A ópera está dividida em cinco atos e passa-se no Aeroporto de Lisboa.
A ópera está dividida em cinco atos e passa-se no Aeroporto de Lisboa.Bruno Simão

‘Adilson’: uma ópera de Dino D’Santiago sobre justiça social e discriminação

A primeira ópera crioula, de Dino D’Santiago, estreia esta sexta-feira e vai estar em cena no Centro Cultural de Belém até domingo, dia 14 de setembro.
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Eu não sou português. Eu sou Portugal. Um país à espera”. Quem diz esta frase é Adilson na primeira ópera crioula de Dino D’Santiago. Esta peça estreia hoje, dia 12 de setembro, e vai ficar em cena no Centro Cultural de Belém até domingo, dia 14 de setembro.

A peça baseia-se na história real de Adilson Correia Duarte, amigo de infância de Dino D’Santiago, que nasceu em outubro de 1983, na cidade de Luanda, sendo filho de pais cabo-verdianos que passaram por Angola, antes de emigrarem para Portugal. Adilson vive em Portugal desde os seus 11 meses e só saiu uma vez do país para ir a Marselha. No entanto, com 42 anos, continua sem cidadania portuguesa, apesar dos esforços da mãe. Ao longo da peça é possível ver também pequenas histórias parecidas de outros.

A personagem principal é um amigo de infância de Dino D'Santiago.
A personagem principal é um amigo de infância de Dino D'Santiago.Bruno Simão

A ópera está dividida em cinco atos e Dino D’Santiago mostra-se polivalente, sendo responsável pelo conceito, encenação, libreto e dramaturgia - a partir do texto original Serviço Estrangeiro de Rui Catalão -, partilhando a composição e produção musical com Djodje Almeida. A direção musical é de Martim Sousa Tavares.

O espetáculo é maioritariamente passado no aeroporto Humberto Delgado, em Lisboa. Durante a ópera são abordados temas como a injustiça social, a discriminação, a fragilidade humana e a esperança. A peça termina com uma atuação de dança de quem inspirou a ópera e esta história, Adilson.

Adilson ficou preso numa teia de mais de 400 mil processos de autorização de residência pendentes e problemas no antigo SEF e na AIMA. Um caso com que muitos atualmente se identificam em Portugal.

Além da participação especial de Adilson, a ópera conta com interpretação de Michelle Mara, Cati, NBC, Soraia Morais, Koffy, Rebeca Reinaldo e Rúben Gomes, e resultou de uma encomenda da BoCA - Bienal de Artes Contemporâneas. Foi John Romão, o curador da Bienal, quem desafiou Dino D’Santiago a criar uma ópera.

“O Dino D’ Santiago é um entusiasta, e eu aprecio muito esse seu entusiasmo, esse ativismo, essa energia que ele aplica em tudo o que faz”, disse John Romão ao DN, quando se lhe perguntou a reação do músico ao convite que lhe foi feito para criar uma ópera.

Não é a primeira vez que o músico sai da sua zona de conforto, lembra o curador. “Na última edição da Bienal, em 2023, convidámo-lo para ser curador musical das ações performativas do projeto do Gabriel Chaile, a instalação Alcindo Monteiro, no MAAT. Portanto, tínhamos já este percurso, este trajeto, mais como curador, e eu gosto muito de trabalhar com artistas que têm interesse em diferentes territórios e formatos. Normalmente são artistas que têm gosto em experimentar”.

Além disso, acrescenta John Romão, “o Dino, temos visto, está cada vez mais ativo também no desenho, na pintura, e isso também era mais um sinal de que ele poderia ter interesse em experimentar um outro formato que não conhece, a ópera, que nunca tinha feito”.

O curador mostra-se “confiante” no resultado do trabalho do músico, que pode ser visto em palco a partir de hoje.

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