Para a História, que tende a guardar manchetes despidas de rosto ou voz, José Duarte ficará como o autor do programa mais duradouro da Rádio em Portugal, "Cinco Minutos de Jazz". Mas, para além da persistência revelada por tal longevidade, convirá acrescentar que o homem que morreu na madrugada desta 5.ª feira, aos 84 anos, foi, a par de Luís Villas Boas (1924-1999),o grande divulgador do jazz em Portugal, trabalho que iniciou ainda em ditadura, quando o panorama radiofónico era dominado pelo nacional-cançonetismo. Exigente, chamava São Sinatra ao cantor norte-americano, em quem (ou)via muito mais do que um crooner, venerava Billie Holiday e não baixava a fasquia. Mas era também um comunicador nato e um pedagogo, que, em meados dos anos 1990, foi explicar aos meus alunos na Universidade Lusófona que o jazz também era pensamento contemporâneo (tema da cadeira em causa). Ou que tendo lido o meu texto sobre o filme Terminal de Aeroporto, no JL, me telefonou a perguntar por que razão não falara dos músicos de jazz que o protagonista (interpretado por Tom Hanks) procurava em Nova Iorque. Eram, entre outros, Count Basie, Dizzie Gillespie, Lester Young, Thelonious Monk, Gerry Mulligan e Sonny Rollins, e o José Duarte tinha toda a razão: Era imperdoável eu não ter falado deles.