Gal Costa vivia desde 1998 com Wilma Petrillo. Adotou Gabriel em 2007 quando este tinha dois anos.
Gal Costa vivia desde 1998 com Wilma Petrillo. Adotou Gabriel em 2007 quando este tinha dois anos.Global Imagens

A viúva, o filho e a namorada dele brigam pela herança de Gal Costa 

Cantora morreu em novembro de 2022 mas não sai dos noticiários no Brasil por causa da luta palmo a palmo entre Wilma, empresária e suposta companheira da artista, e Gabriel, o filho que ela adotou.
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“Quem é Wilma Petrillo?”, pergunta a reportagem do programa Fantástico, da TV Globo, à própria Wilma Petrillo, viúva e empresária de Gal Costa. “Sou uma pessoa maravilhosa, do bem, alvo de inveja por ser sempre a mais bonita da turma”, define-se ela. Confrontado pela repórter com a mesma pergunta, Gabriel Costa, filho de Gal, responde logo a seguir: “Wilma? É uma mercenária, uma mentirosa, uma víbora, uma maluca”. Um ano e meio após a morte da artista, aos 77 anos, a relação entre as duas pessoas que viviam com ela num apartamento em São Paulo não podia, portanto, ser pior.

Wilma Petrillo e Gabriel Costa divergem sobre a causa da morte de Gal, dividem-se em relação à exumação ou não do cadáver, discordam sobre o lugar onde ela desejava ser enterrada e, acima de tudo, disputam a herança da cantora, num folhetim sem fim à vista que vem prendendo a atenção do Brasil.

Gal Maria da Graça Penna Burgos Costa, nascida a 26 de setembro de 1945 em Salvador, na Bahia, eleita pelas revistas Rolling Stone e Time uma das melhores cantoras do mundo e ícone do movimento artístico Tropicália, ao lado dos amigos Caetano Veloso e Gilberto Gil, vivia desde 1998 com Wilma Petrillo. Segundo amigos, não se conseguia distinguir exatamente onde acabava a relação profissional e começava a sentimental entre elas.

Já Gabriel foi adotado por Gal em 2007, quando tinha dois anos, e desde então viveu com a mãe e com Wilma.    

Após a morte de Gal, na madrugada de 9 de novembro de 2022, Wilma pediu a abertura do inventário dos bens da cantora, avaliados em cerca de 20 milhões de reais (perto de 3,7 milhões de euros). E requereu ainda o reconhecimento de união estável com a companheira e a guarda provisória de Gabriel, ainda menor de idade à época. O filho assinou mesmo um documento reconhecendo a união entre Gal e Wilma e disse, em audiência, considerar esta última “uma segunda mãe”.

Mas no último ano, Gabriel mudou de opinião e recorreu, em fevereiro, aos tribunais a pedir a anulação da união estável e, por isso, a fração da herança reivindicada pela viúva.

“Essa gente que está falando que eu teria manipulado Gal, na verdade, está falando mal da própria Gal”, disse Wilma ao jornal Folha de S. Paulo. “Ela sabia muito bem o que queria e com quem queria andar”. De acordo com a empresária, as duas tinham “uma cumplicidade muito grande e um amor maior ainda”. Gabriel discorda: “Elas tiveram uma relação bem breve e ela virou empresária, amizade só”.

“Aliás”, prossegue o filho, “elas brigavam feio todos os dias, tinham relação tóxica”. “A nossa relação? Era harmoniosa”, rebate Wilma.

A viúva diz que ela, como Gal, também era mãe do menino, adotado após uma visita da dupla a um orfanato. “Eu fui mãe de Gabriel, sim, porque cuidei muito dele. Se eu viajava, trazia malas de brinquedos para ele e até o levava na casa dos amiguinhos”. Mais uma vez, o filho de Gal desmente: “Só depois que ela morreu, a Wilma me começou a chamar de mãe, para ter o poder sobre a herança, para ser herdeira junto comigo, eu nunca me senti filho de duas mães, minha única mãe é a Gal Costa”.

Quanto a valores, Wilma revela que Gal era chapa ganha, chapa gasta. “Você acha que eu fiquei com o dinheiro dela? Gal ganhava muito, mas gastava demais. Ela torrava o dinheiro, não tinha noção de diferenciar 100 dólares de 100 reais”. “Ela falou para mim que não há nada, que não sobrou nada”, queixa-se Gabriel Costa, que pede a quebra de sigilo bancário de Wilma. “Sei que há móveis e que há imóveis”, diz ele, enquanto na imprensa se especula com contas no estrangeiro, obras de arte ou joias. “As joias nas fotos dos concertos eu pegava emprestadas, como se faz nos EUA”, reage Wilma, “a dívida é que é grande, a herança é pequena”, completa.

Segundo Wilma, a mudança repentina no comportamento de Gabriel deve-se à nova namorada dele, 30 anos mais velha. “Ele namorava, antes da morte de Gal, uma amiga da escola bonitinha, numa crise do casal, a mãe dela aproximou-se do menino”, conta a empresária. Segundo ela, a nova namorada, de nome Daniela, disse a Gabriel ter ido a um centro espírita onde lhe foi revelado que os dois eram amantes na encarnação passada.

“Essa tal da Daniela é uma mulher horrorosa, pavorosa, medonha, de dar medo”, diz Wilma. “Ela quer me tirar da parada, ela quer administrar os bens dele, eu não tenho raiva dele não, porque eu sei que não é ele”, completa. Gabriel diz não querer entrar “em questões íntimas” mas garante que não foi influenciado por ninguém. “A não ser pelos meus advogados, claro, que me ajudaram”.

Luci Nunes, advogada dele, disse ao portal UOL que a namorada do filho de Gal “é uma pessoa bem-sucedida profissionalmente” e “não precisa da herança” deixada pela cantora.

Autópsia e velório

Diagnosticada com cancro meses antes da morte, Gal faleceu após se sentir mal, em casa, num dia em que se submetera a uma sessão de radioterapia. A certidão, entretanto, relata que o óbito decorreu de um enfarte. Embora estivessem ambos presentes no momento do falecimento, Wilma e Gabriel discordam da conclusão.

O corpo de Gal foi direto de casa para o velório, sem passagem pelo Instituto de Medicina Legal, como seria normal, porque Wilma não quis autópsia: “Lembrei-me que um dia assistíamos a um programa sobre autópsias e ela disse ‘Deus me livre de deixarem fazer isso comigo’”. “Foi tudo muito repentino”, diz Gabriel, “quero ter a certeza de que ela morreu de paragem cardíaca”, justificando o pedido de exumação do corpo.

“Ele desconfia que eu matei a mãe dele, é isso?” pergunta Wilma, na reportagem do programa Fantástico. “Acho que ela não chegaria a esse ponto”, diz o filho.

Gabriel exige, por outro lado, que o corpo, enterrado em São Paulo, seja trasladado para o Rio de Janeiro, onde amigos e familiares de Gal garantem que ela queria ficar, ao lado da falecida mãe, Mariah. Wilma, porém, sublinha que Gal foi enterrada na cidade onde vivia porque foi eleita “cidadã paulistana” e “amava a cidade”.

Fãs da cantora, entretanto, questionaram o velório, muito aquém do merecido por uma artista da sua dimensão. Em entrevista à Folha, Wilma ironizou: “O caixão custou 12 mil reais [2200 euros]. O que eles queriam? Bandas de música?”.


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