercícios diários de observação, muitas vezes marcados pela repetição de temas, especialmente na interpretação da paisagem portuguesa.Também sublinham o caráter experimental da obra do artista, o uso da cor e experimentação formal, e a presença recorrente de elementos naturais representados com grande liberdade e intensidade sensorial, aproximando-se das fronteiras da abstração sem as ultrapassar.João Queiroz é conhecido tanto pela pintura como pelo desenho, mas esta última disciplina artística sempre teve um papel central e constante na sua obra como um exercício diário e método de trabalho fundamental.Exposições individuais e coletivas de relevo marcaram o seu percurso, entre elas as mostras na Porta 33 (Madeira, 1994), na Akademie der Künste (Alemanha, 1999), na Fundação Calouste Gulbenkian e na Culturgest, em Lisboa.Sobressaem exposições antológicas em Portugal, entre elas, “Silvæ", na Culturgest, em Lisboa, em 2010, e a mostra no Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian em Lisboa, em 2006, que reuniu um conjunto importante da sua obra.Também realizou exposições no Centro Cultural Vila Flor, em Guimarães (2009), e na Galeria Quadrado Azul, no Porto (2009).Em 2012, apresentou "Afinal era uma borboleta" no Pavilhão Branco do Museu da Cidade de Lisboa, tendo exposto também na Fundação Carmona e Costa e na Galeria Vera Cortês, mostras reconhecidas pela crítica como momentos chave do seu percurso artístico.João Queiroz recebeu vários prémios ao longo da carreira artística, nomeadamente o Prémio EDP de Desenho, em 2000, e o Prémio Associação Internacional de Críticos de Arte (AICA), atribuído em 2011 pela "qualidade rigorosa" da sua obra.Foi agraciado com o Prémio de Pintura Gustavo Cordeiro Ramos da Academia Nacional de Belas-Artes, em 2004, e o Prémio União Latina, em 2001.O Museu de Serralves, no Porto, tem marcada para quinta-feira, às 21:30, a apresentação do documentário “João Queiroz – Instruções para subir a uma montanha”, do poeta e investigador Bernardo Pinto de Almeida, e o lançamento do livro “João Queiroz. A Substância da Paisagem”.“João Queiroz é, a meu ver, um dos grandes Artistas portugueses das últimas décadas. Afirmado nos finais dos anos 80 do século XX, viu a sua obra crescer desde então para um pleno que faz dele um dos mais originais, inteligentes e misteriosos Artistas da nossa contemporaneidade”, sublinha Bernardo Pinto de Almeida num texto publicado na página 'online' do Museu de Serralves.Reconhecido pela crítica, prossegue o professor e ensaísta, "é, ainda assim, pelo seu temperamento discreto, menos conhecido do público, apesar de figurar nas principais coleções institucionais portuguesas e algumas internacionais".