Cultura
11 agosto 2022 às 05h00

O surpreendente rejuvenescimento do Predador

Direto para o streaming, Predador- Primeira Presa mais um Predador, mas desta vez com cinema. A cortesia é de Dan Trachtenberg, cineasta que reinventa um franchise que andava moribundo. Em fórmula prequela e a colocar o monstro-alien em confronto com índios apaches.

E quando se pensava que a Fox, agora Disney, tinha encomendado mais um tomo desnecessário da já fatigada e mitiga série de filmes da franquia Predador, eis que há uma pequena surpresa: Prey é talvez o segundo melhor filme com o monstro vindo do espaço, só ficando atrás do inesquecível original de John McTiernan, o primeiro Predador, de 1987, no qual se fundia um conceito de ficção-científica com o thriller de terror. Como é possível? Uma premissa diferente e um cineasta inteligente. Agora estamos na presença de uma prequela, sem meta linguagem, sem humor de referência pop (o último, de Shane Black não era um mero disparate mas não cumpria em pleno o que prometia) nem cruzamentos com o Alien. Uma história que nos leva até ao tempo dos Apaches em 1700 e aborda um período específico da História dos EUA nas Grandes Planícies, em especial com a chegada de novos colonos e o confronto com os índios. E é desde cedo que, quase em jeito de western, se percebe que o monstro das tranças e de sangue verde, Predador, está naquela região em missão de caça. Primeiro, caça os animais selvagens da floresta, logo depois os apaches que se cruzam no seu caminho. Como sempre, um extraterrestre com instinto assassino letal, capacidade tecnológica para disparar, força devastadora e a capacidade de ficar invisível. A única coisa que ele não estava à espera era ser confrontado por uma jovem, Naru, guerreira destemida e com uma capacidade genial de detetar pontos fracos. Curiosamente, este predador é fortemente machista: nem a ataca pois julga que a rapariga não é perigo para a sua sobrevivência.

Predador- Primeira Presa tem muito sangue, gore e uma coreografia de violência extrema mas sempre que pode puxa brasa à sardinha do "girl-power". Este é um filme de heroína e onde a estupidez e altivez dos homens é explorada, mas o que faz dele espetáculo recomendável é a sua fluidez de ritmo e um suspense que chega em crescendo. O duelo monstro-homem está cheio de bons ganchos de argumento e a tensão nasce de uma realização que sabe explorar os silêncios do medo e dos jogos de caça, algo que Dan Trachtenberg já mostrava em 10 Cloverfield Lane e na série The Boys, ou seja, alguém a filmar combates e ação com uma criatividade mais clássica do que "cool".

E é também no cuidado de apresentar aos poucos o predador que Trachtenberg ganha embalagem para criar o respeito e pavor que a personagem emana, algo que já não acontecia nos anteriores filmes Predator. Um cineasta que não quer inovar mas que acaba por ser refrescante, sobretudo na maneira de nos colocar literalmente num terreno de floresta e prados, paisagem filmada com uma elegância a todos os títulos invulgar.

Se era necessário ficarmos a saber como Predador chegou à Terra, não, não era, mas é mesmo importante realçar a surpresa de um filme que nos agarra à cadeira sem contemplações. Foi feito para o grande ecrã mas a Disney acreditou que podia gerar mais atenção na Disney +. Talvez não estivessem à espera de todo o hype que está a receber, em especial da crítica.

dnot@dn.pt