André Carrilho ilustra e escreve livro infantil sobre o telemóvel
André Carrilho acaba de lançar A Menina com os Olhos Ocupados, primeiro livro infantil em que não só é o ilustrador como também o autor do texto. E tudo começou porque, como conta o próprio ilustrador do DN, "quando a minha filha fez dois anos, fiquei encarregue de a deitar todos os dias. Criámos um ritual de deitar que incluía ler sempre um livro, uma história. À força de tanto comprar livros para lhe ler e ficar depois no quarto escuro a dar-lhe a mão enquanto ela adormecia, fui pensando nas minhas próprias histórias. Acabei por escrever rapidamente dois textos, que trazia sempre comigo e um dia, no final de uma reunião, mostrei a uma das editoras da Bertrand, a Bárbara Soares. Ela gostou e mostrou aos responsáveis da Bertrand, que quiseram editar o livro. Isto foi há mais de um ano".
Sintetizando a história, com ajuda da nota de imprensa da própria Bertrand, a menina com os olhos ocupados não vê a carrinha dos gelados, os cãezitos com que se cruza na rua, os amigos. Nem sequer vê girafas, golfinhos, piratas, discos voadores e montanhas-russas. Até que um dia o telemóvel parte-se, ela levanta a cabeça e... descobre o mundo que tem estado à sua espera.
Colaborador de longa data do DN, André Carrilho tem visto também as suas ilustrações publicadas em títulos estrangeiros como The New York Times, The New Yorker, Vanity Fair, New York Magazine, Independent on Sunday, NZZ am Sonntag, Harper's Magazine ou New Statesman. As suas criações vão desde a caricatura, e de músicos a políticos ninguém escapa, até ilustrações de teor mais opinativo como as que todos os sábados assina da edição semanal impressa do DN. No último 25 de Abril ilustrou também a primeira página do jornal com um tema a juntar a onda de esperança de 1974 (ano em que também nasceu) com a esperança de sairmos desta pandemia de 2020. E essa ilustração é agora arte urbana em Lisboa, num muro junto à estação de Sete Rios.
O ilustrador admite que ter filhos pequenos o inspirou nesta aventura: "Sim. Comecei a ter necessidade de falar com eles de determinados assuntos, e reparei que com livros se criavam oportunidades ideais para o fazer. Como não encontrei livros que falassem dos temas específicos que eu queria abordar, comecei a escrevê-los eu".
Sobre o impacto dos novos tempos criados pela covid-19, André Carrilho admite que "a pandemia veio criar alguma areia na engrenagem criativa. É um assunto que envolve tudo e contamina todos os aspetos da realidade". Acrescenta que "fez com que muito do que pensava fazer ficasse em pausa, mas também criou urgência de registar a época extraordinária que vivemos. Num certo sentido tirou-nos o interesse por algumas coisas mundanas, um desejo de criação mais lúdico, mas por outro lado focou a nossa atenção em assuntos de vida ou morte. Talvez seja por isso que acho que alguns dos trabalhos que fiz neste período são dos melhores que já fiz".
Pois então há agora para descobrir um livro infantil, escrito pelo pai de uma menina de quatro anos e de um menino de dois, que aborda um desafio com que todos os pais se identificam: como afastar os filhos dos telemóveis?