Como é que a Fundação Gulbenkian, e a sua orquestra e coro, aparecem na sua carreira?
Sou péssimo a lembrar-me de datas, mas talvez tenha sido nos Anos 2000 que vim pela primeira vez à Gulbenkian. E sendo Risto Nieminen, o atual diretor musical da fundação [Gulbenkian], finlandês, tem bons contactos com artistas da Finlândia. Aliás, o mundo está cheio de maestros finlandeses e é fácil convidá-los. [Risos] Mas tenho a certeza de que não fui convidado apenas por isso, mas sim porque seria bom para a orquestra. Antes disso só tinha estado uma vez em Lisboa, quando participei num concurso de maestros aqui, nos Anos 1990. Vim representar o meu país, mas fui péssimo, correu muito mal e não consegui passar às finais da competição - que decorreram no auditório da Gulbenkian. Mas lembro-me de me ter divertido muito em Lisboa. Por isso tenho memórias um tanto estranhas da cidade e deste auditório. E retive a atmosfera deste local: a arquitetura, o jardim, a coleção de arte..., nós finlandeses, aliás, os escandinavos, prestamos muita atenção aos espaços e à arquitetura. Estar no meio da cidade, num edifício dentro de um parque, como este, é uma experiência tanto física, como mental. Depois tenho regressado praticamente todas as temporadas e tenho vindo dirigir coisas diferentes. Resumindo, vim para aqui por vários acontecimentos e a vida, por vezes, é uma surpresa. Foi uma boa coincidência, porque deixei de dirigir, ao fim de dez anos, a Radio Symphony Orchestra da Finlândia para ser maestro da Ópera Nacional da Finlândia, o que foi algo natural, porque a ópera foi o que me fez querer ser maestro. Contudo, ao longo do tempo, e à medida que fui dirigindo orquestras sinfónicas, percebi que precisava das duas vertentes, para me dar equilíbrio. Como as temporadas de preparação das óperas são longas, percebi que podia juntar as duas coisas e daí surgiu a oportunidade para ser maestro titular da Gulbenkian. Como conheço a orquestra e o coro, e aquilo de que são capazes, e conheço o ambiente da Fundação, vim. E, claro, vindo da escura Finlândia para aqui é quase como chegar a outro planeta.